“Ô, Daniel, nunca mais você vai me chamar de vó e me dar um abraço”, dizia, inconsolável, Conceição Cardoso da Silva, de 70, ao corpo de Daniel Paulo Cardoso de Sousa, de 15, enquanto o motorista da funerária abria o caixão no início da manhã na área da casa simples do Jardim Florença, em Aparecida de Goiânia.
Daniel morreu às 14h desta quinta-feira (14/6) em um leito da Unidade de Terapia de Intensiva (UTI). Ele sobreviveu 20 dias depois do incêndio no Centro de Internação Provisória (CIP), no dia 25 de maio. Nove jovens morreram carbonizados.
“Meu filho está tão magrinho, meu Deus. Ele lutou para sobreviver”, repetia Conceição. “Ele foi sadio e voltou judiado, sem um braço”.
Ele era um dos 11 adolescentes internados no alojamento 1 da ala “A” do Centro de Internação. Versões oficiais, mas contestadas por familiares, é de que um motim dos jovens, em protesto à transferência de dois adolescentes, teria ocasionado o incêndio.
A família aguardou a liberação do corpo desde a madrugada quando conseguiram que a Prefeitura de Goiânia subsidiasse o caixão simples do adolescente.
“Eu abro a porta daqui de casa e peço a Deus para que traga meu menino andando, de braços abertos para me abraçar, me beijar”, disse Conceição ao Portal Dia Online dias depois do incêndio.
Em duas cartas enviadas para a avó, o adolescente promete não “mexer com drogas e roubar”, mas não abre mão de “usar as roupas” de que gosta e, disse que quando saísse, iria “passar a ir mais na igreja porque eu tenho muito que agradecer a Deus”.
O corpo do jovem, que queria voltar a tocar violino na igreja quando cumprisse a medida socioeducativa, será sepultado às 15h no cemitério Jardim da Saudade, em Goiânia.