Dalton Paula, nascido em Brasília (DF) e atualmente morador de Goiânia, é um dos artistas brasileiros que é destaque na 60ª edição da Bienal de Veneza, que começou no último sábado (20/4), e se estenderá até 24 de novembro, nos espaços Arsenale e Giardini, na cidade italiana.
Com o tema “Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere” (“Estrangeiros em Todos os Lugares”, em tradução livre), a Bienal deste ano destaca outsiders do universo da arte, com curadoria liderada também por um brasileiro, o diretor do Museu de Arte de São Paulo (MASP), Adriano Pedrosa, primeiro curador latino-americano a comando da exposição.
O evento terá como foco a produção de artistas de diversas origens, dando espaço e visibilidade a grupos anteriormente marginalizados, como imigrantes, expatriados, pessoas queer, indígenas e negros.
Nesse sentido, o trabalho de Dalton se destaca com a pesquisa que promove a visibilidade de personalidades negras até então não representadas pela história visual.
Para a 60ª edição da Bienal, o artista expõe as obras “Chico Rei”, “Nã Agotimé”, “Pacífico Licutan”, “Tereza de Benguela” e “Ganga Zumba”, personagens já retratados anteriormente pelo artista entre os anos de 2020 e 2022, que retornam em pinturas de grandes formatos com os personagens em corpo inteiro.
De acordo com texto da Cerrado Galeria, que tem sedes em Goiânia e Brasília, e que representa o artista: “Dalton Paula investiga as representações de corpos negros na diáspora africana, desde o período colonial à contemporaneidade, tecendo curas simbólicas que perpassam o campo histórico-social, econômico e psíquico”.
Além disso, ainda segundo texto da Cerrado Galeria, o contexto dos “terreiros, quilombos, subúrbios e os festejos tradicionais compõem seu processo de pesquisa, que se desdobra no quilombo-escola e guia as ações artísticas e educativas que atuam no fortalecimento da comunidade, construindo um lugar poderoso de emancipação e autonomia dos sujeitos”.
A diretora da Cerrado Galeria em Goiânia, Júlia Mazzutti, garante que o compromisso da instituição é contribuir com a visibilidade de artistas do interior do Brasil, buscando diversificar as narrativas e obras ainda tão centradas no eixo Rio-São Paulo.
Sobre Dalton Paula
Dalton Paula conquistou reconhecimento internacional por meio de suas obras que integram coleções importantes, como as do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, da Pinacoteca de São Paulo e do MASP. Sua arte íntima e histórica tem sido aclamada globalmente.
Além de artista, Dalton também é o idealizador e fundador, juntamente com sua companheira Ceiça Ferreira, do Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes em Goiânia, projeto que rendeu a ele o Prêmio Soros Arts Fellowship pela Open Society Foundation.
Neste ano, foi eleito como um dos dez vencedores do prêmio Chanel Next Prize, um feito que destaca sua influência e originalidade no cenário artístico contemporâneo.
Devido à excepcional trajetória de Dalton, as expectativas da Cerrado Galeria para a participação do artista na Bienal são as melhores possíveis.
“Além de artista, ele é educador – seu ateliê, o Sertão Negro, é voltado para a formação de novos artistas. Seu legado representa uma volta às raízes, perpassando todos os aspectos do indivíduo e retratando figuras marginalizadas pela história por meio da pintura e da fotografia, reitera Mazzutti.
“Esperamos que sua exposição leve o espectador a refletir sobre a história afro-brasileira e sua importância para a construção do Brasil”, completa.
O Sertão Negro
O Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes iniciou suas atividades em 2022, e tem como propósito ser um quilombo, um espaço artístico-cultural de vivências e trocas junto ao meio ambiente.
O ateliê compartilhado possui uma biblioteca com um acervo de três mil livros, além de equipamentos como prensa de gravura e forno industrial.
No quintal, além dos chalés para hospedagem dos residentes, há uma choupana coberta com palha de piaçaba, onde são realizadas as aulas de capoeira angola, gravura e cerâmica; e ainda as sessões do Cineclube Maria Grampinho, cuja proposta curatorial destaca os cinemas negros.
Construído em uma área de mais de 960 m² rodeado por várias árvores, plantas medicinais e flores, o Sertão Negro foi pensado para ser ecologicamente consciente, desde a coleta de água da chuva, a utilização de técnicas de bioconstrução até a preservação de espécies nativas do cerrado.
Em apenas dois anos de existência esse espaço tem se destacado no cenário artístico do Centro-Oeste brasileiro, possibilitando articulações internas, com a comunidade de Goiânia em geral e com diversos agentes do mercado artístico, tais como artistas nacionais e internacionais, curadores, galeristas e colecionadores.
A Cerrado Galeria
Fundada pelos empresários Lucio Albuquerque, Antônio Almeida e Carlos Dale em 2023, a Cerrado Galeria tem como intuito refletir o mundo a partir do Centro-Oeste do Brasil.
Em Goiânia, a Cerrado Galeria ocupa a casa modernista projetada por David Libeskind na Rua 84, no Setor Sul, conservando azulejos originais que são um marco da arquitetura goiana. Já em Brasília, há uma unidade no Lago Sul, mesma região que receberá, em breve, um novo espaço da Cerrado Galeria.