O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu, nesta terça-feira (23), a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) com discurso marcado por críticas a medidas unilaterais de governos estrangeiros, defesa da democracia e apelo pelo combate à fome no mundo.
Lula afirmou que não há justificativa para “medidas arbitrárias” direcionadas ao Brasil e classificou como “inaceitável” qualquer ingerência em assuntos internos, em referência às recentes sanções impostas pelos Estados Unidos contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Não há pacificação com impunidade”, declarou.
O presidente também mencionou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, sentenciado no início do mês a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.
Lula ressaltou que foi a primeira vez em 525 anos de história do Brasil que um ex-chefe de Estado foi responsabilizado judicialmente por atacar a democracia.

Defesa da democracia e combate à desigualdade
Ao longo de sua fala, Lula afirmou que “a pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo” e destacou a importância da redução das desigualdades como base para sociedades democráticas sólidas.
O presidente ainda comemorou o anúncio da FAO de que o Brasil voltou a sair do mapa da fome em 2025, mas lembrou que 670 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo.
“A única guerra em que todos podem sair vencedores é a travada contra a fome e a pobreza”, disse, ao citar a Aliança Global contra a Fome lançada no âmbito do G20, que já conta com o apoio de 103 países.
Lula defendeu que a comunidade internacional revise suas prioridades, com menos recursos destinados a guerras e mais investimentos em desenvolvimento. Entre as propostas apresentadas, citou o alívio da dívida externa de países pobres, a definição de padrões mínimos de tributação global e a necessidade de que “os super-ricos paguem mais impostos que os trabalhadores”.
Críticas às sanções e ao enfraquecimento do multilateralismo
Lula também alertou para o que chamou de crise do multilateralismo e aumento do autoritarismo global. Segundo ele, as intervenções unilaterais e sanções arbitrárias têm colocado em xeque a autoridade da ONU.
“O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades. Quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas”, afirmou.
O presidente brasileiro classificou como “trágica” a tentativa de interferência do governo de Donald Trump no julgamento do STF sobre Bolsonaro. Entre as medidas adotadas pelos EUA estão tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e o cancelamento de vistos de integrantes da Corte.
Na véspera, o governo norte-americano anunciou ainda sanções contra Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro. Em nota, o governo brasileiro reagiu com “profunda indignação” e disse que não se curvará às pressões externas.
Reações na Assembleia
Trump foi o segundo a discursar após Lula. Apesar das críticas feitas pelo presidente brasileiro, o ex-chefe da Casa Branca elogiou Lula, a quem chamou de “homem muito agradável”, e afirmou que pretende se encontrar com ele na próxima semana.

*Com informações da Agência Brasil