Sair para lanchar com os amigos… Quem nunca se viu diante de um convite para socializar, jogar conversa fora e comer alguma coisa na companhia dos amigos, não é mesmo?! Este foi o convite que deu início ao crime que resultou na morte de Ariane Bárbara Laureano de Oliveira, com apenas 18 anos à época.
Quatro supostos amigos se juntaram em um crime perturbador, planejado e com detalhes sórdidos. Desde o convite, até a música tocada no carro na hora do homicídio revelam como o grupo se organizou para ceifar a vida da jovem. Em depoimento, dois dos acusados deram detalhes sobre suas versões do crime. Confira!
Versões do caso Ariane Bárbara
Raissa Nunes
Em um júri popular de quase 15 horas, dois dos quatro envolvidos na morte de Ariane Bárbara deram suas versões sobre o dia do crime. A primeira surpresa do julgamento veio com a confissão de Raissa, que inicialmente se manteria calada diante do júri.
Durante o interrogatório, a ré disse que decidiu contar toda a verdade após pensar na própria mãe. Mostrando-se arrependida, Raissa disse que não conseguiria dormir se não contasse o que aconteceu.
Raissa contou que morava em uma cidade do interior de Goiás, mas veio para Goiânia para o aniversário da menor envolvida no crime. Segundo Raissa, nos dias em que ficou na capital goiana o crime começou a ser arquitetado.
“Primeiro ela pediu para eu escolher alguém, mas eu não escolhi. Então ela escolheu a Ariane. O plano era para que eu enforcasse ela [Ariane]. Ela [a menor], queria que eu matasse ela [Ariane].”
No dia do crime, Raissa conta que usou cocaína e que, segundo a menor, era para ‘dar mais coragem’. Para atrair a vítima, mandaram uma mensagem chamando ela lanchar, dizendo que a buscariam em casa, pagariam a comida e depois a deixariam na residência. Com todos no carro, seguiram em direção ao Lago das Rosas, onde pegaram a vítima.
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Um dos pontos perturbadores revelados em depoimento, foi a arquitetura combinada entre os envolvidos para dar início no crime. Eles tinham sinais e até mesmo uma música para matar a jovem. Um dos detalhes sórdidos se deu quando Raissa confessou que tentou asfixiar Ariane e que deu a primeira, de oito facadas que ela levou.
“Quando chegou em uma rua mais escura, começou a tocar a música e eu comecei a sufocar a Ariane, mas parei. Depois fui para o banco da frente e a Freya para o banco de trás. Aí a Freya começou a enforcar a Ariane. Ela [a menor] pediu para eu esfaquear. Fui eu quem deu a primeira facada, foi no peito.”
Outro momento marcante do depoimento de Raissa foi o pedido de desculpas à mãe da vítima. Chorando, ela disse que “pediu a Deus para trazer Ariane de volta”.
Ao ser questionada se deveria ser condenada, a ré citou o versículo bíblico de 1 Coríntios capítulo 4 versículos 3 e 4.
³ Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo.
⁴ Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor.
Jeferson Cavalcante
Jeferson Cavalcante, motorista do carro no dia do crime, também confessou a participação durante o júri. Ele chegou a dar detalhes de como o crime aconteceu, sob sua visão. Ele ainda foi o vigia para a ocultação do corpo.
Um dos momentos reveladores do depoimento foi quando o réu disse que presentou Raissa e a menor com as facas utilizadas no crime. Ele teria dado o presente dias antes do assassinato.
Além disso, ele também detalhou que a menor apreendida è época o ameaçou para que participasse do crime. Caso contrário, ela mataria ele e a família dele.
No dia do crime, Jeferson alega que a menor mandou ele tirar a tampa do porta-malas do carro e que o forrasse com plástico. Ele também contou que recebeu instruções para estalar os dedos para começar o homicídio e Freya ficou encarregada de colocar a música.
O detalhe é que, mesmo sabendo que seria cometido um homicídio, Jeferson alegou que não sabia que a vítima seria Ariane, só teve conhecimento momentos antes.
O réu ainda revelou que, depois que Raissa tentou enforcar Ariane pela primeira vez, “ficou um clima diferente no carro”. Mesmo assim, a vítima riu pensando que fosse uma brincadeira.
