Neste mês de setembro, a artista visual goiana e candomblecista, Raquel Rocha, leva à capital do Rio de Janeiro, pela primeira vez, uma exposição individual. “Obirin Omi – Mulheres Água” é uma produção do Orum Aiyê Quilombo Cultural, que enaltece e cultura a força das Mães de Santo no Brasil. “Obirin Omi” traz o lançamento de novas obras da série “As Matriarcas”, lançada em 2024. A exposição terá abertura no dia 12 de setembro, às 17h.
Com curadoria de Mariana Maia e produção artística de Rona Neves, a exposição vai ocupar a Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, na Gamboa (Pequena África). No dia 11, também às 17h, haverá uma pré-abertura com a performance Omi Eró da artista e com participação especial do artista Marcelo Marques. A exposição ficará na galeria até o dia 11 de outubro. Toda a programação é gratuita.
A performance, que o público carioca poderá testemunhar, traz o macerar das ervas na produção de um banho. As plantas são encantadas com cantigas em Yorubá, o ar é tomado pelo cheiro das folhas e o público é envolvido de forma cadenciada ao som do pilão que bate e macera.
Ao final, o público pode levar um pouco do banho de erva para casa e utilizá-lo como processo de reencontro por meio de um cuidado espiritual afrocentrado. A exposição também contará com a série “Orixás entre traços e versos”. A série é referenciada no rito de feitura e renascimento para os Orixás por meio de ilustrações feitas com técnica de nanquim sobre papel e pinturas de pigmentação natural a partir dos pós e folhas utilizados nos ritos de iniciação do Candomblé.
Raquel Rocha sublinha a importância de levar este trabalho para o Rio de Janeiro. “Realizar essa exposição em Pequena África, um local de tanta resistência histórica preta no Brasil, é muito importante para mim e para o Orum, como um todo. Levar um trabalho produzido aqui no Centro-Oeste, sobre memória preta e resistência afro-religiosa, para outros territórios, é mostrar que estamos aqui, pulsando arte preta no coração de Goiás”.
A artista ainda comenta sobre o significado de levar para fora do estado um trabalho que tematiza o Candomblé. “Quando a gente fortalece e protagoniza memórias afro-religiosas pretas, estamos dizendo que essa história também pertence a nós. Dizemos que aqui neste Cerrado existe arte com identidade própria e que há um movimento negro recontando e contando a sua própria história”, compartilha.
Homenagem às Mães de Santo
A série “As matriarcas” faz um levantamento histórico de grandes mães de santo brasileiras, feita a partir da técnica de acrílica sobre peneiras bordadas com 16 búzios representando o jogo do merindilogun. As pinturas são acompanhadas por uma quartinha (anfora pequena de barro) suspensa, preenchida com água (omí), simbolizando a vida do ancestral cultuado.
“A série traz como poética a manutenção da vida de todas essas mulheres. Por meio do culto e da memória, seus legados nos armam diante do racismo e elas se erguem como um exército de ancestrais intrépidos e prontos para nos fortalecer diante da luta contra o racismo”, explica a artista visual.
Raquel Rocha pesquisa a arte como território de fissuras e fricções, interpretando as fissuras como cicatrizes resultantes da escravidão no Brasil.
“São rachaduras de territórios, de pertencimento e consequentemente de memória vão criar um novo curso d’água buscando cicatrizar as feridas geradas com a violência contra o povo preto. As fendas canalizam águas cicatrizantes que formam bacias, rios , lagos de resistência e luta, formando um grande território que fortalece a nossa cultura afro-brasileira”, comenta Rocha sobre sua inspiração.
Sobre a artista
Raquel Rocha “se alimenta do axé das matriarcas” ao criar uma série histórica de pinturas que marcam a importância do seu trabalho que, além de ser afro referenciado, fortalece o combate ao racismo, desconstrói conceitos ignorantes que sustentam a intolerância afro religiosa e lança luz sobre a importância da mulher negra na história da sociedade brasileira.
“Esta exposição é fruto da vida de uma mulher negra candomblecista nascida e criada em Goiânia, cidade que ainda hoje ostenta como herói a estátua de um Bandeirante representante maior do genocídio e do latrocínio perpetuado na terra brasilis”, comenta Marcelo Marques, co-fundador do Orum Aiyê Quilombo Cultural.
O artista convidado para a performance destaca que entender de onde parte a história da artista Raquel Rocha explica a importância de sua série no âmbito nacional dentro do circuito das Artes Visuais.
“O trabalho dessa artista transpassa sua pele negra para potencializar o imagético e o protagonismo das mulheres pretas nas artes. “Obirin Omi -Mulheres Água ” não é sobre a obra de uma artista, é sobre o reconhecer e reverenciar o talento da mulher preta que soube no passado transformar a paisagem do território escravista em espaços de acolhimento e, na atualidade, transforma o cenário de racismo em territórios de reflexão e de empoderamento negro feminino”, destaca Marques.
Artista visual, licenciada pela UFG, candomblecista, Raquel pesquisa e atua na afro religiosidade vinculada à arte contemporânea. Estuda a cultura visual, pensando mecanismos de representatividades na encruzilhada de lutas que se faz a partir de ser negra no brasil. Realizou a direção de arte do espetáculo de Contos de Cativeiro, co-fundadora do bloco Tambores do Orum, no qual atua como diretora geral e figurinista. Além disso, é fundadora do Orum Aiyê – Quilombo Cultural.
Em 2024 participou da coletiva “O Oeste é o centro insurgente” que abre a nova sede da Galeria Cerrado em Brasília com curadoria assinada por Divino Sobral e Lilian Schwarcz. No mesmo ano foi selecionada para o Panorama de Arte Contemporânea de Goiás em Anápolis com curadoria de Paulo Henrique Cardoso. Em 2024 lançou a Série As Matriarcas no C.C Octo Marques.
Em 2022 participou do 26º Salão anapolino, ganhou o prêmio Fargo2022 e selecionada para residência artística do programa Dos Brasis: arte e pensamento negro, parte do programa Arte Sesc, com curadoria de Hélio Menezes e Igor Simões.
Ainda no mesmo ano participou da exposição ForaDali com a Parada7 no CCJF e Centro Municipal Hélio Oiticica no RJ. Publicou ainda neste ano de 2022 o livro Orixás entre traços e versos com Ilustração e poesia de sua autoria, o livro traz um passeio poético-ilustrativo pelo universo mítico dos Orixás.
Serviço: Orum Aiyê leva ao Rio de Janeiro exposição individual “Obirin Omi – Matriarcas”
Quando: 11/9: pré-lançamento | 12/9: lançamento
Horário: 17h
Local: IPN – instituto Pretos Novos – Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea – Gamboa – Rio de Janeiro