Desde que decidiu prestar Medicina, Ana Luisa Resende, de 21 anos, já sabia que só poderia seguir a carreira se passasse em uma universidade pública. “Para minha família, seria inviável pagar a mensalidade de um curso particular, que fica entre R$ 7 mil e R$ 8 mil”, conta ela.
Foram dois anos e meio de cursinho, mas a aprovação nas concorridas universidades estaduais e federais não vinha. “Daí eu fiquei sabendo que ia abrir um curso novo, particular, em Osasco (SP). Como minha mãe trabalha aqui, decidi prestar o vestibular”, diz ela, referindo-se a um dos novos cursos autorizados por meio da Lei do Mais Médicos.
No meio de 2017, foi aprovada e, com a ajuda da família e do programa de Financiamento Estudantil (Fies), conseguiu iniciar o curso. “No primeiro semestre, meu pai ‘se virou do avesso’ para conseguir pagar e, logo em seguida, consegui o Fies”, conta.
Ela lamenta que as universidades públicas não tenham aberto tantas vagas, possibilitando o ingresso de mais estudantes, mas elogia o fato de seu curso particular já dar prioridade ao atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). “Toda semana temos aula em uma Unidade Básica de Saúde. Também há um grande foco em atenção primária e Medicina da Família”, relata a jovem, que pretende atuar na rede pública quando se formar.
Estudante de uma universidade particular de João Pessoa que teve aumento de vagas de Medicina por causa da lei do Mais Médicos, Tainá Rolim, de 23 anos, também depende do Fies para cursar a graduação, cujo valor da mensalidade chega a R$ 8 mil. “Cheguei a fazer duas provas do Enem, em 2013 e 2014, quando já havia passado na particular. Tentei na UPE (Universidade de Pernambuco) e na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), mas não passei”, diz a jovem, que, agora, está a apenas um ano e meio de se formar.
Bom exemplo
Mas também existem casos de quem conseguiu cumprir de forma exemplar a proposta inicial do Mais Médicos.
No Rio Grande do Norte, a Escola Multicampi de Ciências Médicas da Universidade Federal do Estado (UFRN) foi inaugurada em Caicó, a 280 quilômetros de Natal, implementando um modelo inédito: com três câmpus interligados em cidades distintas. O modelo atrai candidatos de diferentes partes do País. “O curso acaba mostrando que você pode ser bem-sucedido em um lugar pequeno”, afirma o estudante Leonardo Almeida, de 23 anos, que migrou de Itapirapuã Paulista (SP).
Mais médicos
Contrariando o objetivo do Mais Médicos de levar faculdades de Medicina a cidades do interior do País que não tivessem nenhum curso do tipo, só 30% das vagas abertas desde 2013, quando o programa começou, ficam nos municípios prioritários, ou seja, que não possuíam escolas médicas anteriormente. A concentração de cursos permanece no Sul e no Sudeste e na rede particular. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.