Além da função cultural, o Projeto Grande Hotel Revive o Choro, conhecido por todos como Chorinho, tem como ideia ocupar a cidade. O evento é realizado pela Prefeitura de Goiânia e busca criar uma mobilização no Centro, região cujo apelo em termos de lazer e entretenimento decaiu nas últimas décadas.
Segundo o produtor cultural que organiza o Chorinho, Carlos Brandão, os shows às sextas-feiras à noite provam que o Centro da cidade pode ser revitalizado. As apresentações ocorrem em frente ao Grande Hotel, na esquina da Avenida Goiás com a Rua 3.
“O Chorinho mostra que o Centro de Goiânia é viável. Mostra que o público gosta daqui. Que é viável se tiver bons bares e restaurantes à noite, se a Prefeitura der subsídios para as pessoas se instalarem aqui, fazer ruas (com funcionamento comercial) 24 horas, por exemplo”, afirmou Brandão.
Segundo ele, os últimos prefeitos que passaram pela cidade não cuidaram dessa revitalização do Centro. “Parece que eles têm medo dos comerciantes, que ocuparam o Centro e colocaram essas placas horrorosas nos prédios Art Déco”, ressaltou.
A história do Chorinho do Grande Hotel
O Chorinho voltou a movimentar o Centro há mais de um ano e chega a reunir mais de 2 mil pessoas por evento. O público é variado. São crianças com os pais, jovens em suas primeiras saídas noturnas sozinhos, pessoas que acabaram de sair do trabalho. Todos com o intuito de ouvir boa música de graça.
Carlos Brandão afirma que o Chorinho ficou quase quatro anos parado “por culpa de secretários de cultura que não conseguiram ou tiveram preguiça de fazer”. Agora, o plano, para médio e longo prazo é manter o Chorinho existindo. “A determinação (de Kleber Adorno, secretário de cultura da Prefeitura) é que o evento aconteça enquanto ele estiver na secretaria”, diz o produtor cultural.
Evento lida com problema de Segurança Pública
Em 9 de fevereiro deste ano um episódio de violência aconteceu depois dos shows do projeto Grande Hotel Vive o Choro. O vendedor Roberto Fonseca, de 39 anos, morreu. Mais duas pessoas ficaram feridas. Para o organizador do Chorinho, Carlos Brandão, o incidente revela a maior dificuldade de realização do evento: estar alinhado com os órgãos de segurança pública.
“Ao mesmo tempo em que tem gente que vai pra lá para criar caso, tem gente que não entende que aquilo é uma festa”, afirma. Carlos Brandão diz saber que a segurança do no local é falha e culpa a Guarda Civil Metropolitana de Goiânia por isso. “O Chorinho é um evento da prefeitura de Goiânia, e a Guarda é quem menos vai até lá”, confirma.
Após a morte de Roberto, o produtor cultural conta que pouca coisa mudou. A Polícia Militar passa em todos os dias do evento, mas segundo Carlos Brandão, não pode ficar o tempo todo.
Samba, choro e MPB no repertório do Chorinho
Neste ano dois shows chamaram a atenção de quem olhou a programação do Chorinho: Boogarins e Carne Doce, bandas goianas que fazem sucesso no Brasil e no mundo. “Não levamos apenas Boogarins e Carne Doce, mas levamos Maria Eugênia, Grace Carvalho, Pádua e outras dezenas de bons artistas da cidade”, diz Carlos Brandão.
Para ele, talvez pelo Boogarins estar na moda entre o público jovem e a imprensa jovem, chame mais atenção. “Mas se as pessoas pesquisarem, os grandes grupos de samba e choro de Goiânia e Brasília, e os grandes cantores de MPB de Goiânia passaram pelo Chorinho”, ressalta.
Segundo Carlos Brandão, a tendência é que a proposta passada pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de Goiânia seja respeitada. Um show de choro, um de MPB e um de samba por noite. “Não pretendo fazer do Chorinho um espaço de rock e/ou pop rock”, afirma.
Cena cultural em Goiânia
Para o também jornalista Carlos Brandão, o problema de Goiânia em termos de produção de eventos culturais os são administrações que se sucedem e não querem dar continuidade no que já existe. É por isso que, na visão dele, o cenário mal evolui.
“A cabeça de Goiânia é que muitos acham que são chefes. Na verdade, você é um funcionário que tem que fazer o Teatro Goiânia, por exemplo, funcionar. Cultura não precisa de chefe, precisa de peão que quer trabalhar. Como diz a música, ‘artista é igual pedreiro’, e acho que a gente tem que acreditar nisso”, concluiu.