Mais célebre delator do País, o bilionário Joesley Batista, um dos donos da JBS, esforçava-se para levar rotina discreta desde que foi autorizado a deixar a prisão, em março deste ano, após passar seis meses no cárcere.
A vida reclusa, como fontes próximas ao empresário classificaram ao Estado seu dia a dia, era, em parte, consequência das limitações impostas pela Justiça. Para responder em liberdade, ele fora proibido de participar da gestão de suas principais empresas e de fazer viagens para o exterior.
A rotina derivava também do receio da reação das pessoas caso voltasse a circular por restaurantes badalados e eventos da alta sociedade de São Paulo – o irmão Wesley chegou a ser hostilizado em uma churrascaria paulistana enquanto almoçava com filhos e neto.
De tornozeleira eletrônica, Joesley passava a maior parte de seu tempo em sua casa, no bairro do Jardim Europa, onde é vizinho dos pais e de Wesley. O empresário evitava aparecer na sede da J&F e da JBS com receio de sua presença ser interpretada como infração às exigências da Justiça. Amiúde, porém, visitava o instituto Germinare, braço social da J&F.
Com a limitação judicial para viagens ao exterior e a necessidade de demonstrar austeridade financeira e de aparentar hábitos mais simples, Joesley colocou à venda seu apartamento em Nova York – que já encontrou comprador -, sua casa no balneário de Angra dos Reis e seu iate, que ainda buscam interessados. Vez ou outra, o empresário refugiava-se em uma de suas fazendas acompanhado da família, segundo uma fonte próxima. Sua mulher, a ex-apresentadora de TV Ticiana Villas Boas, está grávida do segundo filho do casal e do quinto de Joesley, que tem outros três do primeiro casamento.
Delação. O empresário ocupava-se de forma incessante dos processos que resultaram de sua delação. No total, foram mais de cem inquéritos abertos em diversos Estados a partir das informações de sua colaboração premiada. Havia documentos a juntar e depoimentos a prestar. Desde março, quando deixou a prisão, foram ao menos 30 depoimentos, em várias cidades, incluindo Belo Horizonte, Brasília, de acordo com levantamento da defesa.
As obrigações do acordo tomavam tanto seu tempo que Joesley costumava brincar com os delegados que tomavam seu depoimento que havia se tornado “funcionário da Polícia Federal em tempo integral”.
Alijado dos negócios, legou as decisões do conglomerado que tocava ao lado de Wesley a outros integrantes da família. A holding do conglomerado J&F, que era por ele presidida, passou a ser comandada pelo sobrinho José Antônio Batista.
O grupo, que conseguiu promover uma reestruturação financeira após a crise desencadeada pela divulgação da delação dos irmãos, ainda enfrenta dificuldades. Recentemente, entrou em disputa societária com a multinacional Paper Excellence, que havia firmado acordo para comprar a fabricante de celulose Eldorado.
Inesperado. A prisão pegou Joesley e os familiares de surpresa. O empresário se preparava para viajar a Brasília na segunda que vem para prestar depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), passo que considerava importante na defesa da manutenção de seu acordo. Planejava passar o fim de semana debruçado sobre o caso e reunindo documentos. Fazia cálculos sobre os próximos passos, mas mão imaginava ter de retornar oito meses depois à prisão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.