Uma cápsula de raios x, que carrega césio-137, substância altamente radioativa e, por isso, perigosa, foi achada e resgatada em um ferro-velho em Arapiraca, em Alagoas, na tarde de segunda-feira (22/1).
Graças à Vigilância Sanitária Municipal no bairro São Luiz II, a cápsula foi recolhida quando funcionários receberam uma denúncia anônima.
A história é semelhante por que passou Goiânia em setembro de 1987. Há 32 anos anos o prédio da Vigilância Sanitária recebia uma cápsula aberta que já havia contaminado milhares de pessoas.
Em Alagoas, os agentes da Vigilância Sanitária, treinados e bem informados sobre os riscos, convenceram o dono do ferro-velho a entregar o objeto. Ele contou que a cápsula foi retirada de um aparelho de mamografia. Ele não informou a origem.
Em Goiânia, contudo, o desfecho foi trágico e sitiou a cidade. Mais de 100 mil pessoas tiveram de passar por severo processo de descontaminação. Ficaram isoladas dentro do Estádio Olímpico por horas, centenas delas por dias.
Descarte de aparelho contendo césio-137 é criminoso
O coordenador da Vigilância Sanitária Municipal, Edilson Melo, explicou ao G1 Alagoas que se a empresa que fez o descarte incorreto for identificada, poderá responder criminalmente por ter colocado a comunidade em risco.
“Ela fechada não tem perigo nenhum, mas se tivesse sido aberta, as pessoas correriam risco de contaminação. Conseguimos evitar uma tragédia como a que houve em Goiânia há 32 anos”, diz Melo.
Não é por acaso que o profissional alagoano cita a tragédia em Goiânia. Quatro pessoas morreram ao ter contato com o pó azul quando dois homens encontraram uma peça abandonada nas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), onde funciona atualmente o Centro de Convenções.
Eles a venderam a um ferro-velho, que repassou o objeto a um segundo. O dono, maravilhado com o bilho, contaminou a família e vizinhos.
Dados de janeiro de 2018, publicados no livro “Sobreviventes do Césio”, que o autor desta reportagem publicou em colaboração com a jornalista Carla Lacerda, consta que o Estado de Goiás monitorava 1.165 pessoas.
O número é muito maior segundo organizações que representam os radioacidentados, como são chamadas as vítimas.
O acidente com o césio-137 em Goiânia é considerado o maior do mundo e ainda hoje causa sofrimento às vítimas e familiares.
Entre elas, Lourdes das Neves. À época, ela sepultou a cunhada, Maria Gabriela Ferreira, de 37 anos e, ainda pior, a filhinha de 6 anos, Leide das Neves.
Além das duas, o pó azul matou Admilson Alves de Souza, 18 anos, e Israel Batista dos Santos, 21. Eles morreram 45 dias após contato com a radiação.
As vítimas foram sepultadas em caixões de chumbo lacrados dentro de covas com grossas camadas de concreto.
Precisamos comemorar que Alagoas está livre do infortúnio azul radioativo.