Fabrício de Moura Lima, de 23 anos, estava errado: não escaparia de um novo atentado a bala três dias depois de registrar Boletim de Ocorrência em uma delegacia de Goiânia.
O jovem negou sair da casa em que vivia com a mãe em uma ruela do Parque Atheneu após três tiros atingirem o portão da residência às 4h da madrugada de terça-feira (19/3). Homossexual, e não travesti ou transexual como o Portal Dia Online publicou aqui, o jovem foi assassinado no domingo (24/3)
“Nós da família pedimos para ele ir para a casa de algum parente no interior, mas ele tinha certeza que os tiros não era para ele”, conta a prima de Fabrício, Paula de Oliveira Lima, de 37.
Paula, desde que viu as primeiras noticias na internet, tenta corrigir erros de informação. Foi o que fez ao procurar o Porta Dia Online. Argumentou que Fabrício, pelo menos ainda, não havia se identificado com o sexo feminino, embora gostasse de roupas femininas.
E outra: o corpo do jovem jamais ficou abandonado na maca de alumínio gelado do Instituto Médico Legal (IML). “Ele tem família e soubemos do crime logo depois. Como fizemos desde que ele era bebezinho, não saímos de perto dele.”
Ela conta ainda que a mãe de Fabrício chegou a ver o filho perdendo as forças por conta do sangramento. “Ela viu os últimos suspiros dele, que parecia dizer mãe. Queria se despedir”, conta, emociona.
Jovem assassinado em Goiânia estava na casa de amigos
O rapaz estava na casa de amigos quando foi chamado ao portão. Segundo testemunhas comentavam com quem se aglomerava próximo ao local do crime à espera do rabecão do IML para recolher o corpo, um homem negro, magro e de baixa estatura, chegou em uma bicicleta.
Quando se aproximou, o homem teria oferecido a bicicleta para a vítima comprar. Assim que Fabrício negou a proposta, o assassino teria tirado a arma da cintura e o baleou cinco vezes. A história da venda da bicicleta, porém, parece ser uma mentira. O atirador fugiu, mas deixou a bicicleta para trás.
Estranhamente, a bicicleta utilizada pelo assassino desapareceu do local do crime.
Divertido, jovem morto após atentado era a felicidade da família e dos amigos
Quando viram o caixão com o corpo de Fabrício sendo sepultado na mesma sepultura do avô, o tenente da Polícia Militar João Mariano Lima e da avó Sinhá de Moura, a pergunta ainda martelava Paula: “quem matou nosso menino?”
Era 18h de segunda-feira (25/3) e os amigos, que costumavam sorrir enquanto bebiam com o jovem, andavam cabisbaixos entre sepulturas do Cemitério Santana.
Não diferente de outros homossexuais, Fabrício desde criança apresentava sinais da orientação sexual. Na infância, gostava de bonecas – e não de futebol. A prima, Fernanda Gomes, filha de Paula, nove meses mais velha que Fabrício, brigava com qualquer um para livrá-lo da homofobia.
Sem dívidas, segundo a família, a causa da morte de Fabrício pode ter sido por causa do jeitão extrovertido que arrancava sorriso até de quem estava triste. “Ele era a nossa felicidade”, lamenta Paula, escapando de perguntas que as respostas, conforme ela, poderiam atrapalhar o trabalho da Polícia Civil.
“Guardo no meu coração todos os momentos que vivemos, por toda a nossa infância grudados, sempre juntos e em defesa do outro. Hoje não só sinto a sua falta, como sinto ter lhe perdido! A saudade ficará mais forte e será eterna”, disse a prima.
A mãe, Lilia Maria de Moura Lima, consegue apenas lembrar que conseguiu falar ao filho para “aceitar Jesus”.
Para a reportagem do Dia Online, a titular da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DEIH), Silvana Nunes, informou que a Polícia Civil está empenhada em investigar o crime. “Policiais do DP da área de da DEIH estão em busca de provas para encontrarmos quem cometeu o crime”, garantiu ela.