Fabrício Nobre é o nome à frente do Festival Bananada, cuja 20ª edição começa nesta segunda-feira (7/5) e vai até domingo (13/5). O produtor cultural tem uma banda (MQN) e roda o mundo para falar sobre a cena alternativa de Goiânia.
Em entrevista ao Aproveite a cidade, ele compartilhou sua percepção sobre os 20 anos de festival e as mudanças do cenário cultural da capital. Com um jeito despojado, Fabrício recebeu o #teamaproveite no Coletivo Centopeia, no Setor Sul, em Goiânia, onde o Bananada é pensado ao longo do ano.
“A gente está brigando para chegar ao maior público possível para que o Festival seja sustentável. Estamos fazendo um Bananada para representar a cidade como um todo. A gente tem essa pretensão de conectar a cidade da maneira mais abrangente possível”, afirma Fabrício Nobre.
O Bananada é o maior festival da música alternativa de Goiás, respeitado em todo o País. Nesta edição, os shows principais do final de semana acontecem no Shopping Passeio das Águas pela primeira vez, depois de alguns anos tendo o Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON) como cenário. O restante da programação povoa casas de shows parceiras do evento.
O propósito é ocupar Goiânia com uma programação repleta de cultura alternativa na maior parte do tempo. “O que a gente tenta fazer no Bananada é fazer tudo de uma vez. Para que as pessoas não tenham para onde correr, e percebam uma forma ostensiva dessa ocupação, sabe?!”, conta Fabrício Nobre.
O Festival reunirá nomes como Gilberto Gil, Pablo Vittar, Emicida, BaianaSystem, KL Jay, Rincón Sapiência, Boogarins, Nação Zumbi, Lee Ranaldo e Meridians Brothers. Tem ainda diversas bandas de Goiás e estrangeiras. São mais de 100 apresentações. Confira a programação AQUI!
O público do Festival Bananada e como o evento é pensado
Para Fabrício Nobre, retirando música sertaneja, o Festival Bananada consegue andar por quase todas as vertentes da música. Ele acredita que o público que frequenta o evento é a prova disso.“A gente consegue ir das Orquestras aos grupos de Jazz, passando por funk carioca, eletrônico, heavy-metal, trash, indie. Eu consigo chegar num aspecto musical mais abrangente possível, […] no que diz respeito a programação de música. E o público é a cara disso”, avalia.
O público também é bem diverso em termos econômicos e comportamentais. Os ingressos variam entre R$20 a $200 reais. Mas ainda assim, há quem fique de fora. “Por isso fizemos uma ação como a com o Hemocentro em 2017. (As pessoas que doavam sangue ganhavam ingresso para um dia do festival.) Temos um dia com um preço muito acessível neste ano, que é a quinta-feira (R$20)”, diz.
Fabrício Nobre aponta que existem as pessoas que são fãs de música alternativa e que acompanham o festival desde o começo. Tem ainda aqueles que apenas reclamam na internet, mas não participam da experiência física do Bananada. “Fica enchendo o saco e postando, mas não vai. Mas também é público do Festival e participa.”
Durante muito tempo, os frequentadores do evento tinham majoritariamente entre 18 anos e 25 anos. Mas uma pesquisa realizada no ano passado mostra que a faixa etária dominante agora vai de 24 anos até 32 anos. “É uma galera que participou dos últimos festivais, que já participou no Martim Cererê, no Jóquei ou no Niemeyer, e que entendeu essa coisa de ocupar a cidade como um todo, e que é mais presente”, afirma.
Além disso, as mulheres dominam a plateia. Foram 61% do público em 2017. E isso se repete na produção do evento. Elas também são maioria. “A equipe liderada pela produtora Dai Dias pensa com a cabeça do conforto para as mulheres. Também temos um espaço para as crianças”.
Contraponto ao mainstream sertanejo
O Festival Bananada, o Vaca Amarela e o Goiânia Noise, na visão de Fabrício Nobre, são ações de contraponto à cultura hegemônica do mainstream sertanejo, pelo qual Goiás é bastante reconhecido. Eventos como estes determinaram uma grande diferença de vivência para quem tem menos de 25 anos, em relação à geração anterior. Se eles não quiserem ir a Exposição Agropecuária de Goiânia, eles conseguem. “Tem gente que nem sabe onde fica”, diz.
“Na minha geração inteira era obrigatória a participação nos eventos sertanejos da cidade. Não tem ninguém da minha idade que nunca foi na Pecuária. Não tem ninguém da minha idade que nunca participou de um rodeio “Cowboy do asfalto”, ou que não foi dançar no Voice Karaokê ou no Pirâmide (Bares antigos de Goiânia), uma coisa bem sertanejo urbanóide forçado goianiense”, ponderou.
Fabrício conclui que os jovens que buscam o circuito cultural alternativo já foram em todas as baladas como El Club, Metropolis e Diablo várias e várias vezes. “A pessoa tem todos os discos do Boogarins, mas nem sabem quem é Rick & Renner”, diz. Ele vê esta pluralidade de cenários e acesso à manifestações culturais de maneira positiva.
Fatores que mudaram o cenário cultural de Goiânia
Fabrício Nobre acredita nas últimas duas décadas foi ampliado o acesso a uma cultura que não era unicamente a mainstream. Ele avalia que vários fatores trouxeram ao momento atual e que a transformação é global. A internet facilitou o acesso ao cenário alternativo de rock, eletrônico, hip hop.
“Mas também que não dá para dizer que a nossa turma não estava o tempo inteiro lidando com isso, trazendo bandas, por exemplo”, afirma o produtor cultural analisando os desafios de consolidar um festival de música alternativa em Goiânia. “Nós vamos fazer um evento que vai vir Gilberto Gil por que ele quer vir tocar. A gente vai chamar qualquer artista brasileiro e eles vão querer”, diz orgulhoso.
O produtor relata que o Festival Bananada abre oportunidades para ele e para Goiânia. “Vem gente de fora para ver como a gente desenvolveu a tecnologia para fazermos isso (o Festival Bananada). E eu vou passar um ano inteiro em palestras para falar como faz isso. Eu fui para a Palestina falar sobre a cena de Goiânia. E isso é muito doido.”
Bananada ocorre em shopping pela 1ª vez
Segundo Fabrício Nobre, já existia ‘uma paquera’ há 3 ou 4 anos com o shopping Passeio das Águas para que o Festival Bananada ocorresse no local. “O (Centro Cultural Oscar Niemeyer) CCON é lindo, maravilhoso, legal pra caralho, a fotografia dele é incrível, mas a estrutura física e a gestão do espaço não são profissionais o bastante para receber eventos do tamanho do local. Eu sei por que eu já fui gestor em uma secretaria em que estava o Niemeyer”, diz.
Para Fabrício a gestão pública não consegue acompanhar o ritmo profissional de nível internacional como o que o Bananada exige. Contudo, ele afirma que o local é ideal para receber o Festival em Goiânia se ele estivesse em funcionamento. “A gente não sabe como vai ser a estrutura do Passeio das Águas na prática, mas até agora o atendimento é incrível, a gestão é profissional”, atestou. Também há liberdade de alterações estruturais. Algo impensável no CCON.