
Se tem uma coisa que o torcedor acostumou-se a ver no futebol brasileiro é o vai e vem de técnicos durante todas as temporadas. Comandar uma equipe por mais de um ano é um privilégio para poucos. As sequências de derrotas e as eliminações em competições importantes são as principais causas da rotatividade dos treinadores.
Se analisarmos os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, sete já trocaram de treinador em apenas 16 rodadas. O primeiro foi o Flamengo. Abel Braga não foi demitido, mas não aguentou a pressão e pediu pra sair na sexta rodada do torneio. Vale destacar que sob o comando do ‘Abelão’ o aproveitamento do time carioca era de 64%. Foram 28 jogos oficiais, 18 vitórias, 6 empates e 4 derrotas. Com 54 gols marcados e 24 sofridos.
Na sequência foram demitidos Geninho (Avaí) e Marcelo Cabo (CSA) na 9ª rodada, Ney Franco (Chapecoense) na 11ª rodada, Claudinei Oliveira (Goiás) na 13ª rodada, mesma rodada em que Mano Menezes (Cruzeiro) pediu demissão e por último Fernando Diniz (Fluminense) na 15ª rodada.
No futebol goiano não é diferente, das três principais equipes da capital, apenas o Atlético não mudou de treinador em 2019, Wagner Lopes tem um pouco mais de 10 meses de trabalho no Dragão. Enquanto Goiás e Vila Nova já trocaram o comando técnico três vezes.
Neste ano Claudinei de Oliveira não foi o primeiro técnico a ser demitido da equipe esmeraldina. Maurício Barbieri treinou o time durante a disputa do campeonato estadual e levou o Goiás para decisão do campeonato com o melhor aproveitamento da competição. No entanto, perdeu para o Atlético, e como o título não veio ele acabou sendo demitido.
Claudinei de Oliveira assumiu o time com a missão de fazer uma boa campanha na Série A do Brasileirão, mas recentemente não resistiu a série de maus resultados. Agora sob o comando de Ney Franco, o Goiás tenta se firmar na série A.
No clube colorado, Umberto Louzer e Eduardo Baptista já se despediram do clube em 2019, e Marcelo Cabo chegou com a missão de fazer o time reencontrar o caminho das vitórias. No entanto, desde a sua contratação o cenário não mudou. O Vila Nova passa por uma das suas piores fases dos últimos anos, na zona de rebaixamento da Série B e com um aproveitamento de 35,2% na competição.
Coincidentemente (ou não), o clube goiano que faz a sua melhor campanha na temporada é o Atlético, que ainda não trocou de treinador. O time foi campeão goiano e hoje é o terceiro colocado na Série B do Brasileirão.
Os números revelam que os treinadores mais bem-sucedidos tiveram ciclos longos dentro dos clubes, Murici Ramalho por exemplo, tricampeão brasileiro pelo São Paulo, ficou à frente do comando técnico do tricolor por de três anos, é o recordista da era do pontos corridos.
Atualmente, Renato Gaúcho do Grêmio é o treinador da Série A há mais tempo no cargo, no dia 19 de setembro completará três anos no clube, nesse período foi campeão da Copa do Brasil em 2016, Campeão da Libertadores em 2017 e campeão da Recopa Sul-Americana em 2018.
Porém, nem mesmo as estatísticas mudam o cenário no futebol brasileiro, de acordo com dados do Globo Esporte.com de 2011 a 2019 já aconteceram 472 trocas de técnico em clubes da elite do futebol nacional. Um número muito alto em relação aos países europeus, nesse mesmo período, na Espanha e na Itália foram 166 mudanças no comando técnico, na Inglaterra 143, na Alemanha 137, e na França, apenas 130.
Não é à toa que ser técnico de futebol tornou-se um dos cargos mais instáveis do país, e essa dança das cadeiras tem consequências importantes. O futebol brasileiro já não é mais o mesmo, o futebol arte, envolvente e ofensivo tem perdido espaço para defesas intransponíveis e esquemas táticos que priorizam a marcação ao invés da criatividade ofensiva.
O medo de perder tem sido maior do que a vontade de ganhar, e isso se deve a cobrança por resultados imediatos. Os treinadores assumem os times com a obrigação de ganhar o próximo o jogo, independente se a partida vai acontecer dois ou três dias após a sua contratação.
Sem tempo para trabalhar, para conhecer o elenco, para identificar o que está errado e o que pode ser mantido, os treinadores precisam fazer mágica e conquistar vitórias a curto prazo. A pressão/impaciência da torcida e a influência da imprensa esportiva colaboram para que esse ciclo vicioso se repita ano após ano.
