Mesmo com o avançar das horas, uma fila de fãs e admiradores foi tomando forma do lado de fora do Museu da Imagem e do Som (MIS), no Jardim Europa, na zona sul de São Paulo, para prestar a última homenagem a Ricardo Boechat. O corpo do jornalista, morto aos 66 anos, vítima de um acidente de helicóptero, só chegaria às 23h20 desta segunda-feira, 11, em um caixão fechado.
Às 6h10 da manhã desta terça-feira, 12, Veruska, mulher de Ricardo Boechat, chegou ao velório: “Meu marido que dizia que era ateu, era o que mais seguia o mandamento mais importante: o de amar ao próximo. Era um coração, uma pessoa sem luxo. Tudo o que conquistou era pensando em mim e nos filhos.”
Por volta da meia-noite, o velório foi aberto ao público. “Não perdia um programa”, comentou a diarista Marly Sudário, de 51 anos, fã que todos os dias o acompanhava na TV e no rádio. Para ela, é o humor de Boechat que vai guardar na memória. “Gostava da risada.”
Entre os presentes, o clima era de consternação. Curiosos também faziam selfies e lives na entrada do MIS. O produtor de eventos e motorista de aplicativo Arnaldo de Freitas, de 34 anos, fez questão de cumprimentar a mulher de Boechat, Veruska Seibel Boechat, que ele só conhecia de ouvir o jornalista falar ao microfone. “Todo dia, às 7h30, o escutava no rádio. E sentia como se fosse da família”, disse. “Ele sentia como a população. E eu gostava de como trazia para a conversa a família dele.”
Com quase 50 anos de carreira jornalística e uma coleção de prêmios no currículo, Boechat era atualmente apresentador do Jornal da Band e âncora da BandNews FM. “Era um grande jornalista e um amigo de infância. Era divertido, um humorista”, comentou o jornalista Augusto Nunes. Os dois foram contemporâneos no jornal O Estado de S. Paulo e conviveram diretamente. “Sempre foi muito generoso, ajudou tanta gente”, disse.
Presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação, João Carlos Saad também compareceu ao velório. “Tinha uma graça e um jeito de fazer jornalismo que não vai ter outro”, disse sobre Boechat.
Ao ser perguntado sobre as lições que o jornalista deixou, acrescentou: “Ensinou a ser duro sem perder a ironia e o humor. Quando apurar, vamos encontrar um fio condutor dessa tragédia (e as outras recentes)”.
O diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre disse que soube da morte durante a reunião de pauta da emissora. Àquela altura, já se sabia sobre a queda do helicóptero no Rodoanel, mas a identidade das vítimas era desconhecida. Ele demorou a acreditar. “Conversava com ele todos os dias durante 12 anos. Era uma pessoa espetacular”, afirmou. “Perdemos o Boechat. Ontem estava conosco. Hoje não está mais.”
Envolto em coroas de flores, o caixão foi posto em cima do palco de um auditório do MIS. Ao passar, fãs tocavam a madeira, faziam sinal de despedida com as mãos e alguns até tiravam foto. Veruska, com quem Boechat teve dois filhos, ficou sentada em uma cadeira nas primeiras fileiras. Mais cedo, havia comentado que o marido era o “ateu que mais praticava o bem” e disse que a ficha ainda não caiu. Também agradeceu o apoio e as homenagens.
Por lá, também passaram o empresário Abílio Diniz e o apresentador Otávio Mesquita. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou às 23h30. “O jornalismo perde uma referência. (Ele) conduziu sem trabalho com grandeza”, comentou. “Jogamos bola juntos várias vezes. Era uma figura fraterna, adorável. E tinha um sentimento de justiça muito grande”, disse.
Colega de emissora, o apresentador do programa MasterChef Érik Jacquin tinha os olhos cheios de lágrimas ao lembrar do jornalista. “Todo dia ele estava lá, de manhã, à noite. Dancei com ele o carnaval de Salvador. Tenho a impressão de que todo mundo o amava.”
Homenagem de taxistas
Um grupo de taxistas que conhecia Boechat se juntou para prestar uma homenagem ao jornalista na madrugada desta terça. Eles colocaram duas placas de táxi sobre o caixão e elogiaram o tratamento dado por Boechat aos motoristas.
“Era uma pessoa muito boa, amável, que conhecia nossas dificuldades”, disse Mauro Simões, de 56 anos, que transportou Boechat algumas vezes do trabalho, no Morumbi, zona sul, para casa. No caminho, conversavam de tudo um pouco. “Falávamos sobre o dia a dia do Brasil”, lembra.