“Passaram uns minutos, Raissa tentou e não conseguiu de novo. Nisso, a Freya pulou pro banco de trás e deu um mata-leão na Ariane e a Raissa deu a facada, com incentivo de Sarah e Freya”, revelou.
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Ao juiz, Jeferson ainda falou sobre seu relacionamento com Freya (Enzo Jacomini). Disse que a conheceu em um aplicativo de relacionamento e a chamou em uma rede social, mas negou que tenha tido um envolvimento amoroso com ela.
Entretanto, minutos antes, em seu depoimento, Raissa disse que Jeferson e Freya já haviam se beijado.
A menor
Apesar de não prestar depoimento durante o julgamento nesta terça-feira (29), a menor envolvida no caso foi citada diversas vezes pelos acusados, sendo apontada como a ‘cabeça’ do crime.
Durante o debate, o Ministério Público apresentou versões dadas pela adolescente na delegacia à época do crime. Segundo o magistrado do Juizado da Infância, a menor alegou que Raissa queria “saber se era psicopata”, por isso, precisava matar alguém.
Ao juiz, a menor ainda teria dito que não considerava Ariane como amiga, pois não tinha muita intimidade. Sobre Freya ela disse que conhecia apenas da internet e que era amiga apenas de Raissa.
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Questionada sobre o crime à época dos fatos, a menor disse que concordou em apenas dar um susto em Ariane, que supostamente a teria assediado.
“A gente só ia dar um susto. Eu não imaginava que o homicídio ia acontecer. Eu já tinha falado que não ia me envolver isso, que não ia encostar minha mão nela.”
Enzo Jaconimi (Freya)
Enzo Jacomini, que usa o nome social de Freya, passou por júri popular em março deste ano e foi condenado por homicídio e ocultação de cadáver. No julgamento, ele usou o direito constitucional de permanecer em silêncio.
Entretanto, em depoimento na delegacia, ele falou sobre a dinâmica do crime e também sobre a condição de Raissa querer provar um possível transtorno de personalidade.
“Raissa sempre quis matar alguém e que por isso mataria Ariane. E que Jefferson ia estalar os dedos como sinal e quando ele fez isso, Raissa começou a rir e tentou dar um mata leão em Ariane”, disse o depoimento de Enzo.
Ministério Público
Para o Ministério Público, o crime foi cometido pois Raissa queria testar se tinha ou não algum traço de psicopatia. Ariane foi escolhida aleatoriamente, mas levando em consideração sua estatura e peso, que dificultaria as possibilidades de reação.
O promotor Maurício Gonçalves de Camargos, do Ministério Público, todos os envolvidos tiveram a mesma parcela de culpa no homicídio. Além disso, apontou controvérsias entre os depoimentos dos réus e o laudo da perícia.
“O laudo aponta 8 facadas, mas as acusadas não admitem. A materialidade do fato é incontroversa[…] Tire o Jeferson da cena do crime, que a Ariane não teria sido morta como foi”, disse Maurício.
Mãe da vítima
Eliane Laureano, mãe de Ariane Bárbara foi a primeira a ser ouvida durante o julgamento na terça (29). Emocionada, a mãe relembrou como a filha era e como conheceu os acusados.
“Ela gostava muito de dançar, depois ela começou a gostar da pista de skate, que foi quando ela conheceu esses assassinos”.
À época do crime, Eliane disse recebeu um áudio da filha dizendo que ia sair para lanchar, mas nunca retornou para casa. Ela também chegou a receber mensagens da menor pedindo desculpas e revelando detalhes da morte da filha.
Por meio das redes sociais, ela dizia estar arrependida do que fez. “Eu sinceramente não aguento mais a culpa me corroendo”. A adolescente foi apreendida dias depois.
Condenações
Raissa Nunes Borges foi condenada a 15 anos de prisão por homicídio qualificado, por motivo fútil e que impossibilitou a defesa da vítima, e ocultação de cadáver.
Jeferson Cavalcante Rodrigues foi condenado a 14 anos de prisão, por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
De acordo com o promotor Maurício Gonçalves, a menor envolvida no crime foi apreendida e teve a maior punição prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente.