por Elaine Leme
Durante cinco dias, a charmosa Paraty volta a ser palco de um dos eventos literários mais importantes da América Latina. A 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) celebra o poeta Paulo Leminski com uma programação intensa, provocativa e plural, refletindo a ousadia estética e o espírito inquieto do autor homenageado.
De 30 de julho a 3 de agosto, pessoas circularão pelas ruas de pedra do Centro Histórico, participando de mesas, painéis, lançamentos e experiências educativas.
A edição de 2024, mostrou que a literatura também se faz com presença, troca e afetos, com 79 convidados nacionais e internacionais, distribuídos em 27 mesas e painéis, além dos animados happy hours literários.
O impacto do evento se estendeu para além da cena cultural, a ocupação hoteleira da cidade atingiu 95% e, só na livraria oficial, foram vendidos aproximadamente 15 mil livros.
Nas plataformas digitais, a FLIP também marcou território, o canal do YouTube da festa teve mais de 53 mil visualizações, mais que o dobro do registrado em 2023. Outro destaque foi o alcance das atividades educativas, que envolveram pelo menos 5,5 mil pessoas.
Em entrevista exclusiva ao Aproveite a Cidade, Ana Lima Cecilio, a curadora da 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que já atuou de ponta a ponta em áreas como edição, clubes do livro, curadoria literária, jornalismo e, inclusive, em livrarias, fala da edição deste ano e sobre a escolha do homenageado, Paulo Leminski (1944–1989), poeta transgressor, erudito e de prosa exuberante.

Confira a entrevista com Ana Lima Cecilio, curadora 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP)
– Quais os principais eixos ou temas que atravessam a programação este ano? Algum debate que você considera urgente ou necessário neste momento?
Eu sou muito convicta de que os livros e a literatura são um instrumento muito poderoso de pensar e de transformar a realidade.
Nós vimos um momento com muitas, quase infinitas, questões urgentes, como a desigualdade social, a emergência climática, o combate ao racismo, uma nova compreensão do feminismo etc. Todos esses temas, acredito, estarão refletidos nas mesas da Flip, através de autores que pensam neles tanto na ficção como na não ficção.
– Paulo Leminski é um autor difícil de rotular, pois ele transitou pela poesia, prosa, música, tradução, artes marciais e publicidade. Como a Flip 2025 pretende dar conta dessa multiplicidade na homenagem?
Um dos motivos que nos fez fazer essa homenagem é justamente a multiplicidade do Leminski. O homenageado, mais do que ser assunto da Flip, dá um norte para a programação. Escolher um autor com tantas faces e tantos talentos é um caminho para que a programação seja abrangente como ele, e que possamos convidar autores variados, diferentes entre si, tendo como norte essa riqueza do Leminski.

– Que aspectos da trajetória ou da obra dele dialogam com o momento atual do Brasil e do mundo?
Em primeiro lugar, no universo mais literário, a poesia: o Brasil vive um momento muito rico na poesia, em que é possível ver várias gerações convergindo numa poética variada, que se mistura com a riqueza da música brasileira.
Mas também há sua preocupação com o aspecto da formação de um país que recusa ser apenas colônia, investindo em uma riquíssima produção própria na formação de uma identidade nacional, e ainda, uma imensa preocupação em fazer a poesia chegar mais perto das pessoas – e esse foi um esforço notável de Leminski ao longo de toda sua vida.
– A Flip é muito mais que literatura, o evento transforma Paraty por alguns dias. Eu vou todos os anos e sempre tem uma novidade. Como vocês pensam essa ocupação da cidade e o diálogo com o território?
Esse é um aspecto muito importante tanto para mim, como curadora, como para a Flip enquanto organismo que se desenvolve em Paraty há 23 anos. A Flip só faz sentindo abraçando Paraty como território, claro, mas também como cidade: as pessoas que fazem a Flip de lá, na produção, no educativo, nas casas parceiras e como apoio, são imprescindíveis para que a Flip ganhe a grandeza que tem.
Também fazemos ações o ano todo como modo de manter esse vínculo e criar certa consciência literária na cidade
– Há novidades na programação paralela ou na programação educativa? Algum destaque que merece atenção desde já?
Sim, esse ano inauguramos um novo espaço no programa principal, o Caprichos & Relaxos, um palco que será montado no Café da Flip, ao lado da livraria, e onde teremos uma vasta programação de ocupação com poetas falando e cantando sua poesia entre os horários do programa principal, que acontece na tenda. O educativo também conta com uma curadoria coletiva muito interessante, que vamos divulgar em breve.
– Que autoras ou autores contemporâneos você acha que os leitores do Aproveite a Cidade deveriam conhecer, antes mesmo de chegarem a Paraty?
Essa eu ainda não posso responder, mas posso dizer que fiquem de olho nas nossas redes sociais, que já começou a divulgar os nomes que estarão com a gente. Dos divulgados até agora, a argentina Dolores Reyes, a mexicana Dahlia de la Cerda e o italiano Sandro Veronesi.
– E para quem nunca foi à Flip, porque 2025 seria um bom ano para começar?
Em primeiro lugar, porque a Flip é um lugar muito importante de encontros entre pessoas, entre pessoas e livros, entre autores e seus leitores. A experiência de uma cidade tomada por literatura é sempre rica e muito inspiradora. Mas em 2025 em particular, com a homenagem ao Leminski, nós vamos fazer uma festa cheia de poesia e música, com presenças muito marcantes na vida literária brasileira.