Um mural de arte urbana gigantesco já ocupa uma das paredes do Edifício Alencastro Veiga, na Rua 3, no Centro de Goiânia. A obra monumental assinada pelo artista goiano Wes Gama ainda não foi concluída. Mas já atrai de forma magnética os olhares de quem passa por ali, uma vez que é impossível ignorá-la. Assim, a obra promete disseminar a discussão sobre a reponsabilidade de todos em relação a cidade, ao meio ambiente, às nossas raízes e ao futuro. Não à toa, a intervenção é parte de uma produção cultural chamada Manifesto Urbano.
A mensagem em forma de arte tem 66m de altura e cerca de 780 m². Trata-se de uma das maiores intervenções do Centro-Oeste. “A presença de arte gratuita e escancarada nos espaços públicos se comprova como experiência estética de presença essencial na conturbada vida urbana”, afirma Larissa Pitman, que encabeça o projeto da Valenta Produtora de Arte. Para ela, o período de quarentena, por causa do coronavírus, enfatiza o papel da street art, uma vez que ainda há privação de frequentar espaços culturais.
Wes Gama considera o Manifesto Urbano como “um fragmento de futuro”, algo que todos deveriam se atentar e ajudar a construir muito rápido. Portanto, a pesquisa para criar a obra mergulhou nos valores do caipira e da sociedade tecnológica, como um clamor por equilíbrio e consciência. “Toda arte urbana se torna uma janela de um novo pensamento na cidade, na rua, uma abertura, um fractal para a gente poder pensar em coisas novas, ter um respiro”, avalia Wes.
Desafios na realização do Manifesto Urbano
A princípio a ação do Manifesto Urbano realizaria outras duas intervenções de arte urbana em grande escala no Centro de Goiânia, com artistas locais. No entanto, o projeto teve de ser readaptado para ser executado com recursos próprios, porque não houve patrocínio ou parceria com o poder público local. Todavia, Larissa conta que, possivelmente, em 2021, o projeto “Galeria de Arte Pública – Festival Latinoamericano de Arte Urbana”, aprovado na Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura), ainda em fase de captação de recursos, trará novas intervenções para a capital.
Para realizar o Manifesto Urbano, Wes Gama e o também artista Korró Alves, que auxilia na realização do mural, precisaram passar por treinamento de capacitação para operar o andaime, algo que é exigido por lei. O equipamento é fixado no topo do prédio e costuma balançar um bocado por causa do vento.
Assim, os grafiteiros que trabalham no Edifício Alencastro Veiga já tiveram alguns contratempos desde o dia 21 de outubro, quando iniciaram o grid, que funciona como guia para ampliação da obra. Perderam alguns dias de trabalho por causa da chuva, de um problema com o andaime e por falta de energia elétrica. É possível acompanhar a execução da arte pelas redes sociais.
Wes Gama é goiano, natural de Uruaçu, autodidata e iniciou sua trajetória artística há 20 anos. Atualmente, é uma das referências da arte urbana nacional. É reconhecido pelas cores saturadas, traços definidos e a temática da cultura popular brasileira. Isso inclui o regionalismo, elementos caipiras, psicodélicos e a conexão com o Cerrado. Ou seja, um pouco de tudo isso estará no mural do Centro.
Grafites no Centro da cidade
Não é de hoje que o Centro de Goiânia é um marco para a arte da capital. Os mais atentos já devem ter observado algumas obras remanescentes do Galeria Aberta, um projeto que ocorreu entre 1987 e 1991, encabeçado pelo artista PX Silveira e que teve respaldo da secretaria de cultura do Estado à época. Assim, o resultado foram 26 murais ocupando edifícios da região. Eram artistas já consagrados, como Iza Costa, Tai, Gomes de Souza, M. Cavalcanti, Mauro Ribeiro, Cleber Gouvêa, Selma Parreira e Omar Souto.
Segundo a produtora cultural Larissa Pitman, no Galeria Aberta “os artistas desenvolviam o layout, mas a obra nos edifícios era executada por pintores contratados.” São obras remanescentes do projeto, o mural Basta!, de Omar Souto, uma representação de Jesus, pintada em uma das paredes banco Itaú, na Avenida Goiás; a Madona com Pássaros, de Mauro Ribeiro, do outro lado do Itaú, voltado para a Avenida Anhanguera. Além dessas, há também uma a obra de Cleber Gouvêa, na esquina das ruas 82 e 83.
Tanto o Manifesto Urbano quanto a Galeria de Arte Pública se assemelham à proposta do Galeria Aberta, de tornar a arte acessível, numa galeria criada por murais em edifícios. Contudo, Larissa argumenta que a intenção agora é exaltar a arte urbana contemporânea em grande escala.
Conheça mais grafites espalhados pela capital AQUI.
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