A 16ª edição do Festival Vaca Amarela (@festivalvacaamarela), encerrada neste domingo (24), tinha todo o script para um estrondo. Mas os ruídos da organização não deixaram que fosse assim. Ao menos, é a percepção que ficou dos dois dias de shows no Palácio da Música, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia. É que, no final, conta a experiência como um todo. E o público, que é o cliente, quer usufruí-la plenamente.
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Artistas escolhidos a dedo. Questões pulsantes e necessárias. O feminino. O feminismo. O papel da mulher. A sexualidade. O gênero. O preconceito. A produção independente. Cada causa inserida no cenário de um festival de música com discursos ecoados nas canções por artistas que personificam protesto, resistência. Louvável, emocionante e com a possibilidade de dialogar com espectadores recém-conquistados pelo fenômeno Pabllo Vittar.
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O público entendeu e abraçou o palco, apresentação após apresentação. Contornou o que era contornável. Houve canto, coreografia, receptividade. Força! Magia! Tudo isso superou o som distorcido ou que deixou de funcionar quando a atração com maior apelo popular do evento afirmou estar prestes a desistir do show por conta das condições. O problema não foi só com Pabllo Vittar, que fez jus à comoção gerada e sobrou em simpatia. A técnica acabou sendo o de menos.
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Principalmente na sexta-feira (22), foi difícil usufruir dos serviços básicos do Vaca Amarela. As filas para comprar fichas eram longas. Em meio à espera, shows passaram. Beneficiou-se quem chegou mais cedo e notou os caixas na escada que dá acesso a parte inferior da cúpula ou quem recebeu uma dica esperta no bar – foi o nosso caso – em meio a possibilidade de simplesmente desistir de se alimentar.
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Credencias no pescoço, área reservada na frente do palco e com uma dinâmica diferente do público geral para acompanhar apresentações, excetuando-se as invasões de palco, tudo parecia nos conformes. Ótimas performances de Deb and the Mentals (SP), com a batida mais pesada do dia, o divertido Sapabonde, o som bom de ouvir do Carne Doce. Roubos, furtos de celulares e agressões foram descobertas feitas nas redes sociais na manhã seguinte, com relatos enraivecidos diante da postura adotada por organizadores.
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Com todas as providências de segurança pensadas, a produção de evento é capaz de evitar aglomerações com a disposição da estrutura. Uma coisa é fato: a Fósforo Cultural, que promove o Vaca Amarela, sabia que Vittar fugia aos padrões do festival e isso não se limitava a área do palco. Se tudo já deu errado, é necessário respaldar vítimas, não apenas lamentar.
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Já no sábado (23), com público bem menos robusto, tudo funcionava com fluidez. E o discurso também ecoado na sexta-feira (22) perdurava, com destaque para a Linn da Quebrada (SP). Transexual que com letras certeiras e cativantes. “Quer eles queiram, quer eles não, estamos vivas”, disse ao encerrar o show. Curumin (SP) e MC Carol fizeram as duas últimas apresentações. Que fiquem várias lições desta edição.
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