A violência sexual contra mulheres é uma triste realidade que assola o Brasil. E no dia dedicado à elas, um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta um dado alarmante: a cada minuto, duas mulheres são estupradas no país, totalizando cerca de 822 mil casos por ano.
Isso evidencia a vulnerabilidade do público feminino diante desse tipo de violência, que muitas vezes ocorre dentro do ambiente doméstico ou com pessoas conhecidas das vítimas.
Nesse contexto, é urgente a necessidade de se discutir e implementar políticas públicas efetivas para garantir a segurança e a dignidade das mulheres estupradas, além de proporcionar o devido amparo e apoio às vítimas.
A partir dessa estimativa, o Ipea determinou a taxa de subnotificação de estupros no país, que representa a proporção de casos estimados que não são registrados pela polícia ou pelo sistema de saúde. Os resultados indicam que, dos 822 mil casos anuais, somente 8,5% são reportados à polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de saúde.
A situação é preocupante, pois além da falta de punição, muitas vítimas de estupro ficam sem assistência adequada à saúde, uma vez que, como apontam os autores, a violência sexual contra as mulheres é frequentemente associada a problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, impulsividade, distúrbios alimentares, sexuais e de humor, além de ser um fator de risco para comportamento suicida.
O estudo se baseou em informações coletadas pela Pesquisa Nacional da Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNS/IBGE) e pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan), tendo como referência o ano de 2019.
Dados sobre violência contra as mulheres podem ser subnotificados
Sobre as relações entre agressores e vítimas de estupro, existem quatro grupos principais identificados: parceiros e ex-parceiros, familiares (excluindo parceiros), amigos/conhecidos e desconhecidos.
De acordo com os responsáveis pela pesquisa, a estimativa de 822 mil estupros por ano é considerada conservadora. Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo, afirmou que há falta de pesquisas especializadas sobre violência sexual que abranjam todo o universo da população brasileira.
Ele explicou que uma limitação das análises é que elas se baseiam inteiramente em registros administrativos (Sinan), que dependem, em grande parte dos casos, da decisão da vítima ou de sua família em buscar ajuda no Sistema Único de Saúde.
Portanto, o número de casos notificados difere significativamente da prevalência real, já que muitas vítimas optam por não se apresentar a nenhum órgão público para registrar o crime, seja por vergonha, sentimento de culpa ou outros fatores.