Artistas de rua encontraram nos caminhões de lixo um espaço inusitado para expressar sua arte, em Sorocaba, interior de São Paulo. Veículos usados na coleta domiciliar foram transformados em “tela” para grafiteiros da cidade. Parte da frota já circula pelas ruas com desenhos coloridos nas laterais da caçamba e chama a atenção dos moradores. “Saí à rua só para ver o caminhão da coleta passar. Ficou muito bonito”, disse a técnica contábil Lígia Fernandes, moradora da região central.
O projeto, da Secretaria Municipal de Cultura, abriu espaço para a valorização da arte urbana. Até o início do ano, será completada a pintura de dez painéis medindo 2,30 m por 1,80 m em cinco caminhões. Três deles, já circulam exibindo as obras. Na última intervenção, os artistas Marco Aurélio e Danny Koritiake grafitaram os painéis do terceiro caminhão. “Gosto de valorizar a natureza em meus desenhos, de mostrar que a sua preservação é importante”, disse Koritiake, grafiteiro há mais de vinte anos.
O município investe R$ 2,6 mil em cada obra, incluindo o material utilizado, e o valor é bancado por emenda de um vereador. Os artistas passaram por uma seleção e tiveram de comprovar residência na cidade, além de pelo menos três anos de atuação em arte visual de grafite. Uma comissão escolheu os trabalhos definitivos com base em esboços apresentados pelos candidatos. Os dois lados da caçamba do primeiro caminhão receberam desenhos de Will Ferreira e Michel Japs. O segundo veículo foi grafitado pelos artistas Danilo Reck e Rafael Furlan.
A professora de arte Silvia Cristina Rosa gostou da iniciativa. “Apesar da importância do serviço que prestam às cidades, caminhões de lixo geralmente não causam boa impressão. Com os grafites coloridos e de muito bom gosto, eles chamam a atenção e as pessoas param para admirar”, disse. Conforme a Secretaria da Cultura, o grafite como manifestação artística popular surgiu no Brasil no fim dos anos 70, associado a movimentos urbanos, como o hip-hop. Diferente da simples pichação, tem conteúdo e elaboração mais complexos, o que deu ao grafite o status de arte visual.