Das paradas obrigatórias para um lanche no Centro de Goiânia, a Esfiha Quente, na Rua 4, quase na esquina com a Av. Goiás, tem lugar cativo na lista de indicações. Depois de bater perna, sente-se nas mesinhas ou no balcão. Peça a esfiha de carne (7 reais), salgado mais tradicional do estabelecimento. Uma pimentinha pode ir bem. Tome o seu tempo. Acerte a conta no caixa com Seu Paulo, Dona Heloísa ou com o Gustavo, filho do casal. Saia com aquele sabor na memória e a vontade de voltar quando puder.
Essa sensação de “querer retornar” foi construída ao longo de cinco anos, período em que o comércio demorou a emplacar, graças à opinião dos clientes em relação à receita carro chefe da casa. Quando o lugar abriu as portas em 1990, o comerciante Paulo Ferreira de Lima, de 60 anos, conta que os goianos não tinham o hábito de comer esfiha. Por isso, com o nome já no letreiro, o desafio era cair no gosto da freguesia. “Elogiou? Você conserva. Reclamou? Você estuda e lapida.”
“A receita foi criada conforme as pessoas iam dizendo para a gente. ‘Coloca hortelã. É muito bom.’ ‘Coloca mais cebolinha.’ ‘Cozinha mais o recheio.’ ‘Afina a massa.’ A gente veio lapidando, até que chegou num denominador comum, que ficou agradável a todos e sem reclamação”, revelou Paulo, em meio a cálculos e pagamentos no caixa. Para ele, o diferencial da comida é utilizar apenas temperos frescos e não condimentos comuns na cozinha árabe – aliás, a família não tem qualquer descendência.
A rotina do estabelecimento não permite brecha. O horário de almoço para os proprietários, por exemplo, depende do movimento. Pode ser ao meio-dia, mas se a correria só parar só às 14h, paciência. A perseverança para fazer o negócio dar certo demandou um dia a dia disciplinado. Levanta-se às 5h30, para que a Esfiha Quente esteja aberta às 7h. As portas se fecham às 20h, de segunda-feira a sexta-feira, quando o lugar ainda é lavado para o dia seguinte. Lá também abre aos sábados, até as 15h.
Paulo acredita que a longevidade do negócio é justificada pelo que chama de pilares da casa: atendimento, asseio e sabor. “Quando você entra em um lugar, tem de enxergar o asseio. Uma casa dessas sem atendimento é nada. E para finalizar, o sabor. Nós visamos muito o retorno (dos clientes)”, enfatiza o sócio que se orgulha em dizer que diante de todas as crises nunca pensou em fechar. “Hoje pode ficar para os filhos tocarem, numa boa. Ela tem um piso muito sólido.”
Um espectador no Centro
Não basta observar ali do caixa da Esfiha Quente os acontecimentos do Centro, o comerciante Paulo Ferreira de Lima também é morador da região. Vive a três quadras de onde trabalha. “Eu acho o setor Central um herói. Por mais que os advogados desprezem. O comércio fecha. Os bancos fecham. O setor Central é bom de venda. Ele dá o recado”, avaliou. Ele afirma, porém, a necessidade de mais investimentos. “Só falta a Prefeitura nos acudir. A ação dela hoje é só recolher o lixo.”
A lanchonete de clientes famosos, que fazem encomenda por telefone, está acostumada a receber candidatos em época de campanha. Pelo espaço no vidro do caixa já passaram as mãos de governadores e prefeitos para cumprimentos que culminavam em um pedido de voto. Vereadores e deputados são aparições constantes. Sempre rodeados por assessores, fazem uma pausa para o lanche.
As histórias são acumuladas ao longo dos anos de comércio. Elas parecem até mais antigas do que realmente são. Talvez, seja culpa do quadro na parede da lanchonete. “Aquele quadro ali… é só para deixar a gente mais velho e mais feio”, brinca Paulo. Lá está registrado um pouquinho da construção de Goiânia, a nova capital de Goiás, em 1933. A Esfiha Quente só surgiu 57 anos depois.
Esfiha Quente
Endereço: Rua 4, nº 731, Centro – Goiânia;
Funcionamento: De segunda-feira a sexta-feira, das 7h às 19h; Aos sábados, das 7h às 15h;
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Esfiha-Quente
Telefone: (62) 3229-4131