Com o enredo Malês e o levante africano, enaltecendo “a insurreição afro contra os abusos da branquitude”, o bloco Tambores do Orum sai às ruas de Goiânia nos próximos dias 15 e 16 de fevereiro. Esta é uma realização do Orum Aiyê Quilombo Cultural, um bloco gerido, gestado, regido, dançado e tocado por mãos pretas: o primeiro bloco afro de Goiânia formado apenas por pessoas negras.
O cortejo tem a concentração marcada para às 16h e saída às 17h, tanto no sábado, como no domingo. Tambores do Orum vai percorrer o Residencial Morada do Bosque, no sábado, e o centro de Goiânia, no domingo. O cortejo do bloco Tambores do Orum é um projeto contemplado pelo edital municipal 010/2024 da Lei Aldir Blanc.
No sábado (15/2), a concentração será na rua MB-2, esquina com MB-1, no Residencial Morada do Bosque. Em caso de chuva, o local será transferido para a quadra de esportes do Itatiaia. No domingo (16/2), a concentração será na antiga Estação Ferroviária, na Avenida Goiás. Em caso de chuva, a apresentação será na feira coberta da Avenida Paranaíba, na esquina com a Avenida Goiás.
O cortejo será feito ao som dos instrumentos da ancestralidade preta, com quatro naipes tocando alfaia, atabaque, agogô e xequerê, sob a regência de Noel Carvalho e Weiller Jahmaika. A dramaturgia ainda terá o trabalho de dança afro com referência na dança dos orixás e voduns sob a coordenação Setchegon Sokenou.
O projeto tem a direção geral de Marcelo Marques e Raquel Rocha. Raquel também assina o figurino e, Marcelo, coordena as pernas de pau. A produção é compartilhada entre o casal, Rafaela Rocha e Matheus Alcântara. Milca Francielle quem rege o canto do bloco.
Enredo 2025 – A Revolta dos Malês
A Revolta dos Malês, que aconteceu em 1835 em Salvador (BA), é um dos episódios mais significativos da luta contra a escravidão no Brasil. Este levante foi liderado por escravizados de origem africana, muitos dos quais eram muçulmanos, conhecidos como “malês”.
Eles se organizaram em resposta às condições desumanas da escravidão e à opressão que enfrentavam diariamente. Marcelo Marques, diretor-geral do Orum Aiyê, destaca a importância desta revolta na história brasileira. “Ela deixou um legado importante na história do Brasil, evidenciando a resistência dos africanos escravizados e a luta pela liberdade.
A Revolta dos Malês é lembrada como um símbolo de resistência e um marco na história da luta contra a opressão, inspirando gerações futuras na busca por justiça e igualdade”, comenta o diretor.
Marcelo Marques conta que os malês eram, em sua maioria, pessoas que traziam consigo uma rica herança cultural e religiosa: eram homens e mulheres alfabetizados em Árabe e Português e se utilizavam da vantagem do Árabe para organizar o levante diante dos olhos dos brancos.
“A revolta foi impulsionada não apenas pelo desejo de liberdade, mas também pela busca de um espaço para a prática de suas crenças e tradições. O movimento foi cuidadosamente planejado, com os revoltosos estabelecendo alianças e estratégias para a insurreição”, explica.
No dia 24 de janeiro de 1835, os malês foram forçados a antecipar a revolta, atacando pontos estratégicos da cidade e buscando libertar outros escravizados. “As autoridades enfrentaram uma enorme força negra que fez tremer as ruas de Salvador: mais de 600 herois africanos e negros nascidos no Brasil foram à luta
mostrando que não aceitariam um sistema de sociedade na qual pretos seriam subjudados por um poder branco pautado na violencia e desumanização”, comenta Raquel Rocha. “Em 2025, 190 anos depois, os Tambores do Orum vão às ruas de Goiânia para celebrar nossa inteligência, nossas sabedorias e capacidades de luta organizada”, conclui a produtora.
Um bloco 100% negro
Em 1974, o Ilê Aiyê lançou o primeiro bloco afro do Brasil composto apenas por pessoas negras. Quarenta anos depois, Goiânia teve o seu bloco totalmente negro, em 2024.
O incômodo dos fundadores do Ilê era o mesmo compartilhado pelos fundadores dos Tambores de Orum: “Eles perceberam, em Salvador, que até então os blocos eram compostos majoritariamente por pessoas brancas. Vemos nas ruas de Goiânia blocos hegemonicamente brancos e, com exceção de alguns afoxés, sem nenhuma conexão com a cultura afro”, contextualiza Marcelo Marques.
O objetivo dos idealizadores do projeto é dar continuidade, em Goiânia, a uma tradição que percorre o país com blocos como Ilê Aiyê (BA), Òrúnmilá (RJ), Alafin Oyó (PE) e Ilú Obá de Min (SP).
Todos estes blocos compartilham da necessidade de quebrar a lógica de apropriação cultural no Carnaval e devolver aos negros seu lugar de protagonismo cultural nesta festa.
“Muitos blocos de carnaval receberam uma grande influência da cultura de terreiro, que desta forma leva para as ruas a musicalidade, a dança e o axé das religiões afro-brasileiras. O Orum Aiyê Quilombo Cultural segue os passos percorridos pelos que nos antecederam, aprende e se inspira nos orixás, inquices e voduns para colocar nas ruas de Goiânia um bloco gerido, gestado, regido, dançado e tocado por mãos pretas”, comenta o diretor-geral, Marcelo Marques.
Serviço: Cortejo do Bloco Tambores do Orum | Goiânia
Quando:
- 15 de fevereiro – Concentração às 16h, saída às 17h
Onde: Rua MB2, esquina com MB-01 – Residencial Morada do Bosque
- 16 de fevereiro – Concentração às 16h
Onde: Antiga Estação Ferroviária – Avenida Goiás – Centro