A trajetória de lutas e resistências dos povos indígenas que vivem no Xingu, no Mato Grosso (MT), é revisitada na exposição Xingu: contatos, em cartaz a partir do dia 11 de julho, no Centro Audiovisual (CAud), em Goiânia.
Em cartaz até 13 de outubro, a mostra contará com uma série de atividades paralelas, que serão divulgadas ao longo do período expositivo. Ao visitar a exposição, o público poderá conhecer mais sobre a história de lutas e resistências dos povos xinguanos.
Com entrada gratuita, a mostra inaugura junto com a abertura do CAud, um moderno núcleo de formação indígena vinculado ao Museu Nacional dos Povos Indígenas, que integra a estrutura da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Idealizada pelo Instituto Moreira Salles (IMS), a mostra foi exibida na sede do IMS de São Paulo, entre 2022 e 2023, e agora chega ao CAud.
Primeiro grande território indígena demarcado no Brasil, em 1961, o Xingu é a casa de povos indígenas que enfrentam há séculos diversas formas de intervenção e violência e inspiram a luta por direitos. Ainda alvo de disputas e ameaças, o território, localizado no estado de Mato Grosso (MT), é habitado atualmente por mais de 6 mil indígenas, de 16 etnias.
Mais sobre a programação
A equipe de curadoria é formada pelo cineasta Takumã Kuikuro, diretor de documentários como As hiper mulheres (2011), pelo jornalista Guilherme Freitas, editor-assistente da serrote, revista de ensaios do IMS, e pela assistente de curadoria Marina Frúgoli.
A abertura inclui uma fala inaugural, no dia 11 de julho, às 16h, com Joenia Wapichana, presidenta da Funai, Fernanda Kaingang, diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas, Marcelo Araújo, diretor geral do IMS, os curadores da exposição e lideranças indígenas. No dia seguinte (12/7), às 18h, haverá uma conversa com comunicadores e artistas indígenas que participam da mostra.
A programação continua no dia 13 de julho, às 10h, com uma contação de histórias ministrada pelo escritor e
pesquisador Yamalui Kuikuro, colaborador da mostra. Em seguida, às 15h, artistas e comunicadores participam de
uma nova conversa com o público.
Nos dias 15 e 16 de julho, lideranças e pesquisadores do povo Kuikuro ministram oficinas de qualificação dos acervos fotográficos e audiovisuais, que integram os arquivos históricos do Museu Nacional dos Povos Indígenas relacionados ao Xingu. Todos os eventos são gratuitos e abertos ao público.
A exposição
A exposição apresenta múltiplas narrativas e olhares em torno do território, tendo como destaque a produção
audiovisual indígena contemporânea, que tem no Xingu um de seus principais polos.
O conjunto inclui seis curta-metragens, feitos especialmente para a exposição, de autoria de Divino Tserewahú, Kamatxi Ikpeng, Kamikia Kisêdjê, Kujãesage Kaiabi, Piratá Waurá e do Coletivo Kuikuro de Cinema.
A mostra traz ainda um trabalho do artista Denilson Baniwa, também produzido para a mostra, e fotografias produzidas pelos comunicadores indígenas da Rede Xingu+.
Também são exibidos imagens, reportagens e outros documentos produzidos no Xingu por não indígenas desde o final do século 19. Na mostra, essas imagens são confrontadas pela produção de artistas e comunicadores indígenas, num processo de diálogo, contraste e elaboração de novas perspectivas.
Fruto de dois anos de pesquisa, a seleção apresenta cerca de 150 itens. Os materiais provêm do acervo de diferentes instituições, como os próprios IMS e Museu Nacional dos Povos Indígenas, além do Instituto Socioambiental (ISA), o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia da PUC Goiás e a ONG Vídeo nas Aldeias, entre outras.
As imagens de acervo passaram por um processo de requalificação, conduzido em diálogo com pesquisadores e lideranças indígenas, para identificar pessoas, locais e situações.
Segundo Takumã Kuikuro, do povo indígena Kuikuro do Território Indígena do Xingu, as narrativas em torno do
território sofreram muitos apagamentos, sendo preciso reforçar o protagonismo das lideranças indígenas na luta pela demarcação do parque e na diplomacia com os brancos.
