Pelo segundo ano, o Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes, que tem sede em Goiânia, estará presente na SP-Arte Rotas Brasileiras, em São Paulo. O evento é um programa integrado à Feira de arte contemporanea de maior relevância no cenário nacional, e acontecerá de dia 28 de agosto a 1º de setembro de 2024.
Em 2023, a participação do Sertão Negro foi intitulada Aterramento, e utilizou tinta produzida a base de terras de Goiânia que transformou o “cubo branco” do estande da Feira. Este ano, uma camada será adicionada à terra, o processo de serrapilheira.
Nomeado Sertão Serrapilheira, o espaço reservado ao Ateliê e Escola de Artes contará com suas paredes cobertas por placas e paineis que demonstram o processo de decomposição de folhas, cascas, flores, galhos, ramos, entre outros elementos, que geram sobre a terra uma “manta de transmutação”, onde o perecimento desses componentes tritura, aduba e promove a vida.
Serrapilheira é uma ação natural que indica a presença de vida na natureza, acomodando as folhas que caem no solo e serão trituradas pelas formigas, besouros; comprimidas pelos pés de animais maiores e reviradas por animais pequenos.
As várias camadas de folhas inteiras, cortadas e moídas garantem à terra sua fertilidade para as próximas gerações de plantas, animais e humanos.
Mais sobre o estande do Sertão Negro na SP-Arte Rotas Brasileiras
Com um mosaico orgânico e dinâmico, o estande do Sertão Negro receberá as obras de 15 artistas que produzem em parceira: Abraão Veloso, Âmbar Pictórica, Anahy Jorge, Augusto César, Élida Ketlyn, Gabriela Chaves, Genor Sales, li vallejo t, Lucélia Maciel, Maya Quilolo, Nayò, Rafael Vaz, Rebeca Miguel, Tor Teixeira e William Maia.
Âmbar Pictórica, jovem artista travesti e residente no Sertão Negro, em sua primeira vez na Feira, afirma que “é uma mistura de emoção com apreensão pela responsabilidade que é e pela responsabilidade que é ir junto com a escola que é o Sertão Negro”.
É importante destacar que o deslocamento de artistas goianos para a maior feira de artes do país é um marco na trajetória de todos e do reposicionamento da produção da região.
Lucélia Maciel, artista com maior tempo de carreira, afirmou que, allém de trabalho de arte, acha que leva esperança, sonhos. “Porque eu me lembro a primeira vez que eu fui na SP-Arte eu fiquei imaginando se um dia eu ia expor lá, porque quando fui, eu era estudante”,
E segue: “Aí penso que é a realização de um sonho, é você conseguir se inserir em espaços que antes era quase que inalcançável, pelo menos ao meu ver. Era assim que eu via, que era um mundo que tava aquém do que eu podia acessar”, salienta.
Entre as produções apresentadas, estará o Livro-arte Sertão Serrapilheira. Como uma testemunha do processo coletivo criativo e conceitual, um livro foi organizado pelos artistas e colaboradores do Sertão Negro.
Sertão Serrapilheira é a primeira publicação coletiva do Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes e soma 23 produções artísticas inéditas que traduzem as vivências, a pesquisa e o caminho colaborativo trilhado na preparação da montagem do estande.
Anahy Jorge levará a série Além do olhar II, conjunto de imagens que trabalham com a intervenção fotográfica em imagens de mulheres que foram documentadas entre 1860 a 1930, presentes em acervos, como o Museu Paulista e o Museu McCord.
Entre os conceitos de morte e de vida, os rostos femininos são soterrados em placas de vidro, uma prisão do tempo e do papel. Segundo a artista, “trata-se de diálogos dicotômicos que emergem entre o visível e o invisível, o material e o imaterial, a morte e a sobrevivência dentro da estrutura material e poética da obra.”
O artista visual altamirense residente em Goiânia, Rafael Vaz, apresentará a pesquisa intitulada A Sociedade do Maior Abandonado refletindo sobre o encontro da poesia, o poeta e a rua. são retratos que criam proximidade entre figuras territórios, temporalidades, trajetos e poesia através da ocupação do espaço público comum, a rua.
Para o artista, revela “diálogos feitos diariamente com as ruas, onde elas entregam suportes e histórias ao poeta que serve de intermediário dessas histórias invisíveis aos olhos da maioria.”
Trabalhar os objetos como agentes de recuperação da memória tem sido parte das pesquisas de Gabriela Chaves, artista visual que utiliza a cerâmica como matéria prima para a construção de processos de memorar como ação no corpo.
Chaves exibirá Borda da Memória, um conjunto de porta-retratos construídos que investiga o moldar do barro em contato com o tempo do toque das mãos, do corpo que o conduz, das lembranças e sentimentos que o adentra junto aos que já estiveram aqui, aos que já foram vida e se tornaram solo.
Assim, o Sertão Negro Ateliê e Escola de Arte chega a SP-Arte amplia o seu proposito de comunidade a partir de ensinamentos ancestrais, ambientais e sociais, sem a pretensão de definir processos de vida, mas de resgatar uma existência saudável no mundo.
Dalton Paula, fundador do Sertão Negro, afirma que a participação dos artistas na Sp-Arte é um aprendizado.
“A SP-Arte é um espaço para o Sertão vivenciar o mercado das artes, dentro do lugar da escola. Então, uma instituição que comercializa trabalho, que precisa organizar todo um pensamento, uma logística de trabalhar com expografia, trabalhar com curadoria, trabalhar com logística e produção de obras de artes que exigem a organização de uma série de documentos relacionados a invoice, certificado de autenticidade, portfólio, pensar a comunicação e transporte de obra”.