A Cerrado Galeria celebra dois anos de atuação no mercado apresentando ao público duas exposições na Cerrado Cultural, em Brasília (DF): “O tempo é rei”, de Genor Sales, artista goiano que vem se destacando no cenário nacional e que realiza pela primeira vez uma exposição solo, e “A invenção do visível”, da paulistana Mariana Palma, artista com mais de 20 anos de percurso, mas que faz agora sua primeira individual em Brasília. Ambas serão inauguradas no dia 24 de maio, às 11h, ficando em cartaz até 9 de agosto.
Em “O tempo é rei”, o artista goiano Genor Sales, em sua primeira exposição solo, exibe 31 obras produzidas recentemente (de 2023 a 2025) em que propõe reflexões sobre um corpo que sai de seu lugar de origem e se sente deslocado em outros espaços, como um “peixe fora d’água”. O artista pensa esta metáfora a partir do ambiente urbano, transformando a cidade em um rio e as ruas em afluentes.
“Esse peixe nada nesse asfalto que permeia as cidades”, explica Genor. O trabalho surgiu de uma pesquisa artística desenvolvida durante uma residência no Sertão Negro, escola-ateliê em Goiás, entre abril de 2022 e setembro de 2024.
A mostra na Cerrado tem como ponto central a série Dos peixes, composta de 25 aquarelas de cabeças de peixe da bacia Tocantins-Araguaia – um modo simbólico de levar água a esses peixes fora de seu habitat e também, explica Genor, “de romper a dureza da visão do homem negro dentro da arte a partir de uma técnica delicada e meticulosa”.
Ele subverte a ideia do jogo do bicho, que tradicionalmente não inclui peixes, e cria um jogo apenas com eles. A série propõe uma discussão poética sobre ecologia e segurança alimentar, além de denunciar o genocídio nutricional da população negra. Apesar de terem valor nutricional, as cabeças dos peixes são geralmente descartadas na alimentação.
O artista destaca também que o peixe é uma fonte de ferro, e que a falta deste nutriente acomete muito a população negra e periférica com anemia. São questões que Genor Sales levanta a partir do livro Nutricide: the nutritional destruction of the black race, do médico e pensador panafricanista Llaila Afrika.
O tema alimentação está presente ainda em três trabalhos nos quais há a presença simbólica de sardinhas, latas, redes e abridores de latas. A sardinha, por ser acessível, é historicamente considerada importante para a alimentação de populações periféricas no Brasil.
Compondo o conjunto, três obras que têm como elemento central os tradicionais filtros de barros e plantas e árvores típicas do Cerrado junto a elementos que representam a ideia de modernidade – refletida em objetos como panelas de alumínio ou copos.
Sobre a mostra “A invenção do visível”
Com exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior no currículo, Mariana Palma concebeu a mostra “A invenção do visível” com o objetivo de oferecer ao público de Brasília um recorte de sua produção atual. São aproximadamente 30 obras – pinturas, fotografias, aquarelas e uma instalação em tecido translúcido – que funcionam como uma carta de apresentação de seu repertório e de sua trajetória.
Trata-se de um trabalho com múltiplas referências. A artista incorpora a miscigenação e as cores da brasilidade, mas, inspirada pelo Barroco e pelas naturezas-mortas flamengas, pela botânica e pela moda, também faz referência à arte clássica, explorando temas como paisagem e retrato.
O título “A invenção do visível” faz referência direta ao processo de trabalho, no qual há uma construção de imagens em camadas, sejam elas pictóricas ou fotográficas, que se revelam lentamente ao visitante.
Principalmente nas pinturas, mas não só nelas, observa ela: “Essa ideia, da invenção do visível, é no sentido de que as imagens vão se formando conforme o espectador se aproxima, se afasta, se movimenta”, diz Mariana.
“Ela depende de uma sobreposição, depende do entorno para ser vista. São imagens veladas, que estão escondidas entre camadas, e que se revelam de maneira diferente a cada aproximação ou distanciamento, a cada olhar mais íntimo. A instalação traduz isso muito bem, mas isto está presente nas telas, nas aquarelas e nas fotografias.”
