Morreu no final da tarde desta quinta-feira (14/6) Daniel Paulo Cardoso de Sousa, de 15 anos, único adolescente a sobreviver ao incêndio no Centro de Internação Provisória (CIP), no dia 25 de maio. Nove jovens morreram carbonizados.
Ele era um dos 11 adolescente internados no alojamento 1 da ala “A” do Centro de Internação. Um motim dos jovens, conforme sustentado pelo Estado de Goiás, mas contestado por familiares, teria ocasionado o incêndio que matou, agora, 10 adolescentes. O sonho do menino era voltar tocar violino na igreja.
Daniel sobreviveu por 20 dias em um leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Estadual de Urgências da Região Noroeste de Goiânia Governador Otávio Lages de Siqueira (Hugol).
Ontem (13/6), Daniel soube por meio de uma psicóloga que teria de se acostumar com a falta do braço esquerdo. Ele chorou.
A avó disse ao Portal Dia Online que, durante todo o período de visita, o menino tentou conversar. “Ele chorou, sorriu. Parecia que queria falar algo. Ficou me olhando até eu sumir pela porta”, lembra Conceição Cardoso da Silva, de 70.
“Eu não aceitava ele morrer. Mas a febre não passava. Os médicos davam remédio, mas não passava”, disse, ao confirmar a morte do sobrinho, Ronivon Cardoso, de 46.
Daniel morreu horas depois de um protesto na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego). Crucifixos fixados no chão e fotografias dos jovens mortos foram expostos no gramado do órgão.
Enquanto isso, a deputada Adriana Arccorsi conduzia Audiência Pública em que foi discutida a violência aos jovens em Goiás. Em diversos momentos, o nome de Daniel era evocado.
Memória
Em duas cartas enviadas para a avó, o adolescente promete não “mexer com drogas e roubar”, mas não abre mão de “usar as roupas” de que gosta e, disse que quando saísse, iria “passar a ir mais na igreja porque eu tenho muito que agradecer a Deus”.
Escrita com caneta preta no dia 15 de maio, o menino pede a Conceição que ela compre linhas “mais claras”, porque “fica mais bonito” as capas de crochês para filtros de barros que ele fabricava no Centro de Internação.
No texto, ele conta que está “fazendo jejum de manhã para ver se eu vou embora” e comemora que passou a dormir na cama de cima, saindo do corredor.
“Tadinho, ele era obrigado a ficar de olho em um fogo que os meninos colocavam no chão. Não podia deixar apagar”, conta.
“Agora eu tô dormindo na cama mais alta. Eu saí do corredor. Agora não preciso ficar de olho no fogo mais. KKKK. Agora só vou ficar deitado até no dia em que for embora. KKK”, escreve, antes de dizer que ama a sobrinha.
“Tô sentindo muita saudade de vocês. Gostei do perfume e da camiseta”, agradece, antes de escrever “ti amo”.