Entre os alvos das buscas determinadas pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, no âmbito da Operação Titereiro, desencadeada na manhã de quinta, 5, consta o endereço do delegado Angelo Ribeiro de Almeida Júnior. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, Ângelo teria recebido propina de R$ 2 milhões de Arthur Soares, o ‘Rei Arthur’. A Procuradoria indica que o dinheiro foi pago para beneficiar o empresário em inquéritos e supostamente entregue por meio de Danilo Botelho, filho do ex-secretário nacional de Justiça Astério Pereira dos Santos (governo Michel Temer), preso por ordem de Bretas na quinta, 5.
Entre os principais alvos da ação está o ex-secretário Astério, preso preventivamente sob suspeita de ser sócio oculto de duas empresas que forneciam ‘quentinhas’ à Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e ao Departamento Geral de Ações Sócio Educativas (Degase).
As empresas ligadas a Astério teriam faturado cerca de R$ 20 milhões, dos quais R$ 2,9 milhões acabaram repassados a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado como propina.
Os investigadores atribuem a Astério na Operação Titereiro o papel de ‘manipulador de rede de laranjas, feito marionetes’.
O juiz Bretas mandou prender, além de Astério, outros oito investigados, entre eles o filho do ex-Justiça de Temer, o advogado Danilo Botelho dos Santos.
Danilo é acusado de integrar organização criminosa supostamente chefiada pelo pai por lavagem de dinheiro.
Bretas indica ainda que Danilo também teria auxiliado ‘Rei Arthur’ – empresário investigado por compra de votos para a escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 – no pagamento de propina para o delegado Ângelo.
O magistrado já havia destacado indícios de que o pai de Danilo, Astério, ajudou ‘Rei Arthur’ a fugir para os Estados Unidos a partir de informações privilegiadas. O ex-sub-secretário da Sead Vinícius Lips afirmou que Astério e Arthur eram ‘muito amigos’.
O delator que revelou a suposta ajuda de Astério a ‘Rei Arthur’ também apontou a relação com Danilo. Ricardo Siqueira Rodrigues, sócio do empresário, afirmou que o filho do ex-Justiça de Temer teria realizado aproximação com o delegado Angelo ‘a fim de discutir inquéritos em andamento relativos a Arthur e que, para tanto, teriam iniciado um empreendimento com a finalidade de escamotear o pagamento de propina’.
No depoimento, Ricardo diz que ‘Rei Arthur’ ‘emprestou’ R$ 2 milhões para a abertura do restaurante L’entrecôte de Paris, em Ipanema.
Ele afirmou que não acreditava que o ‘empréstimo’ seria pago, ‘sendo, na verdade, a forma de viabilizar pagamento de vantagens indevidas para que os inquéritos não chegassem a conclusão contrária aos interesses de (Arthur) Soares’.
Após a delação, o Ministério Público verificou que o restaurante tinha em seu quadro societário, até 2019, Danilo e Renata Almeida, mulher de Angelo.
Na decisão que deferiu as buscas contra o delegado e sua mulher, o juiz federal Bretas menciona mensagens trocadas entre Angelo e ‘Rei Arthur’ sobre a instalação do restaurante.
O magistrado destaca conversa em que tratam da saída de Angelo do posto na Delegacia Fazendária e o ‘suposto auxílio que Arthur poderia lhe ofertar na busca por uma nova lotação’.
Bretas considerou que as questões apontadas pela Procuradoria demonstravam a ‘extrema importância’ da autorização da busca e apreensão no endereço de Angelo e de sua mulher para colher documentos que apontem para a relação entre o ex-delegado e Danilo Botelho.
“Isso porque, há indícios do cometimento dos delitos de corrupção passiva e ativa; lavagem de dinheiro; e organização criminosa, sendo a medida de busca meio hábil para robustecer a investigação e, por conseguinte, indicar a autoria e materialidade dos delitos imputados”, indicou o magistrado.
A reportagem busca contato com a defesa do delegado Angelo Ribeiro de Almeida Júnior, do empresário e a defesa do ex-secretário nacional de Justiça.