No coração do Cerrado, jovens quilombolas traçam caminhos entre o passado e o futuro, transformando a herança ancestral em esperança e resistência. É essa travessia que o documentário “Vozes e Vãos” (GO, 2025), dirigido por Edileuza Penha de Souza e Edymara Diniz, leva às telas na quarta sessão do projeto Cinema Negro no Feminino: afeto e pertencimento além das telas, no dia 30 de agosto, às 17h, no Sertão Negro, em Goiânia.
Mais do que um filme, “Vozes e Vãos” é um convite à escuta. O documentário acompanha jovens quilombolas Kalunga em sua relação com a terra, a cultura e o futuro, revelando como a juventude mobiliza sonhos, preserva saberes e reinventa tradições sem perder de vista o legado dos ancestrais.
A sessão será seguida de uma roda de conversa com as diretoras e a comunicadora popular kalunga, Alciléia Torres, uma das protagonistas da obra, que amplia o diálogo entre arte, território e pertencimento.
Juventude que resiste e sonha
O filme nasce do encontro entre pesquisa acadêmica, arte e vivência comunitária. A co-diretora Edymara Diniz construiu parte de sua trajetória dentro dos quilombos Kalunga de Cavalcante (GO), onde também atuou em projetos de teatro e formação cultural. Para ela, o audiovisual é um meio que divulga essa realidade local para o mundo.
“O documentário Vozes e Vãos mostra o quanto a comunicação, o audiovisual e o cinema são ferramentas de transformação social. Para nós, que viemos de territórios historicamente silenciados, ecoar nossas vozes para além das comunidades é lutar pela valorização das nossas raízes, pela garantia de direitos básicos e pela permanência da juventude nos quilombos. A comunicação é também resistência.”
A presença de protagonistas como Alciléia Torres reafirma o compromisso do longa em retratar o quilombo a partir de dentro, sem filtros nem estereótipos. Atuando como comunicadora popular kalunga, Alciléia enxerga no cinema um aliado para fortalecer a identidade quilombola.
“Esse filme mostra nossas vidas de dentro, sem estereótipos. É sobre a nossa luta, mas também sobre os nossos sonhos. Eu espero que as pessoas que assistirem compreendam que o quilombo não é só resistência, também é potência, afeto e futuro.”
Identidade e pertencimento que ecoam além da tela
Ao destacar a produção audiovisual feita por cineastas negras, com a organização de um livro sobre o tema a ser publicado em outubro e também promover sessões de cineclube com obras dessas diretoras, o projeto “Cinema Negro no Feminino: afeto e pertencimento além das telas” nasceu para dar visibilidade às narrativas negras e femininas no audiovisual, criando encontros de afeto e reflexão.
Para a co-diretora Edileuza Penha de Souza, iniciativas como essa são fundamentais para a consolidação de políticas públicas e culturais que fortaleçam artistas e cineastas negras.
“Esse espaço é fundamental porque amplia o repertório cultural do público e legitima vozes de mulheres que, muitas vezes, não são reconhecidas. É também um espaço de diálogo que fortalece políticas públicas e culturais, permitindo que artistas e cineastas negras expressem suas realidades de forma plena.”
Já a idealizadora do Cineclube Maria Grampinho, Ceiça Ferreira, destaca o quanto a sessão se conecta com o propósito do projeto.
“Cada sessão do Cinema Negro no Feminino é um convite para que o público mergulhe em narrativas que costuram memória, identidade e futuro. O documentário Vozes e Vãos se conecta diretamente a essa proposta, porque mostra a força da juventude quilombola como inspiração para todos nós.”
O lançamento do longa como parte do projeto Cinema Negro no Feminino é mais do que um evento cultural: é a oportunidade de refletir sobre permanência no território, juventude, ancestralidade e futuro. Ao aproximar o público da experiência vivida nos quilombos Kalunga, o filme abre espaço para diálogos urgentes sobre cultura, identidade e resistência negra no Brasil contemporâneo.
Sobre o Cineclube Maria Grampinho
Inspirado por Maria da Purificação, conhecida como Maria Grampinho, uma personagem histórica da Cidade de Goiás que, apesar da invisibilidade, carregava consigo histórias e sonhos, o Cineclube Maria Grampinho foi fundado e é dirigido pela pesquisadora Ceiça Ferreira.
Dedicado à exibição e discussão de filmes dirigidos ou protagonizados por pessoas negras, o cineclube visa visibilizar e incentivar a criação de novas narrativas no audiovisual brasileiro.
A curadoria é realizada por meio dos projetos “Tela Preta” e “Cartografias do Audiovisual Negro Brasileiro”, coordenados por Ceiça no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em parceria com a cineasta Edileuza Penha de Souza.
Desde maio de 2022, o cineclube promove sessões mensais gratuitas aos sábados, seguidas de debates ou rodas de conversa com cineastas e estudiosos dos temas abordados. Além de ser um espaço educativo sem fins lucrativos, o Cineclube Maria Grampinho visa à democratização da cultura e oferece uma opção de lazer na região norte de Goiânia.
_
Serviço: Cinema Negro no Feminino: afeto e pertencimento além das telas
Quando: sábado, 30 de agosto
Horário: às 17h
Onde: Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes | Rua Goiazes, quadra P, lote 9, Loteamento Shangri-la, Goiânia/GO.
Entrada: Gratuita