De óculos, com camisa branca e calça social preta. E o charme da barba roçada. Atuando como funcionário de um escritório, Gabriel Diniz, com um celular na palma da mão se entusiasma com Jenifer no Tinder. E que sorrisão, viu? Que voz! E sai com um violão.
É o início do clipe que popularizou uma das músicas mais ouvidas no Brasil nos últimos anos: “O nome dela é Jenifer”.
Nos rádios, no spotify, no YouTube, nos carros, nos rolês. Todo mundo sabia qual era o nome dela. Regravada por vários cantores, profissionais ou amadores. Virou meme. Virou piada. Virou felicidade. Felicidade como era a vida de Gabriel Diniz, um garotão de apenas 28 anos.
E quantas moças chamadas Jenifer se irritaram com as brincadeiras dos amigos na balada e na faculdade com a música de Junior Lobo, Thawan Alves, Thales Gui e Allef Rodrigues? Hoje, elas se sentiram imortalizadas.
Não é por que o intérprete morreu de forma trágica, inesperada e ruidosa nesta segunda-feira que o Brasil ficou abismado. É o sorriso de Gabriel Diniz que não sai da nossa cabeça. É o sorriso que foi desmanchado pelo horror da tarde do dia 27 de maio que nos abismam e não sai da nossa cabeça.
Saudade da voz de Gabriel Diniz
Da cabeça de quem ia aos seus shows, assistia aos stories no seu perfil do Instagram – que vão desaparecer nas próximas horas -, de quem convivia com ele.
Convivia em ensaios, gravações e viagens pelo Brasil. Gabriel Diniz sorria porque não acreditava no que se transformou. Vivia como se vivesse em um sonho. Um sonho que se transformou em pesadelo quando as imagens de seu corpo enlameado, triste, se espalhou pelas redes sociais.
Nenhum vídeo ou fotografia, no entanto, é maior do que o sonho de Gabriel Diniz.
Ele finalmente conquistou o sonho de milhares de brasileiros. Sair da miséria dos cachês de botequins, andar menos de ônibus por estradas esburacadas e, claro, ficar pertinho dos artistas que tanto admirou.
De admirador, Gabriel Diniz passou a ser admirado pelos grandes do axé, do forró, do sertanejo, do funk. De todos os cantores que viam no sorriso dele que, sim, é possível conquistar os holofotes e manter a humildade.
Uma prova? A repórter da Record TV Goiás Fernanda Arcanjo tem. Entrevistou Adhemar Rocha, um preparador vocal que atua em Goiânia, a capital do sertanejo. Ele contou que Gabriel Diniz, insatisfeito com a própria voz, o procurou. Queria melhorar. Queria mais.
Sem acreditar
O Brasil, acostumado a perder os grandes que sempre querem mais, pareceu não acreditar. Embora existam os que odeiam os outros, os que desprezam os outros, os que ignoram a dor dos outros, Gabriel Diniz é eternizado não pelo sucesso, mas pelo que ele poderia dar de mais importante: o sorriso.
No auge da própria vida interrompida pelo trânsito do ar, Gabriel Diniz presenteou Adhemar Rocha com o livro do escritor Nathan D. Wilson: “Morrer de Tanto Viver”.
Em um trecho, o escritor ensina-nos, como ensinou ao Gabriel Diniz, a evitar as fadigas, as dores, o medo da morte sem ter de fato vivido: “Alugue uma balsa, salte no caiaque mais barato que você encontrar. Coloque um colete laranja inflável e afivele-o (de modo bastante desajeitado) entre suas pernas. Mova o remo. Ignore o filtro solar. Quando tiver acabado, você será irritado de maneiras tão novas e inovadoras que uma queimadura de sol talvez seja um conforto, uma pequena reafirmação formigante de que você ainda é você.”