A série goiana Diaspóricas produziu o segunda longa-metragem documental e participa da mostra competitiva da 24ª Edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2024), que acontece de 11 a 16 de junho, na cidade de Goiás.
Diaspóricas 2 tem estreia marcada no Fica, no dia 13 de junho, quinta-feira, na sessão das 17h, na Mostra do Cinema Goiano.
A obra destaca a música como tática de existência na vida de mulheres negras e como ela se entrelaça à autovalorização sobre ser negra no caminhar das artistas. São mulheres que celebram a negritude, o ser mulher e a música brasileira, a partir da conexão em África.
Em Diaspóricas 2, o destaque fica por conta da resiliência das mulheres negras na cena musical em Goiânia. O longa mostra que elas “enfrentam inúmeras barreiras, mas continuam a brilhar, inspirando outras mulheres com sua força e determinação”.
O documentário relata depoimentos de artistas negras sobre superação do racismo e do sexismo, a partir do caminhar com a Música Preta Brasileira.
Jornalista e pesquisadora, Ana Clara Gomes é a idealizadora do Projeto Diaspóricas e assume as funções de direção, roteiro e montagem. Para ela, o Fica é um dos festivais de maior prestígio no cenário nacional e destaque para os goianos.
Segundo a diretora, é uma grande oportunidade de visibilidade do filme participar do Fica, pois “quando se pensa em Diaspóricas enquanto série, a forma de recepção do público é muito diferente daquele que consome cinema, que consome as produções nacionais”.
Ana Clara afirma que o Festival recebe grandes produções cinematográficas do cenário nacional, cineastas e realizadores do mundo todo, além de abranger um público amplo de amantes do cinema .
“O longa abre caminho para as mulheres negras que fazem cinema negro feminino, leva-nos a outros públicos, a outros patamares de recepçãos que passarão a conhecer o Projeto Diaspóricas e artistas do cerrado”, reforça.
Ana Clara explica que o projeto do longa-metragem surgiu como forma de estratégia de distribuição da produção, que tem mais potencial quando comparada aos episódios curtas-metragens da série. Isso porque, pensando no cenário nacional, a distribuição de filmes – o mercado de distribuidoras – é quase que inacessível para mulheres negras, realizadoras independentes.
“Democratizamos o acesso da série na Internet. Porém, o público que acessa o YouTube não é o mesmo que acessa a sala de cinema. E são as salas e festivais de cinema que dão o respaldo de visibilidade e de reconhecimento do trabalho, de uma produção bem feita, apesar do baixo orçamento diante de produções nacionais”.
A diretora ainda esclarece que Diaspóricas 2, em contraponto à série, tem mais entrada e circulação nos festivais de cinema. Tem mais chances de reverberar, porque há menos longas exibidos que os curtas-metragem, visto que longas-metragem são produções caras.
“Vimos nos festivais de cinema uma oportunidade de circular o projeto. É muito caro fazer com que um filme esteja nas mãos das distribuidoras, para que elas façam o processo de desague de uma obra, seja na sala de cinema, seja comercialmente, seja nas TV’s”, explica.
Participação no Fica 2024
Para a produtora executiva e coordenadora de comunicação, Jordana Barbosa, ser selecionado para o Fica é uma mostra que Diaspóricas 2, apesar de ser filme de baixo orçamento, tem alta qualidade. Ela conta que participar do festival não é ‘só sobre ser comercial’.
“Em nenhum momento tem essa significância”, ressalta. Mas é sobre ser reconhecido como um produto artístico valoroso que é fruto de muito carinho envolvido, tempo de dedicação, energia, ideais e planejamento.
“São profissionais renomadas e com muita competência que produzem um projeto que nasce do coração da diretora Ana Clara e cativa todas as outras mulheres que se aproximam e se envolvem com o projeto Diaspóricas. É um reconhecimento das profissionais que estão envolvidas no projeto”, conceitua Jordana.
Ação política
Diaspóricas 2 vai abordar, na telona, a proposta do encontro musical que se dá só por meio da diáspora e é “transformador, porque coloca as mulheres em contato umas com as outras, não em competição”.
Segundo Jordana, a ideia é retirar a mulher negra do lugar da violência, do lugar da opressão, do lugar da escravização.
“Por isso, o filme já é um grande ganho, uma inovação, pois coloca a mulher preta no lugar de protagonista, de resistência, de uma vida plena, de viver sua sexualidade, de encontrar sua beleza, de falar sua própria identidade, de falar do trivial da vida. Nós mulheres negras também temos o direito de beber um bom vinho, de descansar no domingo. Este é um lugar que foi negado a nós”, conclui Jordana.
Para Ana Clara, Diaspóricas 2 vem no movimento de criar uma “economia política” de mulheres negras fazendo cinema. Significa que se incentiva a formação, as atividades profissionais realizadas no campo profissional, “que é tão ocupado por homens brancos, que são os mesmos homens que têm acesso e patrocínios de grandes empresas”, afirma.
Ana Clara ainda afirma que Diaspóricas 2 vem para afirmar o lugar político de fazer, gerar uma economia profissional de cinema, em que pessoas negras desempenham as funções mais prestigiadas no campo cinematográfico, que são direção, roteiro, montagem e direção de fotografia.
“Todas as funções de maior prestígio no universo do cinema são ocupadas por mulheres negras que são capazes e têm trabalhos de excelência”.
Diaspórica 2 navega no mar da conexão entre África e América, que faz a mulher negra ser forte e resiliente, embora as inúmeras tentativas de subalternização, inferiorização e marginalização a ela, ainda permaneça. “A gente é sinônimo de levante, de transgressão a toda violência!’, conclui a diretora.
Serviço: Exibição do longa-metragem Diaspóricas no Fica 2024
Quando: 13 de junho (quinta-feira)
Horário: Sessão das 17h da Mostra do Cinema Goiano
Onde: cidade de Goiás
Entrada: Gratuita