“Bandido armado com fuzil é uma ameaça”, disse o general João Camilo Pires de Campos. O militar traz para o governo João Doria a experiência de ter tido uma tropa da sob seu comando empregada no complexo da Maré, no Rio, para a garantia da lei e ordem. Era 2014. Ele chefiou por duas vezes o Comando Militar do Sudeste, antes de passar para a reserva e assessorar o ex-governador Geraldo Alckmin na campanha eleitoral.
Em seus 48 anos no Exército, exerceu oito comandos, entre eles o da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, responsável pela formação dos futuros generais. A partir de janeiro, será o Secretário da Segurança. “Só há uma técnica para ter a admiração dos subordinados. É comandar pelo exemplo.” Leia a seguir a entrevista do militar ao jornal O Estado de S. Paulo.
Um tema discutido nesse ano foi a questão do excludente de ilicitude nas ações policiais…
Olha, eu já empreguei tropa em operação de garantia da lei e da ordem; tropa minha. Já participei de patrulhas com eles. Bandido tem no mundo todo, mas bandido armado de fuzil só aqui tem. Esse cidadão precisa ser considerado uma ameaça. Eu perdi um cabo de uma tropa minha, da brigada de Campinas, atuando no complexo da Maré, no Rio. Perdi o cabo Mikani (Michel Augusto Mikani), que tomou um tiro de um marginal em uma laje; de uma laje que eu não posso subir – até para preservar o morador daquela residência – sem um mandado. Tenho de esperar o cidadão manifestar a ameaça, mas ele armado já é uma ameaça.
Era a regra de engajamento (normas de conduta dos militares para o emprego da força na operação). Não era?
É a regra de engajamento. A sociedade brasileira tem de decidir isso aí. Aquele cidadão armado, apontando uma arma, ele é uma ameaça, ele está com um fuzil. Então, eu tenho que a convicção de que isso é um estudo que está amadurecendo, isso está sendo muito dito pelo governador do Rio (Wilson Witzel, que defende o uso de snipers para abater bandidos com fuzis) e é o que vai chegar a um ponto de concordância. Não é fácil estar em uma comunidade horizontal, tomando tiro de cima para baixo; e você, às vezes, vendo o cidadão armado com fuzil; e você se embrenhando para proteger sua tropa. A perda de um combatente tem um custo terrível. Eu rezei a vida toda para não perder um combatente, um companheiro em combate, mas infelizmente aconteceu. A verdade é a seguinte: bandido armado de fuzil é ameaça.
O Estado tem nos últimos anos registrado queda de homicídios, o mesmo não acontece com os roubos. Como o senhor pretende enfrentar esses crimes?
Eu tenho convicção de que essa é uma frente que precisa ser atacada e com muita intensidade. Vamos analisar como aprofundar esse combate, que hoje já é realizado pelas polícias. Mas eu preciso de um tempo para tomar pé da situação.
O senhor quer a transferência de líderes de facções criminosas, para presídios federais?
O combate às facções é uma prioridade do governo Doria. Qualquer anúncio agora seria imprudente. Isso merece um estudo para definir linhas de ação, são duas secretarias envolvidas: Segurança e Administração Penitenciária.
Como enfrentar a falta de pessoal nas duas polícias?
O governador assegurou que vai recuperar esses claros (falta de pessoal). É fundamental. A valorização do policial não é só melhorar a remuneração. Eles são profissionais honrados. Não é fácil sair de sua casa podendo ser alvo de alguém. Ele precisa fazer cursos, precisa de equipe jurídica para defendê-lo e de apoio social.
As polícias têm denúncias de corrupção e de excesso no uso da força. Como evitar desvios?
As corregedorias são fundamentais para a preservação das instituições e serão extremamente valorizadas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.