O Cine Ritz, cinema de rua em atividade com circuito comercial em Goiânia (inaugurado em 1990), está passando por grandes dificuldades financeiras. Os problemas, causados por quase 10 meses de portas fechadas por causa da pandemia do coronavírus, podem tornar esta situação permanente. A tentativa de reverter essa situação consiste em uma “vaquinha virtual” criada pela empresa que administra o cinema desde 2019, a Lume Filmes. Até o momento, o valor arrecado é de R$ 2 mil, de um total de R$ 70 mil. As doações podem ser de qualquer valor.
O objetivo, segundo o organizador Frederico da Cruz Machado, proprietário da Lume Filmes e responsável pela “vaquinha virtual”, é apoiar o Cine Ritz. Assim, a dinheiro arrecadado seria destinado para pagamento dos funcionários, aluguel (R$15 mil mensais), IPTU (R$ 2 mil mensais), taxas de exibição e impostos, por exemplo. Os custos mensais chegam a R$ 45 mil. Além disso, o valor das dívidas, hoje, é de R$ 100 mil, segundo o empresário, que falou com o Aproveite a cidade após a publicação da matéria na noite de segunda-feira (25/1).
Frederico afirmou que tem esperança do público voltar a frequentar o Cine Ritz assim que puder ser reaberto. A capacidade, segundo ele, será de no máximo 40% do total, o equivalente a 95 pessoas por sala. Além disso, irá investir na venda on-line de ingressos para evitar aglomerações no local. Ele disse também que irá seguir todas os protocolos de segurança. “Nós, junto com os funcionários, queremos muito trabalhar novamente. E com essa impossibilidade, fica tudo muito desesperador”, afirmou.
O empresário afirma ainda que o Cine Ritz irá continuar oferecendo, após a reabertura, filmes que são lançamentos Ademais, que irá manter os preços inferiores aos praticados nos shoppings. “A gente quer manter o Cine Ritz. É um cinema muito bem localizado, no Centro da cidade. Um local que tem história em Goiânia. Percebemos que é um público familiar, de pessoas que são apaixonadas por cinema e que viveram grandes histórias lá. A gente acredita muito no potencial do Cine Ritz”. concluiu Frederico.
A representatividade do cinema de rua em Goiânia
O Cine Ritz se localiza na Rua 8, no Centro de Goiânia, e faz parte da história da capital por sua resistência. Afinal, ele ainda persiste em um segmento que sucumbiu ao conforto dos shoppings. O Cine Ritz possui duas salas com capacidade de 238 pessoas cada uma, e é o único voltado para a rua que ainda exibe, com frequência, lançamentos, inclusive em 3-D.
Nas décadas de 1980 e 1990, porém, era comum ir ao Centro para assistir a filmes nos vários cinemas da região, como Casablanca, Capri, Presidente, Astor. Atualmente, o cinema mais antigo da cidade, o Cine Santa Maria, na Rua 24, por exemplo, exibe filmes destinados ao público adulto. E quem não migrou, deixou o segmento. É assim que os velhos cinemas de rua vão deixando de existir.
O outro cinema localizado fora de shopping em Goiânia e em plena atividade é o Cine Cultura, que fica no Centro Cultural Marieta Telles Machado, na Praça Cívica, também no setor central. Ligado à Secretaria de Cultura do Estado, exibe filmes não-comerciais. Além disso, é comum abrigar mostras com filmes clássicos, experimentais fora do mainstream. Isto, quando não há um cenário de pandemia. Todos os cinemas de Goiânia estão fechados desde março de 2020 e ainda não têm data para serem reabertos.
O impacto da pandemia em cinemas de Goiânia, do Brasil e do mundo
Segundo Gérson Campos, proprietário dos Cinemas Lumière – que tem salas em quatro shoppings de Goiânia, além de outras cidades do Estado e do Brasil -, o cinema em todo o mundo está abalado. Ele lembra que o mercado cinematográfico é muito diferente dos demais porque depende de uma matriz, o mercado americano, que produz 90% do que é exibido no mundo inteiro.
“Como os Estados Unidos estão vivendo uma crise devido à Covid-19, os cinemas estão todos fechados, e isso afeta todo o mundo, já que não há novos produtos”, afirmou. O empresário diz que algumas companhias estão lançando produtos diretamente nos streamings, o que atrapalha ainda mais os cinemas.
Gérson lembrou ainda que não há previsão sobre a volta do funcionamento dos cinemas. E citou outro problema: não há filmes novos para serem lançados. Assim, segundo ele, os poderes públicos deveriam criar um “socorro especial” aos cinemas e também aos teatros. Entretanto, não é otimista quanto a isso. “O governo (federal) que está aí não tem muita preocupação com essa área.”
Sobre os cinemas Drive-In, que teve alguns empreendimentos em Goiânia, inclusive dos Cinemas Lumière, Gérson afirma que foram feitos testes, com um início muito bom. Porém, se tornou inviável rapidamente por falta de interesse do público pelo formato. Em Goiânia, a onda dos cinemas Drive-In durante a pandemia durou quatro meses, de junho a setembro do ano passado.
Além disso, Gérson avalia que muitas salas de cinema no Brasil e no mundo ficarão fechadas, mesmo com autorização para retomada – uma situação que, a princípio, se desenha diferente da do Cine Ritz, que por questões econômicas já apela ao crownfunding, mas que pode levar ao mesmo lugar. Segundo ele, é preciso “aguardar”, já que não basta reabrir os cinemas sem novos filmes para serem exibidos, tendo em vista os altos custos de operação. “O momento é extremamente delicado para o mercado de exibidores de filme. Os shoppings terão que mudar a forma de faturamento em relação ao cinemas, se quiserem ter salas. Nós estamos caminhando para algo desconhecido, e só o tempo vai dizer”, concluiu.