Depressão, estresse, ansiedade, síndrome do pânico, síndrome de burnout, transtornos alimentares… esses são apenas alguns dos desafios que os trabalhadores enfrentam no ambiente de trabalho, onde a busca incessante por produtividade muitas vezes sacrifica a qualidade de vida.
Em meio a pressões por resultados e prazos cada vez mais curtos, muitos profissionais sentem o peso de uma rotina marcada por metas e cobranças, que, ao priorizarem apenas os lucros, podem desconsiderar o bem-estar humano.
Esse contexto desafiador também se reflete nos altos índices de acidentes ocupacionais. Dados do sistema eSocial do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que, em 2023, foram registrados 499.955 acidentes de trabalho, resultando em 2.888 casos fatais.
Diante desse cenário desafiador, o Sistema Indústria tem se destacado como um agente de mudanças fundamental para a vida dos goianos, implementando iniciativas que promovem o desenvolvimento econômico, a qualificação profissional e oportunidades que visam não apenas o crescimento econômico, mas também a valorização da saúde e do bem-estar dos trabalhadores.
Atuando por meio da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG), do Serviço Social da Indústria (SESI), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o sistema trabalha para fortalecer a economia local, capacitar profissionais e impulsionar o desenvolvimento tecnológico.
Através da Rede de Ensino SESI e SENAI, o Sistema Indústria oferece muito mais do que apenas formação técnica: promove uma educação voltada para a saúde e segurança no ambiente de trabalho, preparando os profissionais para atuar com responsabilidade e autocuidado.
Com uma abordagem que integra conhecimento técnico e práticas de segurança, essas iniciativas contribuem para ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis, ajudando a combater problemas físicos e emocionais e promovendo uma mão de obra qualificada, produtiva e, sobretudo, valorizada.
De acordo com o diretor de Saúde e Segurança do Trabalho do Sesi, Bruno Godinho, o SESI atua diretamente com levantamentos que permitem a tomada de decisões para prevenir a saúde do trabalhador, que inclui a produção de laudos técnicos de condições e ambiente de trabalho e periculosidade.
“O SESI também faz todo esse trabalho que é bastante minucioso com equipe de engenheiros, segurança totalmente fundamentada, com equipamentos de última geração e calibrados para a gente chegar no critério máximo de eficiência e precisão em reconhecer o que pode ou não adoecer aquele time, aquela equipe de trabalho, justamente para prevenir o adoecimento.”, destaca.
“Prevenir é um ato de amor à vida e à qualidade de vida do trabalhador”, Bruno Godinho, diretor de Saúde e Segurança do Trabalho do Sesi.
24 horas por dia, 7 dias por semana: a jornada exaustiva
A ansiedade e a depressão são consideradas como os grandes males do século pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Junto a elas, associa-se o burnout, condição de extrema exaustão emocional e física, associada ao estresse prolongado, que também tem atingido níveis alarmantes.
“Os problemas relacionados à saúde mental, ou seja, os riscos psicossociais, são a terceira maior causa de afastamento do trabalho. E como esse dado muitas vezes é subnotificado, há uma grande chance deles já terem tomado uma posição mais alta nesse pódio.
Então a gente está passando por uma epidemia de saúde mental, principalmente após a pandemia, diante de tantas mudanças nos modelos de trabalho, surgimento de novas doenças e uma instabilidade geral da nossa sociedade, que tem acarretado maior incidência de ansiedade.”, explica o diretor de Saúde e Segurança do Trabalho do Sesi, Bruno Godinho.
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social, apontam que o número de afastamentos por burnout aumentou 136% em quatro anos, passando de 178, em 2019, para 421, em 2023. Este é o maior considerando os últimos dez anos no Brasil.
Um estudo conduzido pelo relator especial da ONU sobre Pobreza e Direitos Humanos, Olivier De Schutter, aponta que a busca incessante pelo crescimento econômico e a precarização das condições de trabalho têm intensificado uma verdadeira “pandemia de saúde mental”.
Em seu relatório, intitulado “Economia do Burnout: Pobreza e Saúde Mental”, De Schutter ressalta que a insegurança no emprego e as condições laborais precárias representam uma grande fonte de transtornos mentais.
Uma jovem, de 27 anos, que optou por não ser identificada, mas que mora na capital goiana há 15 anos, relata que já sofreu com ansiedade associada ao trabalho. A constante busca por entrega, cobranças e prazos apertados, fez com que ela sofresse as consequências mentais.
“Cheguei em um ponto de não conseguir dormir, interagir com outras pessoas, pois estava sempre pensando em trabalho, nas entregas que tinha para fazer. A cobrança superior era demais. Parece que eu trabalhava 24 horas por dia, nos 7 dias da semana, não descansava a mente, o que afetava tudo. Eu senti na pele o que é ter este tipo de problema.”, conta.
