Na Feira de Arte ArPa 2025, de 28 de maio a 1º de junho, em São Paulo, o Setor Base reafirma sua vocação como espaço de encontros entre arte e educação. O espaço recebe quatro projetos expositivos inéditos, criados por duplas formadas por artistas e seus colaboradores-convidados na construção de saberes e práticas artísticas.
Dedicada a valorizar o ensino e a troca de conhecimento como parte do processo criativo, a iniciativa apresenta quatro artistas com atuação pedagógica que convidam orientandos, ex-alunos e professores para criar obras inéditas e dialogar com o público sobre o papel social da arte.
“O Setor Base surge como uma iniciativa que promove a colaboração intergeracional e a valorização dos processos formativos como parte indissociável da prática artística. Ao reunir artistas que são, também, educadores e agentes de transformação, o projeto evidencia que a arte não se resume ao objeto final, mas se constrói no encontro, na partilha de saberes, nas trocas afetivas e na construção de redes de cuidado e resistência”, comenta a diretora geral da ArPa, Camilla Barella.
“É uma resposta poética e política aos desafios do presente, reafirmando que criar é, também, educar, fortalecer comunidades, revisitar memórias e imaginar futuros possíveis. Nesse sentido, o Setor Base transcende a lógica do mercado, colocando em primeiro plano a potência da arte como ferramenta de transformação social, cultural e ambiental”, conclui Barella.
Conheça os projetos do Setor Base – ArPa 2025
Artista e professor dos cursos de Artes Visuais da FAAP desde 2006, assim como no GOA – Grupo de Orientação Artística, o qual dirige desde 2016 junto com Ana Paula Cohen –, Thiago Honório é conhecido por sua prática pedagógica influenciada pelos pensamentos de bell hooks, Paulo Freire e Sônia Salzstein (sua orientadora no doutorado pela ECA/USP).
Em duas décadas de atuação acadêmica, orientou dezenas de artistas, entre eles Julia Gallo, com quem desenvolve o projeto desenhodesejo para o Setor Base da ArPa 2025.
Inédito, o trabalho reúne desenhos, objetos e esculturas que articulam erotismo, gesto e espiritualidade como caminhos para acessar memórias do corpo e processos de cura. O desejo está no centro da proposta — não apenas como tema, mas na forma de fazer: na criação compartilhada, na escuta mútua e na sensibilidade da matéria.
“desenhodesejo tensiona, entre o olho que espia, sacralizado em madeira, e corpos rasgados por flechas, aquilo que transborda desejo. A sublimação e a carne, pulsão de vida e morte. Martírio. Thiago e Julia, generosamente, nos proporcionam esse deleite com a exposição conjunta das obras”, define o terapeuta ayurveda Gil Kehl, que acompanhará os artistas em uma conversa sobre o projeto durante a ArPa.
Já o projeto Cadê a matriz? é resultado da colaboração entre os artistas Fabrício Lopez e Santídio Pereira, que começou em 2010 no Instituto Acaia, um projeto criado por Elisa Bracher. Durante esse tempo, surgiu, entre Lopez e Pereira, uma forte parceria de aprendizado, que culmina na apresentação que estará disponível ao público da ArPa.
Ambos começaram com a xilogravura, mas expandiram suas práticas para pintura e escultura. Santídio Pereira é conhecido por composições diretas e marcantes, com símbolos de elementos naturais, como folhas e animais. Fabrício Lopez, por sua vez, explora a energia do gesto e do traço, criando imagens expressivas que ganham vida.
José Augusto Ribeiro, curador, pesquisador e professor de história da arte reflete em seu ensaio sobre o projeto que “apesar das diferenças formais, a conexão entre eles se manifesta na vitalidade e na relação orgânica que ambos estabelecem com os elementos da natureza, evidenciando um ponto de convergência em suas produções”.
Cadê a matriz? investiga a troca de saberes entre mestre e aprendiz, técnica e linguagem, e o processo de ensinar e criar. O projeto reflete sobre como essa troca de experiências se apresenta nas obras de ambos os artistas. Na ArPa 2025, a proposta é abordar a transformação e a continuidade na prática artística, conectando o aprendizado tradicional à liberdade criativa e ao diálogo entre técnica, memória e inovação.
Dora Longo Bahia convidou o grupo de pesquisa Depois do Fim da Arte, que coordena desde 2015 no curso de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Juntos, criaram uma obra que consiste em um painel de dez metros com uma frase-título em vermelho sobre vermelho, coberta por cerca de 330 desenhos. As imagens feitas pelos integrantes do grupo seguem um protocolo comum: uma folha A4 preenchida com rabiscos produzidos com caneta Bic azul.
