A região da Rua 44, em Goiânia, assusta quem não está acostumado com tudo no superlativo: são lojistas competindo por atenção, compradores cheios de sacolas, carregadores manobrando fardos de mercadoria. As calçadas estão lotadas de ambulantes vendendo roupas, objetos, comida. Nas ruas, carros, motos, ônibus, trânsito. Problemas e soluções ali andam lado a lado, competindo para ver quem sobressai.
Inserido na rotina da região da Rua 44, que mistura caos e esperança, o #aproveiteacidade tentou desvendar uma área da capital onde tanta gente tenta ganhar a vida. O comércio dali fomenta toda uma cadeia produtiva local, que já concentrou as vendas em outros pontos de Goiânia. Ao mesmo tempo, é sinônimo de bons negócios para quem sai de longe para garimpar mercadorias.
Lojistas e órgãos públicos tentam fomentar o interesse de varejistas amenizando questões estruturais e percalços do cotidiano de números impressionantes. Segundo dados da Associação Empresarial da Região da 44 (AER44), são 20 mil pontos de vendas. Os comerciantes se dividem em 12 mil lojas nas galerias e em 8 mil barracas na Feira Hippie.
A AER44 afirma que a região gera 150 mil empregos diretos e movimenta, em média, R$ 570 milhões por mês, de janeiro a setembro. Nos últimos meses do ano, o valor pode chegar a R$ 1 bilhão. Estes números fazem da região da rua 44 o segundo maior polo atacadista do Brasil, atrás apenas no Brás, em São Paulo.
As lojas da 44 comercializam mercadorias para todos os estados brasileiros. Parte dos compradores ocupa 5 mil leitos concentrados em poucos quarteirões. Outros optam por sequer repousar em Goiânia. Reservam apenas um dia para as compras e vão estocando os produtos nos bagageiros dos ônibus. Há lojistas exportando produtos para países na África, da Europa e para os Estados Unidos.
História
O surgimento da região da rua 44 teria sido impulsionado pela transferência, em 1995, do funcionamento da Feira Hippie da Avenida Goiás para a Praça do Trabalhador, no Centro de Goiânia. Segundo o presidente da Associação Empresarial, Jairo Gomes, as primeiras galerias nas imediações da feira surgiram cinco anos depois. O“boom” destes empreendimentos veio na segunda metade dos anos 2000 e ganhou força com a decadência de outras regiões comerciais, como a Avenida Bernardo Sayão.
Um dos empreendimentos pioneiros na Região, o Shopping Imperial foi construído pelo presidente da AER44 – também à frente da Rádio Hippie de Goiânia. Ele afirmou ter visualizado que a região poderia ser um grande ponto de vendas, além dos finais de semana, por causa da potencialidade dos feirantes. “Os próprios feirantes foram meus primeiros clientes no shopping, pois viam ali um ponto fora da feira”, contou.
Com intuito de chamar a atenção para região da rua 44, Jairo conta que passou a subsidiar a vinda de ônibus de outros estados e a investir em infraestrutura, pensando no conforto no turista de compras. O empresário é o presidente da associação desde que ela foi criada, em 2015. Ele acredita que a região segue em expansão, graças à qualidade os produtos, bom custo-benefício e a localização central no País.
O maior shopping
Grandes empresas investiram na região da rua 44, apostado em seu potencial. Dentre elas, o Grupo Novo Mundo, que criou o Mega Moda Shopping, em 2011, uma referência do complexo de turismo de compras.
Segundo o superintendente do Mega Moda Shopping, Chrystiano Câmara, o local espera um aumento de 20% no fluxo de clientes neste fim de ano e deve ultrapassar a marca do ano anterior, que foi de 1 milhão de visitantes apenas em dezembro.
O shopping, segundo o superintendente, vem investindo na melhoria do atendimento aos clientes e na estrutura do local. Está aumentando o número de banheiros, estacionamentos e dormitórios para os motoristas dos 650 ônibus, que o Mega Moda recebe mensalmente.
Uma das inovações é o espaço “Clube da Costura”, uma incubadora de moda que visa conectar estudantes, profissionais, estilistas e designers. O intuito é melhorar a habilidade da costura entre os participantes. Além disso, o Mega Moda tem um hotel, que de quinta a domingo, quando as lojas mais recebem clientes costuma ter 100% de ocupação.
Shopping inova para atrair clientes
O Mega Moda funciona de terça a quinta, das 8h às 18h; nas sextas, das 7h às 19h, e aos sábados das 6h às 19h . O horário costuma ser seguido pelas demais galerias.
Conhecida pelas lojas atacadistas, Chrystiano Camara acredita que a forma mais importante de venda hoje na 44 é do tipo “atacarejo”, comum também entre as pessoas que moram em Goiânia.“Os preços das mercadorias são muito atrativos, por isso as pessoas compram muito na modalidade chamada atacarejo, quando levam grande quantidade de peças, normalmente variadas, mas ainda em um número menor que o atacado”, afirmou o superintendente.
A região Centro-Oeste concentra 43,5% dos compradores do shopping Mega Moda, o maior do complexo comercial da 44. O Sudeste tem 28,2%, o Norte tem 13,7%. 9,2% são do Nordeste e apenas 1,2% do Sul. A pesquisa teve 600 entrevistas e foi realizada no 1º semestre de 2017 pelo centro de compras.
Problemas na 44
A região da 44 chama a atenção de ambulantes. O problema reclamado pela Associação Empresarial da Região da 44 (AER44) e por lojistas é a falta de presença e gestão do poder público para coibir a atuação dos comerciantes informais. Para Jairo Gomes, presidente da AER44, os ambulantes “afugentam os turistas de compras” e a fiscalização da Prefeitura é deficitária.
A Secretaria de Fiscalização Urbana, ligada a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) informou que, em parceria com a Guarda Civil Metropolitana (GCM), “tem realizado ações visando garantir o ordenamento na região da 44, evitando que os espaços sejam tomados pelo comércio irregular de produtos diversos, garantindo o trânsito de pedestres e consumidores”.
O presidente da GCM, o comandante José Eulalio Vieira, que afirmou que a corporação está atuando junto com as equipes de fiscalização, para evitar que os ambulantes tomem conta das ruas do local. Desde o dia 9 de novembro, segundo ele, há fiscalização todos os dias das 6h da manhã até a meia-noite. Esta operação deve durar até o final do ano. Mas não é só o comércio informal que incomoda lojistas e compradores. Calçadas cheias, sujeira, trânsito, desrespeito.
Projeto quer adequar região da rua 44 ao turismo de compras
O presidente da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), Fernando Santana, afirma que a região da rua 44 merece uma atenção especial, e que a Prefeitura busca soluções definitivas. Ele adiantou que um projeto, que prevê a mudança no fluxo de algumas ruas, a transformação de algumas destas em calçadões – que também teriam jardinagem -, e a instalação de câmeras de videomonitoramento está em fase de elaboração. A implementação deve ocorrer a partir de 2018.
Além de auxiliar no monitoramento do trânsito, como e feito nos arredores do Parque Vaca Brava, deverá ocorrer um convênio com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-GO) para reforçar a segurança e auxiliar no trabalho da polícia.