O relatório De Schutter ainda detalha que mais de 970 milhões de pessoas — o equivalente a 11% da população mundial — vivem com algum tipo de transtorno mental, sendo a depressão e a ansiedade os mais prevalentes, com 280 milhões e 301 milhões de casos, respectivamente.
A falta de apoio e os desafios enfrentados no tratamento desses transtornos resultam em uma alarmante estatística: cerca de 700 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano, sendo o suicídio a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, aponta o relatório.
“Hoje o Brasil é o país com maior incidência de ansiedade do mundo e maior incidência de depressão. Hoje o Brasil é o segundo maior em depressão na América Latina. Tem também o burnout, que é o esgotamento do trabalho, e o próprio suicídio vem chegando com dados bastante alarmantes.”, complementa Godinho.
O diretor também ressalta que um novo problema tem surgido e afetado a vida dos trabalhadores: as bets, famosas plataformas de apostas online.
“Tem agora, por exemplo, com o avanço das bets, dos cassinos, dos jogos de azar, a ludopatia, que é o vício em jogos de azar, que também é um problema de ordem mental, comportamental.”, explica.
Para auxiliar as empresas goianas a manter a saúde mental dos trabalhadores, o diretor de Saúde e Segurança do Trabalho do Sesi detalha que o Sistema Indústria tem uma série de soluções, atuando de forma constante, com projetos práticos que ajudam na melhoria do ambiente de trabalho.
“Temos o atendimento com um psicólogo nas nossas unidades e também podemos levar um psicólogo para dentro da empresa, para fazer o trabalho lá. Temos ainda um serviço de assessoria e consultoria em psicossocial, na qual a gente ajuda a empresa a construir os seus procedimentos operacionais, seus padrões, suas regras de ouro, tudo que envolve a saúde mental. Então a gente ensina a empresa e seus trabalhadores como eles devem agir diante de uma ocorrência de saúde mental.”, enfatiza.
Conforme o diretor, outra ação é a criação de uma brigada de emergência psicossocial, para atuar em situações graves e inesperadas, como o trabalhador estar em pânico ou em luto.
“Então, a equipe do SESI pode capacitar a empresa para ela tratar esse assunto, ou a equipe do SESI pode assumir e fazer esse acompanhamento, esse protocolo, essa linha de cuidado numa primeira abordagem com esse trabalhador.”.
Godinho também detalha que há um programa de desenvolvimento de líderes sobre saúde mental.
“A liderança tem que ter um papel indutor dessa transformação na saúde e, para isso, a liderança deve conhecer sobre saúde mental, pois ajuda ela a se tratar para prevenir nela o surgimento de qualquer problema e também na sua equipe.”
A modernização da rede também auxilia nessa prevenção. Segundo Godinho, há uma série de tecnologias preparadas para as empresas e o trabalhador.
“Temos uma série de ações educativas, palestras, teatros, intervenções e games interativos. Temos um aplicativo também com ações educativas e o Mend360, que é uma plataforma que faz o mapeamento populacional da empresa, indicando quais são os setores e qual é o nível de potenciais e riscos que aquela empresa tem de ter uma depressão, ansiedade e já informando aos seus trabalhadores quais são as linhas de cuidado que eles devem fazer para minimizar os impactos nocivos de problemas de saúde mental.”, ressalta.
Inovações em segurança e saúde: investimentos em tecnologias para prevenção e capacitação
O Serviço Social da Indústria (SESI), no decorrer de sete décadas tem investido permanentemente na modernização e expansão de sua rede de ensino, aprimorado seu modelo de gestão e ampliado a oferta de diversas ações, programas e consultorias voltados para a oferta de serviços, sobretudo nas áreas da educação, saúde e segurança do trabalhador.
Atualmente, a Rede de Ensino SESI e SENAI está presente nos principais polos produtivos de Goiás, em que executa investimentos na casa de R$ 1 bilhão.
Segundo Godinho, os investimentos do SESI em inovações são fundamentais para aprimorar a segurança e o bem-estar no ambiente de trabalho. Ele salienta que o objetivo é manter um ambiente seguro para que pessoas estejam mais saudáveis para que se possam tornar trabalhadores mais produtivos para as empresas ficarem mais competitivas.
“O SESI não para de trazer inovações, o próprio serviço de prevenção e combate a Ludopatia, que é um serviço novo, é uma inovação. A gente trouxe recentemente também a realidade virtual para as nossas capacitações nas normas regulamentadoras, que estabelece protocolos de segurança em trabalho em altura e espaço confinado.
O próprio Mend360, que é revolucionária; o AST, que é uma outra plataforma que afere a avaliação de segurança e saúde do trabalhador da indústria, que indica dimensões como o engajamento, cultura de segurança e a qualidade de vida, a saúde do trabalhador. Então é outra inovação que a gente traz.
A gente não para de inovar, estamos trazendo uma série de outras tecnologias que vão apoiar cada vez mais as empresas na prevenção dos acidentes e na promoção da saúde do seu trabalhador.”, finaliza.