Goiânia é uma cidade muito jovem em termos de história. Lá se vão meros 83 anos. Todavia, a nova capital de Goiás aglutinou em meio a sua expansão um bairro que chegou aos 207 anos no dia 8 de julho: Campinas. A então cidadezinha fundada em 1810 serviu de suporte para o progresso abrir ruas, erguer prédios, atrair gente. O bairro guarda os pilares que construíram a identidade do goianiense e eles estão sustentados pela memória dos moradores da região.
Foram as lembranças de campineiros pioneiros que ajudaram o arquiteto Rodolpho Teixeira, de 27 anos, a elaborar o Roteiro Memorial Campineiro. O trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás (UFG) destaca espaços que são patrimônios históricos do bairro ou que têm grande valor afetivo para quem vive ali ao elaborar um roteiro urbano.
O estudante propôs intervenções para a valorização de seis pontos: a Praça Joaquim Lúcio, a Praça da Matriz, o Estádio Antônio Accioly, o Mercado de Campinas, o Cine Campinas e Avenida Bahia (atualmente, Rua Alberto Miguel). Se o projeto de Rodolpho fosse colocado em prática, goianienses e turistas caminhariam por áreas de convivência amplas, cheias de verde, pensadas para melhorar a qualidade de vida na região.
O projeto segue o conceito de “acupuntura urbana”, que implica em modificações pontuais em áreas urbanas. Ele também é direcionado ao pedestre. Rodolpho propõe a restauração de alguns pontos, desapropriação de espaços, limitação de estacionamento, alargamento de calçadas e investimento em infraestrutura para reativar a vida noturna do setor. As referências vêm de fora do País.
“É um pouco frustrante que um lugar que fez parte da construção de Goiânia não tenha nenhuma valorização”, afirmou Rodolpho, cuja família morou por anos em Campinas. De fato, fachadas estão cobertas por letreiros, alguns estabelecimentos desapareceram e há poucas indicações de lugares que pesam para a história da cidade. Ao mesmo tempo, a memória está ali, até mesmo “na forma de se relacionar (do campineiro)”.
Rodolpho considera que as mudanças propostas por seu trabalho são extravagantes. Por isso, a ideia ainda não deu qualquer passo além da academia. “Teria de haver um estudo de trânsito, mudar as vias de alguma forma, elevar as calçadas e fazer ruas compartilhadas em que o carro fosse elemento secundário”, ponderou.
Conheça a história dos espaços que estão no roteiro
Ainda que o Roteiro Memorial Campineiro não saia do papel, os seis lugares escolhidos pelo arquiteto Rodolpho Teixeira para sua elaboração têm muita representatividade para a região de Campinas e podem valer uma visita. Desta vez, talvez seja possível enxergar além dos letreiros do forte comércio local, que brigarão por sua atenção, ou das modificações que ocorreram ao longo do tempo.
Praça Joaquim Lúcio
A Praça Joaquim Lúcio chamava-se Praça do Jardim e era um polo social do setor, onde os campineiros se reuniam para flertar. Atualmente, há vários moradores de rua no local. Eles se aglomeram em torno do coreto, que não abriga qualquer atividade pública ou comercial. O coreto foi reconstruído na praça em 2002. Ele segue o modelo original de 1931.
Mercado de Campinas
Fundado em 1954 por Venerando de Freitas Borges, o primeiro prefeito de Goiânia, o Mercado de Campinas era o centro distribuidor de produtos de alimentação. Passou por ampla reforma durante os anos 2000. Ainda é um local de tradições e com ótimas opções gastronômicas.
Praça da Matriz
É a primeira praça de Campinas e abrigava a capela, demolida na década de 1950 para dar lugar a Igreja Matriz. O local é cercado pelas construções históricas da Campininha das Flores, como o Colégio Santa Clara e o antigo seminário – Centro Cultural Gustav Ritter.
Avenida Bahia (Rua Alberto Miguel)
Era a rua que abrigava a vida noturna, a boemia e os bordéis. Na época da construção de Goiânia e até a década de 1970, o lugar ainda conservava estas características. A mudança de nome de Avenida Bahia para Rua Alberto Miguel estaria relacionada a uma “higienização moral”. Hoje, a maioria do comércio é destinado a vestuário e bijuterias.
Estádio Antônio Accioly
Construído em 1937, leva o nome de seu fundador. Já foi palco de aniversários, bailes, eventos e, claro, jogos de futebol. Em outra época do esporte, jogadores e torcedores se reuniam em um bar logo em frente ao estádio, o Bar Fiore. O lugar não existe mais. Atualmente, o Antônio Accioly é utilizado pelas categorias de base do Atlético Goianiense.
Cine Campinas
O Cine Campinas ficava na Avenida 24 de Outubro, entre as ruas Jaraguá e Quintino Bocaiuva, onde atualmente há uma loja da Casas Bahia. É um edifício que perdeu completamente a configuração original. O lugar era frequentado por jovens e intelectuais. O Bar do Chico, que ficava nas redondezas era o local para se reunir antes das sessões.