Foragido depois de matar a mulher, Nayara Gama, de 25 anos, em Caldas Novas, Osmarildo da Gama Borges, conhecido como Kauan Cigano, de 28 anos, enviou vídeos em um grupo de ciganos no WhatsApp tentando justificar porque matou a jovem, fugiu e ainda levou o filho do casal, um bebê de 1 ano e três meses.
Nayara foi encontrada morta no último dia 19 de outubro em uma estrada da zona rural de Caldas Novas, em Goiás.
Ciganos de vários estados deram nove dias para Osmarildo se entregar, ao contrário, ele seria morto. Por isso, ele resolveu gravar os vídeos para culpar a vítima. Conforme contaram membros da comunidade da vítima para a reportagem, se o tempo determinado pelos ciganos se esgotar, um familiar próximo dele pode ser assassinado.
“Todo mundo sumiu porque na comunidade cigana o costume é a vingança”, comenta ao Portal Dia Online, o delegado responsável pelas investigações, Tibério Martins Cardoso. “Ele tem parente pelo interior e em outros estados”, relata o delegado.
No vídeo, o suspeito diz, em tom de deboche: “Não adianta arrepender mais.” Para o delegado, os vídeos mostram um homem com medo dos ciganos e não arrependido pelo crime.
“Do jeito que ele falou, está pedindo desculpas. Se qualquer cigano que tiver ligação com a família da jovem, vai querer vingar a morte em qualquer lugar do Brasil. Do jeito que uma cigana falou pra gente aqui na delegacia, eles levam isso muito a sério”, considera o delegado.
Dor
“Estou vivendo ainda por ‘mode’ meus netos”, diz a mãe de Nayara, Cirlene Gama Feitosa, de 47 anos, por telefone. “Ele matou minha caçulinha, minha menina, que nunca me abandonou. Ela me deu dois netos, que são minha força de vida.”
Nayara era a caçula de duas filhas e, para Cirlene, uma amiga. Emocionada, conta para a reportagem que a violência era comum na vida do casal. “Ele batia muito nela. Na última vez, ele deixou o corpo dela marcado, ela foi na delegacia, mas voltou atrás com medo dele ser preso”, revela.
Cirlene conta que não consegue dormir pensando no terror que a filha passou ao ter uma arma descarregada em seu corpo. “Eu falava muito para ela: ‘Minha filha, esse homem vai fazer uma arte com você’. Ele matou minha filha, levou os documentos e jogou o corpinho dela na beira da estrada. Por falta dos documentos, a gente teve dificuldade até para enterrar. Ele não pensou na família. Ele judiou demais dela”, disse ao telefone.
Cantor e violento: o cigano que matou mulher em Caldas Novas
Osmarildo é conhecido nos botecos de Caldas Novas por cantar músicas sertanejas que escrevia para a mulher que ele matou. Por ali, seu nome é Kauan. O Kauan cigano, que atravessava as noites cantando modas de viola.
Meses antes de cometer o crime, o casal se separou e ele escreveu uma melancólica canção para Nayara. “É uma música horrível. Um pavor”, conta uma familiar da vítima.
Quase ninguém gosta de comentar sobre o suspeito de matar a mulher e, quando falam, não querem ser expostos. Em um vídeo no YouTube, Osmarildo ameaça um homem com um revólver. Veja o vídeo aqui.
Além de ciumento, o cantor romântico, que postou vários vídeos no YouTube com mais de 40 mil acessos, proibia a mulher usar celular. “Ele era possessivo, deixava ela ligar para mim apenas pelo telefone dele”, lembra a mãe dela, Cirlene Gama.
Nayara foi assassinada, conta a família, depois que o marido espancou ela durante a madrugada anterior. O delegado suspeita que a criança viu tudo. A mesma criança que não conseguiu se despedir da mãe, outra vítima de feminicídio em Goiás.
“Minha filha morreu porque não queria entregar meu neto para o pai. Ela não conseguia ficar sem o filho”, lembra Cirlene, chorando.