Os desenhos serão vendidos por R$50, valor correspondente ao custo de produção e de trabalho, com base no valor-hora do salário-mínimo (R$ 6,90), além do custo dos materiais utilizados. Cada desenho vendido será retirado da parede, revelando, pouco a pouco, o título da instalação. O baixo valor de cada obra, o esforço empregado na produção de cada desenho e a ocultação da autoria individual e do título da instalação se referem à exploração histórica da força de trabalho.
O historiador Gabriel F. Zacarias, professor da Unicamp e especialista em estudos sobre a Internacional Situacionista, escreveu um texto crítico para acompanhar o projeto. No ensaio, ele discute a ideia de “fim da arte” como reflexo das mudanças na produção artística no capitalismo atual, contrapondo as visões de Guy Debord e Theodor Adorno.
O projeto Mirando na esperança e tecendo amanhãs será apresentado na ArPa 2025 como uma reflexão sobre o papel das práticas artísticas na criação de comunidades, no fortalecimento de processos de formação e na construção de espaços seguros de aprendizado, com um olhar especial para pessoas negras, indígenas, mulheres, LGBTQIAP+ e questões ambientais.
A partir das obras e ações dos artistas Dalton Paula e Genor Sales, a proposta também resgata saberes ancestrais, oriundos de comunidades de terreiro, quilombolas, indígenas e movimentos sociais, criando um diálogo sobre arte, ancestralidade, herança e legado.
Genor frequenta o Sertão Negro, coordenado por Dalton na região norte de Goiânia (GO), desde seu primeiro ano de atividade, e integra a associação Jatobá Nascente, projeto que visa a autonomia financeira, o desenvolvimento artístico e o comprometimento socioambiental de seis artistas.
A antropóloga e professora Ana Paula Ribeiro projeto mostra a construção de futuros possíveis por meio de relações de afeto, cuidado, escuta e compromisso coletivo, valorizando práticas de autonomia, insurgência e educação comunitária. “Como uma ‘carta para o futuro’, que aposta na arte, na educação e no cuidado comunitário como formas de resistência, construção de legado e promoção de justiça social e ambiental”.
O projeto se alinha com os objetivos da ArPa 2025, que busca destacar práticas artísticas que não apenas questionam o presente, mas que também plantam sementes para o futuro, enfatizando o cuidado coletivo e a reflexão sobre a história e o legado das populações marginalizadas.
Programação do Setor Base
Durante a ArPa 2025, o público poderá acompanhar uma série de encontros, nos quais os artistas terão a oportunidade de discutir seus projetos e processos criativos com mediação de convidados especiais.
Cada bate-papo oferece uma perspectiva única sobre as obras e a relação entre arte, educação, memória e transformação socia, com mediadores escolhidos por cada dupla, os quais também escreveram um texto sobre os projetos.
– Conversa “Cadê a matriz?” – Quinta-feira (29/5), às 17h
Fabrício Lopez e Santídio Pereira, com mediação do professor e pesquisador José Augusto Ribeiro, discutem o projeto Cadê a matriz?, sobre a troca de saberes entre mestre e aprendiz, e como suas práticas artísticas evoluíram da xilogravura para a pintura e escultura.
– Conversa “relicário” – Sexta-feira (30/5), às 17h
Thiago Honório, Julia Gallo, com mediação terapeuta ayurveda Gil Kehl, exploram o projeto desenhodesejo, abordando desejo, cuidado e pedagogia como experiências sensíveis e relacionais na criação artística. Os alunos de Honório do curso de Artes Visuais na FAAP terão acesso gratuito ao encontro.
– Conversa “Depois do Fim” – Sábado (31/5), às 17h
Dora Longo Bahia e o grupo Depois do Fim da Arte discutem sua obra sobre a classe trabalhadora, refletindo sobre mudanças nas práticas artísticas no capitalismo atual, com base em teorias de Debord e Adorno. A conversa terá mediação do professor Gabriel F. Zacarias.
Os alunos de Dora Longo Bahia do curso de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) terão acesso gratuito ao encontro.
– Conversa “Mirando na esperança e tecendo amanhãs” – Domingo (1/6), às 15h
Dalton Paula e Genor Sales, com mediação da antropóloga e professora Ana Paula Ribeiro, discutem o papel da arte na construção de comunidades e inclusão social, com foco em questões de ancestralidade, herança e populações marginalizadas.
Serviço: ArPa 2025 Feira de Arte | São Paulo
Quando: 28 de maio a 1º de junho de 2025
Horário: Quarta-feira a sábado, das 13h às 20h | Domingo, das 11h às 18h
Onde: Mercado Livre Arena Pacaembu – Rua Capivari (Portão 23) ou Praça Charles Miller – São Paulo
Ingressos: Link
Mais informações: https://www.instagram.com/