por Elaine Leme
“Passei anos tentando entender o que é ciência acústica. Fui atrás dos melhores profissionais do mundo para criar um espaço que fosse acusticamente perfeito para a audição de música de vinil. Queria fazer uma casa de shows para o vinil, com tecnologia que até então era aplicada só em salas de orquestra e música clássica.”, disse Facundo Guerra, empresário conhecido por transformar a noite paulistana e agora responsável pelo Formosa Hi-Fi, novo espaço dedicado a garantir a experiência sonora, que será inaugurado no final de julho, no centro de São Paulo. Um listening bar é o local onde a música é apreciada sem nenhuma distração.
Este é o fio condutor do projeto, que estava engavetado desde antes da pandemia, e começou a ganhar corpo novamente quando Facundo reencontrou o prédio histórico da Galeria Formosa, no Vale do Anhangabaú, pertinho do Viaduto do Chá e a poucos metros do Theatro Municipal, em São Paulo.
O edifício foi originalmente idealizado para abrigar o primeiro restaurante de comida brasileira na cidade, um projeto assinado por Mário de Andrade que, até então, nunca havia saído do papel.
Agora, o Formosa Hi-Fi faz uma releitura desse sonho modernista. Na cozinha, a proposta é unir tradição e contemporaneidade, trazendo referências da cultura alimentar brasileira para um cardápio que conversa com a música e com a arquitetura do espaço. No bar, quem assina a carta de drinks é Michelly Rossi, mixologista que aposta em ingredientes brasileiros e na democratização da alta coquetelaria.
Os sócios Ale Natacci, Alê Youssef e Facundo Guerra assinam a criação do Formosa Hi-Fi, que chega para fortalecer uma cena que já vinha ganhando espaço em São Paulo, com casas como o Starlane, na Vila Madalena, o Major, no centro histórico, e o Matiz, no Paraíso.
Todas essas iniciativas seguem o conceito dos listening bars, tendência que nasceu no Japão e tem inspiração nos Jazz Kissaten (cafés dedicados à audição de vinis) passou por cidades como Londres e Nova York e agora conquista seu público também por aqui.

A ideia desses espaços é simples e, ao mesmo tempo, revolucionária: resgatar o ato de ouvir música com atenção. Nada de playlists em segundo plano. O ambiente é pensado para a escuta. Da arquitetura à escolha dos equipamentos de som, passando pela curadoria musical faixa a faixa, tudo é projetado para transformar a experiência sonora em um ritual de presença.
No caso da Formosa, a busca pela qualidade acústica foi levada ao extremo. Facundo chamou o acusticista José Augusto Nepomuceno, responsável por projetos como a Sala São Paulo, o Teatro Cultura Artística e o Lincoln Center, para cuidar de cada detalhe da sonoridade do espaço.
“A gente está falando de um ambiente que usa a mesma tecnologia de filarmônicas, mas pensado para música urbana, popular, vinil e até fita cassete”, explica Facundo.

Listening bars marcam mudança de comportamento
Essa movimentação não é apenas sobre entretenimento. Ela marca uma mudança de comportamento. Em tempos de consumo apressado e excesso de estímulos, ouvir música virou um ato de resistência sensorial.
Os listening bars oferecem um refúgio, uma pausa no ruído da cidade. Discos de vinil não são apenas objetos de reprodução sonora, são portais para outras épocas, trilhas de memórias coletivas e individuais, convites para a escuta com tempo e intenção.
Além de São Paulo, outras cidades brasileiras já começam a construir seus próprios templos da escuta. Curitiba tem o Mixtape Listening Bar, no Rio de Janeiro aposta no Áriz e em Brasília tem o Lobby, cada um com sua identidade e curadoria.

Para quem aprecia boa música e valoriza a experiência de ouvir com calma, a dica é conhecer o Clube de Membros da Formosa, um grupo limitado de pessoas que terá acesso antecipado à programação, conteúdos exclusivos e encontros especiais pensados para quem faz da escuta um ritual.
Com inauguração prevista para 31 de julho de 2025, a Formosa Hi-Fi promete não ser apenas mais um bar com música boa. A proposta é criar uma experiência onde o som, a comida, os drinks e a arquitetura conversem entre si. Um espaço para desacelerar, ouvir e, principalmente, sentir.