É uma obra muito colorida, em que sobressaem a densidade e o excesso, numa exuberância visual que oferece uma experiência encantatória a quem a vê – e cada um, frisa ela, vê de um modo diferente. O pesquisador e crítico André Torres, autor do texto que acompanha a exposição, chama a atenção para o caráter inebriante do trabalho:
“Suas obras não foram idealizadas para adornar um espaço. Elas instituem seu próprio espaço. Não possuem função, senão a de reintroduzir a beleza em um mundo que clama pelo apocalipse. Mesmo com devaneios de fim, Palma revela que o meio, seja o suporte – médium – ou o agir sobre ele – o trabalho – não precisam ser capturados pelas demandas do utilitarismo, mas podem existir em gozo.”
Com estas duas exposições, a Cerrado celebra dois anos de funcionamento na região. Sua origem se dá em maio de 2023, com a Cerrado Galeria em Goiânia. Já em Brasília, sua atuação se dá em 2024, com o espaço Cerrado Cultural, inaugurado em agosto.
O nome Cerrado homenageia o bioma que a abriga, símbolo de biodiversidade, resistência e riqueza cultural. Segundo os donos, é também uma reverência às tradições originárias e às heranças modernistas que marcam a paisagem urbana do Centro-Oeste — como a própria casa que a galeria ocupa em Goiânia, projetada pelo arquiteto e artista gráfico paranaense David Libeskind, com seus azulejos originais e arquitetura histórica.
Sobre Genor Sales

Genor Sales nasceu em 1984 em Goiânia (GO), onde vive e trabalha. Artista com trajetória iniciada há três anos, é licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás e pertence ao grupo conectado à Associação Jatobá Nascente e ao Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes.
Sua produção começou a ganhar destaque em 2022 ao participar da Pemba Residência Preta, promovida pela exposição Dos Brasis realizada pelo Sesc Brasil.
Em 2024 integrou mostras coletivas dedicadas a evidenciar a nova geração goiana: Panorama da Arte Contemporânea de Goiás, na Galeria Antônio Sibasolly (Anápolis), Abrir Horizontes 2, no Centro Cultural Octo Marques (Goiânia), 4º Salão de Arte em Pequenos Formatos, no Museu de Arte de Britânia (Britânia), e Baobá no asfalto, na Sé Galeria (São Paulo).
Participou com obras nas feiras de arte ARCO Madrid (2025) pela Cerrado Galeria, e SP Arte – Rotas Brasileiras (2024 e 2023) pelo Sertão Negro, sendo ganhador do Prêmio Estímulo da Fargo (2024) e indicado ao Prêmio PIPA 2025.
Sobre Mariana Palma

Mariana Palma nasceu em 1979, em São Paulo, onde vive e trabalha. Formou-se em Artes Plásticas na Fundação Armando Alvares Penteado FAAP (SP), em 2001.
Entre as exposições de que participou destacam-se: The vanity of the caged bird, Galleria
Vistamare, Milão, Itália, 2024; A pintura como verbo, Galeria Millan, São Paulo, Brasil, 2023; Lago interior, Teatro Municipal Casa da Ópera, Ouro Preto, MG, 2022; Afinidades, Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, Brasil, 2021; Assim como os jardins…, Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG, 2021; e Lumina, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, 2020.
Além disso, Soma, Casa Triângulo, São Paulo, 2017; A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, RJ, 2017; Máquina do mundo – Obras da Coleção Fabio Szwarcwald, Z42 Arte, Rio de Janeiro, RJ, 2016; Piece by piece: building a collection, Kemper Museum of Contemporary Art, Cidade do Kansas, EUA, 2015; entre outras.
Suas obras fazem parte de importantes coleções institucionais como: Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil; Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, Brasil; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Coleção Banco Itaú S.A., São Paulo, Brasil, entre outras.
Serviço: Cerrado Cultural realiza mostras “O tempo é Rei”, de Genor Sales, e “A invenção do visível”, de Mariana Palma | Brasília
Quando: Sábado (24/5), das 11h às 14h
Visitação: De 26 de maio a 9 de agosto | De segunda a sexta-feira, das 10h às 19h – Sábado, das 10h às 13h
Onde: Cerrado Cultural | SHIS QI 05 chácara 10, Lago Sul, Brasília
Mais informações: @cerrado.galeria | www.cerradogaleria.art