Por Elaine Leme
Dizem que toda boa história começa com um “era uma vez”. E esta história começa em 1977, em pleno regime militar no Brasil. Em O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, que estreia em todo o Brasil nesta quinta-feira (6/11), acompanhamos Marcelo, interpretado por Wagner Moura, um professor de tecnologia que deixa a agitada São Paulo em busca de um recomeço em Recife. Ele tenta escapar de um passado violento e misterioso, acreditando que encontrará um pouco de paz no nordeste.
Kleber Mendonça Filho destaca que a intenção do filme é mostrar que o Brasil tem questões com a memória e tende a esquecer muita coisa. “E eu acho que o cinema é um instrumento muito bom: um bom filme prende a sua atenção, te diverte, te mantém entretido, mas também pode carregar uma dose de verdade sobre o lugar onde a gente mora”, afirmou o diretor..
O resultado é uma obra que une o olhar afetivo do cineasta sobre Recife a uma reconstrução precisa dos anos 1970. A narrativa de quase três horas apresenta um ambiente que mistura realismo político e atmosfera de sonho, com ruas transformadas em cenários de época e uma fotografia que combina rigor visual e emoção.
O apego de Kleber a cada canto filmado no Recife continua sendo uma de suas marcas. Ele constrói um retrato do país a partir de lembranças vivas, de pessoas, objetos, espaços, músicas e fotografias que atravessam sua memória e se costuram por meio de um cinema que dialoga com o gênero político. Afinal, traz uma narrativa densa e atmosférica, reforçada por uma trilha sonora impecável.
Entre as canções que embalam a trama estão nomes icônicos da música brasileira e internacional, como Lula Côrtes e Zé Ramalho, Ângela Maria, Waldick Soriano, Orquestra Nelson Ferreira, Banda de Pífanos de Caruaru, além de clássicos de Chicago e Donna Summer. As faixas transportam o público diretamente para a efervescência cultural e política da década de 1970.
Uma curiosidade que chama atenção é a faixa principal da trilha sonora, composta pelo lendário Ennio Morricone. Intitulada “Guerra e Pace, Pollo e Brace”, a canção tem uma sonoridade curiosa — uma mistura de rock de garagem com um toque psicodélico, marcada por um coro infantil italiano, o Le Voci Bianche di Renata Cortiglioni.
O elenco de O Agente Secreto

O elenco de peso, com nomes como Tânia Maria, Alice Carvalho, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Udo Kier e Thomás Aquino, além do protagonista, Wagner Moura, posiciona O Agente Secreto como uma potência do cinema brasileiro, o retrato de uma nação que ainda tenta compreender o próprio passado.
Um dos destaques mais marcantes é a potiguar Tânia Maria, atriz de 78 anos, que interpreta Dona Sebastiana, uma proprietária de apartamentos que abrigam os refugiados políticos.
No fim, a sensação que fica é que em O Agente Secreto, a memória é o fio condutor. Tudo nasce da lembrança, da preservação do legado e dos vestígios de uma história que o país ainda não contou por completo.
Premiações

O longa já conquistou quase 20 prêmios, incluindo o de Melhor Diretor (Kleber Mendonça Filho) e Melhor Ator (Wagner Moura) no Festival de Cannes, e foi recentemente indicado ao Gotham Awards de Melhor Roteiro Original e Melhor Ator (Wagner Moura). A produção ainda representa o Brasil na corrida por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar.
A estreia nacional acontece em 6 de novembro, pela Vitrine Filmes. O filme também tem lançamento garantido em mais de 90 países da América do Norte, América Latina, Europa, Ásia e Oceania, de acordo com a MK2, responsável pela comercialização dos direitos de exibição do filme internacionalmente. Entre os territórios já confirmados estão alguns dos maiores mercados cinematográficos do mundo, como China, México e Coreia do Sul, além de países como Grécia, Índia, Nova Zelândia e Finlândia.
O Agente Secreto é uma coprodução internacional, com produção da CinemaScópio, e tem coprodução da francesa MK2 Films, da alemã One Two Films e da holandesa Lemming. A distribuição no Brasil tem patrocínio da Petrobras.












