O Movimento Passe Livre (MPL) volta às ruas nesta quinta-feira, 10, contra o reajuste da tarifa de ônibus em São Paulo (que passou de R$4 para R$4,30). Segundo seus organizadores, o ato não pode ser comparado à mobilização que deu origem às jornadas de junho de 2013 e o grupo prevê postura mais rígida por parte do governo e da polícia. Dos manifestantes da linha de frente dos protestos daquele ano, a maioria não está mais no grupo ou agora desempenha funções de menos destaque.
“Vivemos um outro momento histórico. Não criamos expectativas e nem projetamos o tamanho dos atos daqui por diante. O importante é que a sociedade volte a discutir a questão do transporte”, disse o representante do grupo Diego Soares Thiago, de 29 anos, um dos que vai estar no protesto marcado para as 17 horas desta quinta, na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal, na região central paulistana.
Ao falar sobre “outro momento histórico”, Soares aponta para um perfil supostamente mais conservador da sociedade, principalmente depois das últimas eleições estaduais e presidenciais. “Tudo nos leva crer, principalmente o contexto político, que a repressão será maior dessa vez”, comentou Soares. “Existe uma tendência de criminalização dos movimentos sociais”, completou a militante Gabriela Dantas, de 24 anos.
Em 2013, algumas manifestações do MPL terminaram em confronto com a polícia, depredações e prisões (além da ação dos chamados black blocs). O grupo não se considera responsável pelos atos de vandalismo e violência – dizendo que não se presta a selecionar quem participa ou não de seus protestos.
Além do aumento da tarifa, o MPL quer discutir o corte de linhas, o aumento de baldeações, a privatização dos terminais, a política de concessões e a “militarização das catracas”. “Militarização das catracas significa o aumento de vigilância e controle focados nas pessoas que não podem pagar uma tarifa abusiva e nos ambulantes que são proibidos de trabalhar”, afirma Gabriela. Sobre a manifestação desta quinta-feira, o MPL afirma que vai divulgar o trajeto apenas no próprio momento do ato. “A polícia irá saber no mesmo momento em que os manifestantes”, disse Gabriela.
Apesar de ter sido fundado em 2005 durante o Fórum Mundial em Porto Alegre, o MPL ficou mais conhecido pela atuação em 2013 – quando esteve à frente das manifestações contra um reajuste que aumentava de R$ 3 para R$ 3,20 o valor da tarifa de ônibus. Na ocasião, o então prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) voltaram atrás nos aumentos de ônibus, metrô e CPTM.
Embora tenha sido um dos responsáveis por evitar o aumento das tarifas em 2013, o MPL costuma também ser muito lembrado como aquele que deu início às manifestações que resultariam no impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT). Claro, essa é uma leitura refutada pelo MPL – que não se considera responsável pelo clamor antipartidário ou por qualquer pauta mais conservadora que tenha ganhado força após as jornadas de junho de 2013.
Horizontal e de esquerda
Quem são? Embora tenha muitos militantes oriundos do ambiente estudantil (tanto secundaristas como universitários), o MPL se considera um movimento mais abrangente ou “de usuários de transporte público”. Apesar de apartidário, o MPL não é “contra partidos”. Em sua composição, é possível encontrar filiados do PSTU, PSOL e da juventude do PT (em menor número). Há ainda muitos membros da União da Juventude Socialista (UJS), Levante Popular e outros movimentos. Eventualmente, anarquistas e punks também participam de alguns atos.
Não existe um líder formal. O MPL se afirma como um movimento horizontal. Ou seja, as decisões são tomadas por um colegiado. Ainda assim, a dinâmica do próprio grupo faz com que algumas figuras se destaquem (principalmente aquelas responsáveis pela comunicação com imprensa, polícia e governos). Outra característica é a rotatividade dos seus membros e das funções que eles desempenham. Hoje, o MPL está em sua terceira geração.
De acordo com os membros do MPL, o grupo é autônomo e autossustentável. Ou seja, não teria apoio financeiro de partidos ou instituições. O dinheiro do grupo viria da realização de eventos, venda de camisetas e outras ações.
Segundo o grupo, o ato dessa quinta-feira será o primeiro de uma série. Em suas redes sociais, o MPL tem desafiado o governador João Doria (PSDB) e o prefeito Bruno Covas (PSDB) a usarem transporte público durante uma semana – especificamente sugerem que o governador faça o trajeto de um ponto final do bairro do Grajaú (zona sul), baldeando na linha 9-Esmeralda da CPTM e na linha 4-Amarela do Metrô até a Luz (às 5h30 da manhã e às 18h).
Procurada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a Prefeitura informou que não vai se manifestar. O Palácio dos Bandeirantes disse que a Secretaria de Segurança Pública trataria da manifestação do MPL. A pasta também não respondeu até as 20 horas desta quarta-feira.