C. R.B, de 12 anos, não é visto desde a tarde de segunda-feira (24/9) no Residencial Prado, na periferia de Senador Canedo, a 24 km de Goiânia, onde mora com o pai e a madrasta.
Uma série de versões surgem em volta do desaparecimento misterioso que tem preocupado moradores do bairro, professores, assistentes sociais e o pai do garoto, A. S. “Se fosse filho de um rico já teriam encontrado”, disse ao Portal Dia Online, depois de passar toda a manhã desta quarta-feira (26/9) procurando por bairros indicados por ligações e mensagens que recebem desde que a foto do menino foi compartilhada pelas redes sociais.
Segundo a madrasta de C. disse para a reportagem, ela o viu brincando com um coleguinha debaixo de uma árvore perto de casa às 14h de segunda-feira. “Depois ele sumiu”, disse ela.
O pai contou outra versão à Polícia Civil: o menino teria ido comprar um arroz para a madrasta e teria voltado com a “marca” errada. A madrasta teria dito ao menino que, se não comprasse o arroz certo, o “pai ia bater nele”.
O pai contou também esta versão para um conselheiro tutelar e para Edmaura Cruz, que acompanha crianças em situação de vulnerabilidade social no programa Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), antigo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) em Senador Canedo. “Escutei quando ele também falou que ao encontrar o menino iria entregá-lo para o Estado e Ministério Público, que não quer saber mais dele.”
Edmaura conta que o Serviço de Convivência atende crianças três dias por semana: segunda, quarta e sexta. Mas o C. não apareceu na última segunda”, lembra Edmaura. “Perguntei a um coleguinha e ele falou que o menino havia desaparecido.”
Regiane Calixto, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Alexandre Pereira Lima, onde o menino estuda, imediatamente se reuniu com os professores. “Estamos todos muito preocupados. Ele é um menino calado e não teve nenhum problema desde que foi matriculado ano passado. As notas estão na média e ele sempre deu certo com os coleguinhas”, aponta Regiane.
A coordenadora, que acompanhou o pai em lugares em que o menino pudesse estar, demostra preocupação em relação ao histórico de vulnerabilidade da criança. “A gente vem observando o comportamento dele porque ele é um menino muito simples, vem de transporte escolar, sempre de chinelas, usa os materiais que a escola dá.” Em abril, conta a coordenadora, o pai do menino foi à escola.
“Ele nos informou que o menino tinha se queimado enquanto esquentava arroz em um fogão improvisado e que não iria para a escola nos próximos dias. Eu pedi para ele trazer um atestado médico, mas até hoje nada. O menino voltou a frequentar a escola 14 dias depois desse incidente”, revela. A assistente social Edmaura conta a mesma história. “Quando ele entrou no Serviço de Convivência, veio todo queimado.”
Caso em Senador Canedo: “Estranho”
Ainda segundo a coordenadora da escola, Regiane Calixto, em um dos locais em que foi em busca do garoto, achou estranha a história de que o seu aluno teria feito um buraco em um barracão abandonado longe do bairro da família. “O pai me disse que alguém contou que o menino havia feito um buraco na parede para entrar. Era um buracão. Não tem como uma criança pequena, muito franzina, fazer aquilo”, desconfia.
Esse mesmo barracão, contou a madrasta para a reportagem, seria uma antiga residência do pai e do menino. “Alguém disse que ele foi visto perto desse barracão”, conta a mulher.
Edmaura Cruz lembra que um dia o menino apareceu descalço. “Perguntei porque estavam sem chinelas e ele me falou que a madrasta não tinha deixado ele usar outro par de sandálias porque tinha perdido as chinelas. A gente comprou um par novo para ele e fomos para a casa da família. Lá, orientamos a madrasta, mas ela me disse que ia devolver as chinelas novas.”
Depois disso, a frequência do menino caiu no Serviço de Convivência. No último dia 12 de setembro, um dos coleguinhas disse que a madrasta não deixou o menino entrar em casa e, por isso, ele não teria ido ao Serviço de Convivência
Fotografia mostra flagrante da assistência social Edmaura que, segundo ela, a madrasta impedia entrada do garoto na residência. Foto: Reprodução.”Então eu fui lá e vi que ele estava debaixo da mesma árvore que ele teria sido visto pela última vez. Fotografei sem que ele percebesse. Ela me falou que não ia deixar o menino entrar”, complementa Edmaura que encaminhou o caso ao Conselho Tutelar e ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). “Ela disse que o menino fazia coisas de que ela não concordava, mas não posso contar por questões éticas”, explica.
Edmaura ainda diz que quase quase não sabe como é a voz do menino em meses de convivência.” Ele me escuta muito. Fala muito: ‘não, tia, não foi assim’. Por medo, eu acho.”
O pai do menino não quis comentar as denúncias e ficou irritado. “Leva ele para sua casa e vai saber como ele dá trabalho”, disse ao repórter.
“Por volta das 10h de ontem, o pai veio e falou superficialmente sobre o desaparecimento. Recebi hoje a assistência social e solicitamos relatórios da escola, do conselheiro tutelar e do Serviço de Convivência”, explicou a escrivã Larissa Rosa dos Santos, da Delegacia da Mulher, Delegacia de Proteção e Adolescente e Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depai).
A reportagem não conseguiu falar com o delegado Matheus Gomes Mendonça Loreto porque está fazendo um curso.
Nota:
O Portal Dia Online não revelou nome dos envolvidos na família em concordância com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê, no art. 247, a proteção integral da identidade do adolescente.