O artista visual goiano Diogo Rustoff está com uma obra exposta no Museu do Ipiranga, em São Paulo, reinaurado em setembro de 2022. Conhecido por ser um museu de elites, o espaço cultural sempre acolheu um olhar considerado colonizado sobre a história da construção do Brasil República. Porém, a nova curadoria ressurge com uma nova proposta, mais contemporânea, autônoma e decolonial.
A obra exposta de Rustoff no Museu do Ipiranga, considerada de constestação, se chama “Fake Hero”. O artista goiano é um observador da cidade. Assim, seus trabalhos, seja em stencil, lambe ou acrílica, refletem suas observações apuradas sobre as figuras urbanas. Além disso, sobre seus hábitos e suas relações com o espaço que habitam.
E foi acompanhando as manifestações decolonialistas, que ele chegou à representação do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o monumento dá o nome à Avenida Anhanguera, dentro de uma caçamba de lixo.
“A questão do Anhanguera em Goiânia é sempre um assunto polêmico. Sou da opinião de que tem que tirar a estátua do centro da cidade porque ela representa a opressão. Foi por isso que o desloquei da posição de herói, de um agente da civilização, para representá-lo como um mero entulho”, manifesta o artista.
Mais sobre a obra
Fake Hero, do artista goiano Diogo Rustoff, é uma acrílica sobre tela de 30cm x 50cm que integra a exposição “Passados imaginados”. Dessa maneira, esta é uma das onze exposições permanentes que foram apresentadas ao público na ocasião da reabertura do Museu do Ipiranga.
Celebrando o bicentenário da Independência, as exposições colocam à disposição dos visitantes cerca de 3,7 mil peças, dos 450 mil itens de seu acervo, a maioria inédita e que remonta ao Brasil colonial.
A presença de uma obra de contestação no Museu do Ipiranga é significativa. O saguão do espaço é marcado pela representação de esculturas de bandeirantes, como Manuel Preto, Raposo Tavares e Fernão Dias. Dessa forma, até seu fechamento, em 2013, essas presenças eram incontestes, representadas como pilares do desenvolvimento de nossa Nação. No entanto, nove anos depois, embora permaneçam em seus locais de destaque, as imagens já são apresentadas sob um outro olhar de reflexão proposto pela curadoria de Paulo Garcez Marin.
Rustoff acredita que todo este movimento é um exemplo de como a arte contemporânea é capaz de repensar a história e a representação de personagens históricos. O artista pondera que o questionamento da colonização, do “herói da nação”, está se dando ao redor de todo o mundo. E situa que a arte tem um papel educativo, lúdico, que pode educar por meio da fantasia.
“Acredito que podemos transformar o mundo através da arte. Ela atinge lugares que a palavra não consegue alcançar. Ela nos modifica de uma maneira que sequer imaginamos ser possível. Então temos o poder de criar uma imagem que gera reflexão. Olha só como é emblemático ter uma obra com uma paisagem suburbana, periférica, no Museu do Ipiranga, que até agora somente representava a colonização”, conclui o artista.