A Smiles perdeu na sgeunda-feira, 15, 38,8% do valor de mercado, ou R$ 2,5 bilhões, após a Gol ter anunciado, na noite de domingo, 14, que não renovará a parceria com a empresa de fidelidade, cujo contrato venceria só em 2032. A aérea pretende incorporar a Smiles à sua estrutura, seguindo o exemplo da Latam, que anunciou movimento semelhante com a Multiplus em setembro. Para os participantes do programa de fidelidade, não haverá alterações nas milhas ou benefícios, segundo a Gol.
A decisão da empresa aérea surpreendeu o mercado, que, neste ano, havia previsto só a incorporação da Multiplus pela Latam. Também pesou no desempenho negativo da Smiles no pregão de segunda-feira o fato de a Gol decidir que, a princípio, não fará oferta para comprar os papéis (OPA) dos atuais acionistas da Smiles. A intenção é oferecer a eles uma combinação de ações da Gol, vistas como de maior risco e menos atrativas.
“A OPA não é nosso objetivo ou expectativa, estamos totalmente focados na reorganização (societária)”, disse o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, em teleconferência. O executivo admitiu, porém, que a opção poderá ser considerada se a troca de ações da Smiles pelas da Gol não for aprovada em assembleia. Após a unificação das bases acionárias das empresas, a Gol pretende migrar para o Novo Mercado da B3, segmento de mais alta governança da Bolsa.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente da Smiles, Leonel Andrade, disse que os planos da companhia, que incluem a entrada no mercado argentino, não sofrerão alterações. “Não vejo razão para rever os projetos. A decisão (de incorporar a Smiles) é dos controladores (da Gol). Soube das mudanças com o mercado.”
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo para supervisionar a reestruturação anunciada pela Gol. Além da legalidade da proposta, a CVM investigará o uso de informações privilegiadas e a diluição no capital da empresa com critérios distintos para os diversos grupos de acionistas.
Competitividade
Para Kakinoff, tanto a Gol como a Smiles perderiam competitividade se mantivessem o arranjo atual, já que há uma tendência global de integração das aéreas e de seus programas de fidelidade. Além da Latam, a Air Canadá e a Aeromexico também já anunciaram mudanças semelhantes.
O diretor financeiro da Gol, Richard Lark, disse ainda que a Smiles não conseguiria manter a trajetória de crescimento de dois dígitos em receita e de expansão de margens por muito mais tempo, diante das mudanças no ambiente competitivo do segmento de fidelidade.
Apesar do impacto negativo de 38,8% nos papéis da Smiles – num dia em que o Ibovespa (principal indicador da Bolsa) subiu 0,53% -, o anúncio rendeu à Gol alta 4,06%. “Isso mostra que o mercado vê benefício para a Gol que compensa a desvalorização da Smiles”, disse um especialista no setor que não quis se identificar. A Gol controla a empresa de fidelidade, com 52,7% de participação.
Para analistas, a integração da Smiles trará eficiências fiscais à Gol e proporcionará flexibilidade nas transações com o programa de fidelidade. A aérea também se beneficiará ao incorporar um negócio lucrativo que costumava, até o ano passado, pagar dividendos considerados altos pelos mercado financeiro.
O BTG Pactual viu a mudança como uma falta de alinhamento entre interesses da Gol e da Smiles. Os analistas cortaram a recomendação para os papéis da Smiles e reduziram o preço-alvo de R$ 70 para R$ 50. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.