Uma escola em Goiás está sendo investigada pela Polícia Civil (PC) depois que alunos denunciaram que uma palestrante de um evento realizado na instituição pregou a “cura gay”.
No evento, que falava sobre assuntos relacionados à saúde mental, a palestrante teria se apresentado como “ex-transsexual” e feito comentários preconceituosos, segundo os alunos.
Entenda o caso
A palestra foi realizada no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Doutor Mauá Cavalcante Sávio, de Anápolis, no início do ano, mas o caso só veio à tona recentemente.
De acordo com o advogado Alex Costa, membro da comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Goiás (OAB Goiás), os alunos que participaram da palestra têm entre 13 e 17 anos e se sentiram abalados e humilhados com as declarações da palestrante.
“Ela disse que a vida dela estava fadada à condenação, à morte, não se sentia feliz e aceita. Falou que a única solução é ‘destransicionar’, aceitar a identidade de gênero biológica, ir pra igreja, ser cristão, casar com sexo oposto, ter filhos e uma família tradicional”, disse ao G1.
O advogado ainda ressaltou que alguns alunos ficaram incomodados pois são LGBTQIA+ e estão em processo de desenvolvimento da identidade de gênero, por isso, vivem um processo difícil de aceitação familiar e na sociedade.
Além disso, detalhou que, após a palestra, alguns pais disseram que perceberam mudanças de comportamento nos filhos, que ficaram mais isolados e tristes.
Palestra
De acordo com a atual gestão da escola, uma igreja fez três encontros para abordar temas relacionados à saúde mental, com apoio da gestão da época.
Segundo a unidade, não houve, sob qualquer circunstância, qualquer debate, ensinamento ou promoção da chamada “cura gay”.
Nas rede sociais, a instituição religiosa disse que as informações sobre a palestra não são verdadeiras e, além disso, não acredita na existência da “cura gay”.
Em nota, a direção informou que não compactua com falas que façam acepção de pessoas e trabalha para promover um ambiente seguro e acolhedor para todos os nossos alunos, independentemente de sua orientação sexual, identidade de gênero, raça, religião ou qualquer outra característica. (Confira a íntegra abaixo)
Já a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) disse que abriu um procedimento administrativo para apurar o caso e afastou a equipe que organizou a palestra até a finalização das investigações. (Confira a íntegra abaixo)
Denúncia
O crime foi comunicado à Polícia Civil na última quarta-feira (25). O delegado Manoel Vanderic, responsável pelo caso, disse que diversas pessoas procuraram a delegacia para denunciar a palestra.
Agora, a polícia deve ouvir alunos, professores e testemunhas para esclarecer o caso. Além disso, a igreja também foi intimada a prestar esclarecimentos.
Posteriormente, será verificado se houve crime de homofobia, atualmente tipificado na lei de racismo.
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Secretaria de Estado da Educação de Goiás
“Em atenção à solicitação de informações sobre denúncia de pregações com conteúdo preconceituoso da igreja ocorridas no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Doutor Mauá Cavalcante Sávio, de Anápolis, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc/GO) informa:
A Seduc Goiás não tem informações oficiais sobre este assunto. Assim que tomou conhecimento do ocorrido, a Secretaria determinou a abertura de um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) para apurar as circunstâncias do fato e adotar a devida responsabilização de todos os envolvidos;
A Seduc Goiás destaca ainda que a equipe gestora responsável pela organização da palestra foi afastada até que os fatos sejam apurados. Uma outra equipe, indicada pela Seduc Goiás, está à frente da direção da escola.
A Seduc Goiás ressalta, mais uma vez, que não corrobora, em hipótese alguma, com quaisquer atitudes, atividades ou ações que firam os preceitos constitucionais e a dignidade humana, sobretudo no ambiente escolar, que deve ser plural;
Reiteramos ainda que todos os esforços têm sido feitos no sentido de promover a paz, o bem-estar e o respeito à diversidade.”
Cepi Dr. Mauá
“Prezados membros da comunidade escolar e público em geral. Queremos reiterar categoricamente que não houve, sob qualquer circunstância, qualquer debate, ensinamento ou promoção da chamada “cura gay” dentro de nossa instituição de ensino.
O CEPI é comprometido com a promoção de valores de respeito, inclusão e igualdade, e estamos empenhados em criar um ambiente seguro e acolhedor para todos os nossos alunos, independentemente de sua orientação sexual, identidade de gênero, raça, religião ou qualquer outra característica.
Repudiamos veementemente quaisquer práticas, terapias ou conceitos que visem “curar” ou “converter” pessoas LGBTQIAPN+ ou que promovam discriminação contra essa comunidade.
Reafirmamos nossa dedicação em manter o CEPI Dr. Mauá Cavalcante Sávio como um local onde a tolerância e a igualdade prevaleçam, e onde todos os alunos possam aprender e crescer em um ambiente de respeito e apoio.
Agradecemos pela confiança que depositam em nossa escola e nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais.