A reestruturação organizacional da Coca-Cola na América Latina está gerando ruído. Na mudança, recém-anunciada, o presidente da Coca-Cola Brasil, Henrique Braun, assumiu o comando da operação do grupo na região, que passará a ter três novas zonas geográficas. O Brasil, que era independente, vai fazer parte da Operação Sul, junto com Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e Paraguai.
Na estrutura anterior, esses outros países ficavam reunidos na unidade de negócios “South Latin”, sediada na Argentina. Ontem, após a publicação de reportagens afirmando que a companhia vai transferir sua sede na América Latina de Buenos Aires para o Rio de Janeiro, a Coca-Cola Argentina publicou um post no Twitter “desmentindo categoricamente” a transferência de suas operações no país presidido por Alberto Fernández.
Na postagem, a multinacional reafirma seu compromisso com a Argentina e anuncia um investimento de 770 milhões de pesos na reativação econômica do país. Diz ainda que a companhia e suas operações industriais (engarrafadoras) seguirão com atividades normais.
A Coca-Cola está na Argentina há 78 anos. Lá opera 11 fábricas e tem 264.258 clientes, sendo 90% deles quiosques e mercadinhos de bairro. A fabricante de bebidas realiza compras anuais de US$ 500 milhões em insumos e produtos locais. A companhia gera 12 mil empregos diretos e 160 mil indiretos.
Nesta quinta-feira, o Ministro das Comunicações do Brasil, Fábio Faria, também recorreu à rede social, mas para comemorar o “golaço” brasileiro. “Urgente!! Coca-Cola transfere sede regional da Argentina para o Brasil. Sua sede será transferida para o Rio de Janeiro. A operação de coordenação das filiais de Peru, Bolívia, Paraguai, Chile passará, assim, da Argentina para o Brasil”, disse na postagem feita às 11h31.
Para Faria, isso mostra que o Brasil “está no caminho certo, com mais liberdade econômica, um ambiente de negócios melhor, mais segurança e menos corrupção”. A reportagem questionou a assessoria de comunicação do ministério sobre a fonte da informação, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
A Coca-Cola Brasil afirma que não há confirmação de mudança de sede, embora a Operação Sul tenha sido designada ao também brasileiro Luis Felipe Avellar, até agora à frente das operações da África do Sul – onde ainda está baseado fisicamente. A Coca-Cola não confirmou se ele ficará no Rio.
O que foi confirmado até aqui é que a multinacional está realizando uma reorganização global em sua estrutura “com o objetivo de acelerar sua estratégia de crescimento” e “combinando a capacidade de sua escala global com as necessidades locais”.
Na América Latina, isso passa pela criação das novas zonas geográficas, que vão trabalhar em colaboração com lideranças globais a partir de 1º de janeiro de 2021. Além da Operação Sul, haverá ainda a Operação Norte (México), sob o comando de Roberto Mercade, e a Operação Central (Colômbia, Equador, Venezuela, Peru e outros países da América Central e do Caribe).
Todos eles ficarão sob comando de Braun, no momento acumulando os chapéus de presidente da Coca-Cola Brasil e da América Latina.
A Argentina passa por um momento econômico delicado. Com uma inflação anual de mais de 40%, está em recessão desde 2018. A pandemia da covid-19 atingiu fortemente sua economia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o país fechará este ano com uma contração de 9,9% do Produto Interno Bruto (PIB).