Um vídeo gravado por um preso denuncia o cotidiano dentro de presídios em Goiás. Um homem vestido com uma camiseta branca é espancado por colegas de cela da Central Regional de Triagem, do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, em Goiás.
Enquanto é agredido, o homem quer saber o motivo. Ele pergunta para outro preso, mas o colega de cela também não sabe. Chutes e socos deixam o rapaz em pânico.
Quando começam a bater nele com o chico doce (pedaço de pau), começa a gritar um grito que não costuma ser ouvido. A cela fica a 300 metros de agentes penitenciários.
Até a publicação desta reportagem, o Portal Dia Online não conseguiu contato com a Diretoria Geral de Administração Penitenciária (DGAP).
Fontes da Casa de Prisão Prisão Provisória (CPP) e da Penitenciária Odenir Guimarães (POG) contaram ao Portal Dia Online que agressões deste tipo são comuns quando presos não conseguem pagar dívidas, sobretudo aos domingos, quando familiares vão visitá-los e não levam dinheiro.
Normalmente, donos de cantinas – presos – dentro dos pavilhões dão prazos para o pagamento. Se os devedores não cumprem, são espancados. Com preços superfaturados, os presos têm uma semana para pagar. Uma Coca-Cola de dois litros, custam entre R$ 20 e R$ 30 reais, por exemplo.
Existem os casos de agressão por causa de dívidas com drogas e cigarros. Alguns presos são espancados por apenas olharem para a mulher de outros homens. “Ali é onde filho chora e mãe e o Estado não vê”, comenta um agente.
“Um preso chegou aqui ensanguentado há alguns meses depois que pegou comida de outro preso”, conta uma enfermeira. “Eles são duros e cruéis”, comenta um agente.
Veja vídeo de preso sendo espancado em presídio de Goiás
Já ocorreram casos em que advogados inventaram que presos por roubo ou tráfico têm passagens por estupro. É uma deixa para serem espancados, senão mortos.
Caso o preso for “caguete”, ou seja, conte algo para agentes penitenciários, ele também pode ser espancado até a morte. Normalmente, depois da agressão, os presos levam a vítima, amarrada, perto da grade de saída. Eles avisam que o preso perdeu o convívio. Ou seja, não é mais bem-vindo na cela. Depois, são levados para o isolamento, onde ficam sem televisão, por exemplo.
Raramente um preso consegue fugir da seção de espancamento. Às vezes, durante a visita, ele avisa a um agente que vai ser espancado por não ter conseguido pagar as contas porque a família não levou dinheiro. Outras vezes, os presos com dívidas são levados para as celas, amarrados até o final das visitas, quando são agredidos.
Com dores causadas por chutes, murros e enforcamentos, as vítimas são encaminhadas ao Posto de Saúde do Complexo Prisional, ou, caso seja mais grave, para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) ou Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa).