Diversas organizações de mulheres negras goianas realizam o Encontro Estadual de Mulheres Negras nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, em Goiânia, na sede do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás, no Setor Vila Nova.
Com a temática Reparação e Bem Viver, a reunião objetiva a formação de comitês e equipes de trabalho, para a construção da Marcha Nacional de Mulheres Negras 2025, que acontecerá em Brasília.
Como temas orientadores em prol da reparação e do bem viver, o encontro visa fortalecer o enfrentamento do genocídio negro, a ampliação da participação política das mulheres negras em espaços de decisão (sobretudo, reparação histórica e bem viver), além de pontuar temas como justiça climática e ambiental, devido aos ataques ao bioma Cerrado, território de vida e luta por direitos das mulheres.
São aguardadas cerca de 500 participantes para o final de semana. Segundo as organizadoras, será um encontro de centenas de lideranças.
Mulheres diversas, oriundas das comunidades quilombolas, de matriz africana, de tradições culturais negras, artistas, intelectuais, mulheres do campo e das periferias urbanas para tratar do tema Reparação e Bem Viver.
Mais sobre o Encontro Estadual de Mulheres Negras
Segundo Janira Sodré, fundadora da Coletiva Pretas de Angola e coordenadora do evento, o encontro é parte da preparação para as atividades da Marcha de Mulheres Negras 2025, a ocorrer em Brasília, no próximo ano. E conta com uma programação marcada palestras, debates, grupo de trabalhos e apresentações culturais.
O encontro da Região Centro-oeste, ocorrido em Brasília nos dias 23 e 24 de novembro de 2024 é parte desta construção e também contou com a presença de dezenas de lideranças, inclusive de Goiás.
Segundo historiadora, professora universitária e fundadora da Coletiva Pretas de Angola, Janira Sodré, o Movimento de Mulheres Negras se transformou na expressão do movimento social brasileiro mais capilarizado na sociedade, de modo que em todos os âmbitos e setores há mulheres negras politicamente organizadas.
“É a partir desta ampla coletividade que viemos experimentando reflexões e práticas de Bem Viver como perspectiva orientadora do projeto de Nação que queremos para o Brasil”, destaca.
A educadora ainda evoca as tradições e a memória ao afirmar que o projeto vem de tessituras ancestrais do acúmulo das mulheres e comunidades negras em luta, pois “bebe das águas e culturas dos povos originários – nossas parceiras e parceiros históricos, e se ancora no sonho de criação de futuros possíveis para meninas e mulheres negras, e por consequência, para todos os sujeitos e povos do Brasil”, pontua.
Nos últimos 50 anos, vale ressaltar, que a ação política das mulheres negras promove o reconhecimento do racismo e da discriminação racial como fatores de produção e reprodução das desigualdades sociais experimentadas pelas mulheres no Brasil.
Além disso, reconhece a necessidade de políticas específicas às mulheres negras para a equalização das oportunidades sociais; o reconhecimento da dimensão racial da pobreza no Brasil e, conseqüentemente, o destaque para a influencia do racismo na problemática da feminização da pobreza.
Além disso, o reconhecimento da violência simbólica e a opressão que a brancura, como padrão privilegiado e hegemônico, exerce sobre as mulheres não-brancas; e, a revelação do projeto de genocídio que atravessa de forma sistemática a existência, a vida e a trajetória das populações negras.
Para Janira, o encontro é importante para se discutir o contexto de violências históricas e contemporâneas contra mulheres negras e suas comunidades.
“Por isso, convocamos todas as mulheres negras a insurgir na Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, um marco revolucionário pela transmutação da sociedade brasileira que queremos e merecemos”, enfatiza.