“Filho, sai do celular e vai estudar.” A frase, dita muitas vezes por pais, pode ganhar um novo contexto. Com smartphone na mão e uma rede 3G ou Wi-Fi, estudantes do ensino fundamental e médio estão criando grupos de estudo no WhatsApp – para transmitir informações passadas em sala de aula, além de ajudar os colegas a tirarem dúvidas.
Os grupos de estudos são divididos por salas ou anos. Isso para que ninguém fique sem receber recados ou sem acompanhar o cronograma de tarefas e provas. Alunos do Colégio Sagrado Coração de Jesus, na zona oeste de São Paulo, os irmãos Carolina e Nicolas Zampoli, de 14 e 16 anos, respectivamente, aprovam e participam da novidade. Para ela, que está no 9.º ano, o principal diferencial está na resolução de questões. “Antes, a gente tinha de ligar para alguém ou correr antes da prova para perguntar tudo que não entendeu”, lembra.
De acordo com os irmãos, outra característica importante é a diversidade de formatos: os alunos enviam áudios, vídeos, textos e fotos para explicar os conteúdos, de forma que cada um encontre sua maneira ideal de estudar. “Eu tenho muita dificuldade em fazer resumos – e um pouco de preguiça. Quando mandam no grupo, com os textos organizados, é ótimo para estudar”, conta Nicolas, que está no 2.º ano do médio.
Conforme os alunos, História, Matemática, Física e Química são as campeãs de dúvidas. A primeira por conter muitas datas e acontecimentos. Já as de Exatas pelas equações e, de acordo com Carolina, “pelo terror da tabela periódica”. “Tudo que envolve fórmulas e ‘decoreba’ gera mais dúvidas”, conta.
Quem ensina
Do outro lado dos grupos, Luisa Henriette, de 16, participa mais ajudando os colegas do que tirando as próprias dúvidas. Entretanto, a estudante do 2.º ano do médio do Colégio Dante Alighieri acredita que o trabalho de voluntária também a auxilia durante os estudos. “Quem está ensinando aprende muito também. Eu faço os vídeos para 36 pessoas, então tem de ser fácil de entender”, explica. Ela costuma se filmar resolvendo questões de Matemática e Física, que, segundo ela, não podem ser compreendidas apenas com uma foto da resposta. “É melhor para mostrar o raciocínio, pois (os colegas) conseguem entender de onde veio cada número.”
O método varia conforme a disciplina. “Para Literatura, uma amiga faz áudios de 20 minutos contextualizando cada capítulo do livro”, conta ela. “São áudios enormes, mas com todas as metáforas possíveis.”
Professora da Faculdade de Educação da Unicamp, Dirce Zan vê os grupos como um importante passo para a autonomia dos alunos. “É importante que tenham esses espaços para aprenderem a estudar sozinhos, compartilhar dúvidas e aprendizados.” E as escolas podem ajudar. “O professor precisa refletir e ajudar a confrontar os conteúdos com outros materiais”, indica. “O aluno deve construir, com base no que os colegas enviam, o próprio argumento, sem estudar apenas com o resumo recebido.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.