O ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações na chamada minuta do golpe, segundo declarou o tenente-coronel Mauro Cid em depoimento prestado nesta segunda-feira (9) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O encontro entre os dois ocorreu pouco antes do início dos interrogatórios no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Interrogatório do STF

Cid foi o primeiro dos oito réus a ser ouvido. Ele firmou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal e confirmou os principais pontos da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo o militar, Bolsonaro teve acesso à chamada “minuta do golpe”, um documento que propunha medidas autoritárias para reverter o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com Cid, o ex-presidente leu e chegou a sugerir alterações no conteúdo do texto. Uma das mudanças solicitadas teria sido a retirada de trechos que previam a prisão de autoridades, entre elas o próprio Alexandre de Moraes, que presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época, além de ministros do STF e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD).
O documento, segundo Mauro, era dividido em três partes: os “considerandos”, com críticas ao STF e ao TSE; uma base jurídica que citava decretos de estado de defesa e de sítio; e a proposta de convocação de novas eleições, com base na anulação do pleito de 2022.
Cid afirmou ainda ter participado de duas a três reuniões em que o conteúdo da minuta foi debatido diretamente com Bolsonaro. O objetivo, disse ele, era construir uma justificativa legal para impedir a posse do presidente eleito.
Veja o momento da declaração:
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Oitivas
As oitivas desta segunda-feira fazem parte da ação penal que mira o núcleo considerado central na suposta tentativa de golpe.
A investigação aponta que o grupo teria atuado na elaboração e articulação de medidas para evitar a posse de Lula.
Além de Bolsonaro, estão entre os réus nomes como o ex-diretor da Abin e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.