As Cavalhadas de Pirenópolis são uma das maiores atrações turístico-culturais da cidade histórica goiana. A encenação, que acontece aproximadamente desde 1820, é apresentada na Festa do Divino Espírito Santo, na segunda quinzena de maio, quando dois exércitos, com doze cavaleiros cada, se apresentam para um público de milhares de pessoas durante três dias.
Reconhecida como uma das mais significativas Cavalhadas do Brasil, a festa em Pirenópolis ser tornou símbolo e modelo para outras cidades. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as Cavalhadas de Pirenópolis são, para muitos, o maior espetáculo da Festa do Divino. Além disso, reúnem o maior público de todos os eventos que a compõem. Para a os moradores e para os cavaleiros representam também um ato de devoção e renovação da fé no Divino Espírito Santo.
Em 2020, o Governo de Goiás apresentou o processo administrativo de Registro das Cavalhadas de todo o Estado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil junto ao Estado de Goiás e ao Iphan.
As Cavalhadas de Pirenópolis
No Campo das Cavalhadas de Pirenópolis, os cavaleiros encenam as lutas de Carlos Magno e sua tropa de elite pessoal, os Doze Pares de França, para libertar a Península Ibérica do domínio sarraceno. Inclusive, as roupas usadas durante as encenações são preparadas por costureiras, bordadeiras e floristas de Pirenópolis.
Os cavaleiros usam, sobre a calça e a camisa, vários adereços. Assim, utilizam cintos e peças de armadura, além da murça, capa bordada com símbolos cristãos (cálices, ostensórios, cruzes, Divinos, coroas) ou mouros (brasões, águias, cartas de baralho, lua e dragão). Dependendo da patente, o cavaleiro usa elmo (um tipo de capacete) ou chapéu. Além disso, as cores predominantes são o vermelho e o dourado para os mouros e o azul e prateado para os cristãos.
Na celebração, o prestígio dos Cavaleiros é diferente ao do Imperador do Divino, personagem principal da encenação. Dessa forma, a tradição mostra que, normalmente, os cavaleiros vão crescendo lentamente dentro das próprias regras das Cavalhadas. Assim, segundo um estudo do Iphan, são levados em conta “sua dedicação ao grupo, sua capacidade de liderança e suas habilidades pessoais fazem a diferença”. Já o Imperador tem a honra de representar o poder do Espírito Santo, mas apenas durante o ano imperial.
Ainda segundo o Instituto, baseado nos registros disponíveis, embora acontecessem no Brasil, as Cavalhadas foram pouco encenadas em Pirenópolis entre o século XIX e a primeira metade do século XX. Dessa forma, a apresentação contínua das Cavalhadas durante os festejos do Divino se iniciou a partir da década de 1960, “coincidindo com o processo de patrimonialização da festa, impulsionado principalmente pela intervenção de órgãos estaduais de turismo, empenhados em construir uma identidade cultural regional”.
Segundo o órgão federal, esse processo facilitou a transformação da memória cultural local em “consciência da tradição, mobilizando também a população no esforço do resgate de suas tradições”.
O espetáculo
As Cavalhadas de Pirenópolis são apresentadas durante três dias, começando no domingo de Pentecostes, ou domingo do Divino. Assim, no primeiro dia, os cavaleiros mouros entram pelo lado do nascente, dão uma volta pelo campo e se posicionam diante da torre moura. Da mesma maneira, os cavaleiros cristãos entram pelo lado do poente e tomam seus lugares diante da torre cristã.
No segundo dia das Cavalhadas de Pirenópolis, os cristãos são os primeiros a entrar, seguidos dos cavaleiros mouros. A batalha continua com várias carreiras, até que os cavaleiros cristãos conseguem encurralar os mouros, do lado do poente. O rei cristão, então, exige que os mouros aceitem o batismo. Assim, nesse momento, todos os cavaleiros mouros se ajoelham diante dos cavaleiros cristãos, que permanecem de pé, encostando, cada um, sua espada sobre os ombros dos vencidos. Posteriormente, os mouros, de um em um, são batizados. A partir daí, os cavaleiros passam a andar de forma alternada cristão/mouro, ou um azul e um vermelho.
No terceiro dia das encenações das Cavalhadas de Pirenópolis, ocorrem os jogos equestres. Assim, os cavaleiros colocam à prova suas habilidades e homenageiam as autoridades presentes, inclusive o imperador.
Festa do Divino Pai Eterno
A Festa do Divino Espírito Santo, para é considerada a mais rica expressão de identidade e religiosidade popular de Pirenópolis. Ela é uma celebração de origem portuguesa, que começou a ser feita durante o período colonial em todo o território brasileiro. Porém, segundo o Iphan, “tem variações em torno de uma estrutura básica e dos símbolos principais do ritual – as folias, a coroação de um imperador, e o império”.
Fazendo parte do cotidiano dos moradores de Pirenópolis, a Festa do Divino Espírito Santo é feita de vários rituais religiosos e expressões culturais. A comemoração é realizada na cidade histórica, a cada ano, desde 1819. Assim, dura cerca de 60 dias, com o ápice no Domingo de Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa.
Segundo o Iphan, a festa em Pirenópolis é “uma das maiores manifestações de devoção ao Divino do Brasil, unindo o passado e o presente”.
Durante a celebração ocorrem inúmeros eventos e festejos: as folias da Roça, da Rua e do Padre. Eles rodam por todos os bairros da cidade, e da zona rural, recolhendo donativos para a festa. Além disso, as celebrações do Império, com os cortejos do Imperador, jantares, novena, missas cantadas, alvoradas, levantamento do mastro e queima de fogos. E, claro, as Cavalhadas.
*Com informações do Iphan.