A exposição parte do objetivo de evidenciar esse ativismo, como aponta o cocurador: “Hoje nós somos protagonistas da nossa história. Antes não conhecíamos o audiovisual, agora conhecemos. Somos donos da nossa imagem e levamos as lutas dos povos do Xingu para museus, festivais, cinemas, redes sociais e exposições”, afirma.
O cocurador Guilherme Freitas também destaca que, para evidenciar essas novas narrativas, é preciso reavaliar a
forma como os acervos das instituições são catalogados e exibidos.
“Parte da história do Xingu está registrada em fotografias sob a guarda do Instituto Moreira Salles. A exposição é o marco inicial de um processo de requalificação desse conjunto de imagens, com a colaboração de pesquisadores e lideranças indígenas, por meio da identificação de pessoas, locais e situações retratadas”, salienta.
A diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas, Fernanda Kaingang, comenta ainda a importância de receber a exposição no CAud:
“O audiovisual faz parte da trajetória do Museu Nacional dos Povos Indígenas desde sua criação, em 1953, e a inauguração do Centro de Audiovisual com a exposição Xingu: contatos simboliza o fortalecimento dessa atuação com protagonismo dos povos indígenas e a parceria do IMS”.
A mostra apresenta ainda dois itens de arquivo que ilustram os caminhos do audiovisual na história do Xingu: um curtametragem produzido pelos alunos da primeira grande oficina do projeto Vídeo nas Aldeias, realizada em 1997 no Posto Diauarum, no Território Indígena do Xingu.
Além disso, uma seleção do acervo pessoal de Pirakumã Yawalapiti, liderança histórica que tinha o hábito de filmar assembleias, rituais e festas desde os anos 1990.
Ao longo da exposição, o público encontra uma perspectiva histórica do território. São apresentadas as
primeiras fotografias feitas na região, durante a expedição do etnólogo alemão Karl von den Steinen na década de 1880.
Também são apresentadas documentações realizadas pelo Estado brasileiro na primeira metade do século 20, com a Comissão Rondon e o Serviço de Proteção ao Índio, até chegar à cobertura da imprensa da Expedição RoncadorXingu, sobretudo pela revista O Cruzeiro, com os fotógrafos Jean Manzon, José Medeiros e Henri Ballot – os arquivos de Medeiros e Ballot estão sob a guarda do IMS.
Podcast
A pesquisa para a exposição começou durante a produção do podcast Xingu: terra marcada, que teve a participação dos curadores Guilherme Freitas e Takumã Kuikuro. Lançada em abril de 2021 pela Rádio Batuta, rádio de internet do IMS, a série narra a história da campanha pela demarcação do Parque Indígena do Xingu e seu significado para a luta pelos direitos indígenas até hoje.
Em cinco episódios, o podcast traz entrevistas com pesquisadores e lideranças, mostrando a perspectiva dos povos xinguanos sobre a trajetória do parque e a situação atual dos indígenas.
O programa está disponível, para acesso gratuito, no site da Batuta, no Spotify, na Apple Podcasts e em outras
plataformas.
Sobre o CAud
No dia 11 de julho, inaugura, em Goiânia, o Centro Audiovisual (CAud), uma moderna estrutura da Fundação Naciona dos Povos Indígenas (Funai), vinculada ao Museu Nacional dos Povos Indígenas. A nova unidade será um centro de formação indígena e um polo irradiador das expressões artísticas e produções audiovisuais contemporâneas dos povos indígenas.
O objetivo do CAud é oferecer formação continuada e complementar a estudantes e profissionais indígenas em novas técnicas de produção e edição de mídias digitais, bem como exibir produtos artístico-culturais produzidos pelos indígenas, oferecendo à comunidade a oportunidade de acesso à diversidade e riqueza cultural a partir da perspectiva de cada povo.
Serviço: Exposição Xingu: contatos | Goiânia
Abertura: 11 de julho de 2024
Visitação: até 13 de outubro de 2024
Horário de funcionamento: De terça a sexta: 10h às 18h | Sábados e domingos: 10h às 16h
Onde: Centro Audiovisual do Museu Nacional dos Povos Indígenas (CAud) – Alameda Leopoldo de Bulhões, s/n°, qd. 3, lts. 1/4 – Setor Pedro Ludovico
Entrada: Gratuita