Um cemitério de mais de 200 anos foi encontrado durante obras de restauração da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Jaraguá, na região central de Goiás.
Cerca de 150 sepultamentos foram encontrados no local. Segundo os arqueólogos, os restos mortais encontrados são possivelmente de africanos escravizados e negros libertos.
Segundo a secretária do Estado da Cultura, Yara Nunes, a descoberta é importante para a história de Goiás.
“É uma descoberta importantíssima para a história de Jaraguá e do estado de Goiás, pois nos permite resgatar a memória histórica de um período significativo para a formação cultural. Este achado não só reforça a importância da preservação do patrimônio material e imaterial, mas também nos conecta com as raízes de nossa história”, ressaltou.
Descoberta de cemitério de mais de 200 anos em Goiás
A obra foi iniciada em abril deste ano, pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult), e está prevista para ser concluída em 2025. O investimento foi de mais de R$ 3,5 milhões. A descoberta das ossadas aconteceu durante as escavações para a implantação de um sistema de drenagem.
Em novembro, foram exumadas 35 ossadas sob o calçamento externo e centenas de outros túmulos foram identificados. Também foram revelados dentro da igreja, com a remoção do piso de madeira, 56 campas funerárias numeradas. Segundo os arqueólogos, há cerca de 150 sepultamentos nas laterais, no fundo e no pátio frontal da igreja.
“Tem um sepultamento atravessado embaixo da escada da igreja, então quer dizer que aquela escada não é tão antiga, não é a original da construção. Em alguns locais a gente encontrou sobreposição de esqueleto, ou seja, existia o uso contínuo dessas covas,” conta o arqueólogo responsável pelo projeto arqueológico da obra, Wagner Magalhães.
Agora, as ossadas serão retiradas para passar por estudo em laboratório, a fim de descobrir informações sobre sexo e faixa etária. Posteriormente, será feito um levantamento histórico com base nos registros de batismo e morte. Entretanto, nem todas as ossadas serão retiradas, devido as péssimas condições de preservação, especialmente pelo solo úmido, fazendo com que os ossos fiquem fracos e esfarelados.
“Foi um trabalho surpreendente não só porque é inédito, mas é uma coisa que está mexendo com a memória. Quem eram essas pessoas? Apesar de não ter a história completa, a gente tem uma ideia do que aconteceu ali”, ressalta a arqueóloga Elaine Alencastro.
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, erguida em 1776 pela irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, reflete uma prática comum da época: a construção de templos voltados exclusivamente para a população negra.
Os sepultamentos descobertos no local têm sido vinculados a pessoas escravizadas e negros libertos que dedicavam sua fé a Nossa Senhora do Rosário.