O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), inicialmente chamada Escola Técnica de Goiânia, foi palco de um momento histórico importante na nova capital de Goiás. O centro de ensino abrigou o batismo cultural na semana do dia 5 de julho de 1942. O evento representa a inauguração oficial de uma cidade.
Em Goiânia, essa semana foi marcada por uma série de realizações culturais e eventos. A movimentação atraiu vários artistas, políticos, eclesiásticos e intelectuais de todo o Brasil. Também marcou a transferência da sede da então Escola de Aprendizes e Artífices, fundada na antiga capital, Goiás, em 1909, para Goiânia.
O edifício do IFG, assim como os primeiros edifícios construídos na capital, foi projetado em art déco. Os prédios atuais do complexo no centro de Goiânia, dois pavilhões de salas de aula, o teatro e o pórtico seguem o estilo.
Nas construções art déco do edifício predominam nas fachadas as linhas retas e a limpeza visual. O pórtico de entrada do edifício é um elemento interessante. Os traços dele fazem referências aos elementos aerodinâmicos. Outra característica arquitetônica também marcante do edifício do IFG são as janelas redondas em formas de escotilhas pouco usadas em outros prédios construídos na capital no mesmo período.
Tombamento dos edifícios do IFG
Além dos três edifícios que foram construídos na década de 1940 no estilo art déco (o pavilhão com salas de aula do bloco 100, voltado para a Rua 75; o Teatro do IFG; o pavilhão com salas de aula do bloco 200 e o pórtico) e o terreno também foi tombado pela primeira vez em 1998, pelo Governo do Estado de Goiás.
Neste decreto, o IFG foi considerado um dos 24 bens culturais e materiais de Goiás. Posteriormente, em 2003, essas estruturas foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Houve ainda o tombamento de mais outras 21 edificações art déco em Goiânia.
O tombamento de um bem proíbe que o este venha a ser destruído ou descaracterizado. A finalidade é preservar uma memória coletiva. O tombamento pode ser aplicado a bens móveis e imóveis de interesse cultural/ambiental em várias escalas interativas de uma cidade, estado, nação ou a um nível mundial.
Podem ser tombados desde pequenos objetos como fotografias, utensílios até imóveis e grandes estruturas, como cascatas, florestas, regiões e outros. O tombamento somente é aplicado a bens de interesse para a preservação da memória e referenciais coletivos, não sendo aplicável a bens de interesse individual.
O estilo arquitetônico predominante em Goiânia: o art déco
Os construtores da cidade de Goiânia, primeiro o arquiteto Attilio Corrêa Lima e depois dos irmãos Coimbra Bueno, adotaram o estilo art déco para as edificações institucionais da nova cidade. Eles acreditavam que isso representaria o desejo de busca da modernidade. E era para isto que toda a construção da nova capital se dedicava.
O art déco propunha edifícios de quatro fachadas, isolados em seus vizinhos. As formas geométricas e curvas eram organizadas cuidadosamente, em contraste aos elementos muito retilíneos. Ele trouxe consigo materiais ainda poucos conhecidos, como: metais, néon e revestimentos.
Para a base das construções, houve a negação dos materiais tradicionais. Adobe e pau-a-pique foram deixados de lado. Tijolo cozido e concreto passaram a ser utilizados. Assim, se estabeleceu uma estética avessa às antigas construções vernáculas das residenciais goianas. Elas eram coladas umas nas outras, com extensos telhados, grossas traves de madeiras e aberturas que ocupavam proporcionalmente grande parte das fachadas.
O estilo art decó passou a ser adotado como o estilo oficial das construções públicas e institucionais de Goiânia. Isto fez com que a capital se tornasse uma das principais cidades em número de construções art déco do País. Era a fusão de Goiás com a União, fugindo dos anos de atraso político e cultural do Estado e a inserindo em uma modernidade anunciada.
A história do estilo art déco
O estilo art déco foi um movimento artístico internacional que surgiu na Europa e posteriormente nos Estados Unidos por volta de 1910. Este estilo começou nas artes decorativas. Além disso, não teve nenhuma motivação política ou filosófica, como os outros movimentos artísticos.
O estilo ficou conhecido com o nome de art déco em 1925, na feira mundial em Paris, a Arts Décoratifs et Industriels. O art déco atingiu rapidamente as outras artes que envolvem o cotidiano. A arquitetura, o design de interiores, o desenho industrial, o design gráfico, a publicidade, as artes gráficas, a caricatura, o cinema e a moda foram afetados.
A art déco desejava um visual que não necessariamente estava relacionado à racionalidade. Há, porém, uma limpeza visual, a utilização de novos materiais. No seu último estágio, houve uma aproximação de formas aerodinâmicas, por exemplo, no edifício Roquefeller Center, nos EUA.
O estilo art déco promoveu uma grande mudança, mas teve pouco tempo de duração. Atingiu seu declínio na Europa e nos EUA por volta de 1930. Saiu de moda de vez no Ocidente no final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
No Brasil, o estilo art déco chegou no final dos anos de 1920. Veio importado da Europa e depois do Estados Unidos. Rapidamente, o art déco ganhou força. Diferentemente de outras modas importadas, o art déco foi universal e ao mesmo tempo regional, pois disseminou-se por todo o mundo.
Existem muitas construções desse estilo no Brasil. São exemplares em art déco: Elevador Lacerda (Salvador), Teatro Carlos Gomes (Rio de Janeiro), Viaduto de Chá (São Paulo), Central do Brasil (Rio de Janeiro), Estádio do Pacaembu (São Paulo). Outro destaque importante é para a estátua do Cristo Redentor localizada no Rio de Janeiro. Ela é considerada a maior estátua art déco do mundo.
Quer conhecer mais sobre o assunto?
Livro – Goiânia art déco: acervo arquitetônico e urbanístico – dossiê de tombamento. Organização de Celina Fernandes Almeida Manso – Goiânia: Seplan, 2004.